Goleiro adota sobrenome de ídolo após defender pênalti de Dinamite
Até hoje ele carrega no nome a maior façanha de sua vida. Não é para menos. O garoto Neto, de 20 anos, era um goleiro promissor, recém-saído das categorias de base do Botafogo-PB, quando ficou frente a frente com um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro.
Isso foi há exatos 21 anos. Para promover o Torneio Início do Campeonato Paraibano de 1991, o já extinto Guarabira convidou Roberto Dinamite para jogar a competição, que aconteceu no estádio da cidade, o Sílvio Porto. Na época, o atacante estava sem time, depois de jogar o Campeonato Brasileiro de 1989 pela Portuguesa e o Carioca de 1990 pelo Campo Grande.
E logo na primeira partida do Torneio Início, o Guarabira enfrentava o Nacional de Cabedelo, tradicional saco-de-pancadas do futebol paraibano. Dois tempos de quinze minutos, a torcida gritando o nome de Roberto. Aos cinco minutos, veio o lance que mudou para sempre a história de Neto: pênalti para o Guarabira. Roberto ajeitou a bola como fizera tantas vezes na carreira. Bateu ao seu estilo, um tiro forte, seco. Só não esperava que Neto fizesse a defesa.
- Nunca imaginei viver uma situação daquela. Estava ali diante de um dos maiores jogadores do futebol brasileiro e defendendo um pênalti. É claro que fiquei emocionado - lembra Neto, que a partir desse momento passou a ser conhecido como Neto Dinamite.
O jogo prosseguiu e Roberto teve mais uma chance de fazer um gol - numa falta cobrada no ângulo. Mais uma vez Neto fez a defesa. O empate em 0 a 0 acabou levando a decisão para os pênaltis - e mais uma vez Neto e Roberto cara a cara.
- Ele chegou para mim e disse. Vou bater no mesmo canto e você não vai pegar. Ele bateu e eu cheguei a tocar na bola, que bateu na trave e entrou. Mas ali a torcida já estava gritando o meu nome.
Roberto Dinamite confirma as histórias de Neto. Mesmo sem tantos detalhes, o hoje presidente do Vasco da Gama recorda do Torneio Início disputado em Guarabira.
- Fui convidado para participar da festa e aceitei. Lembro que houve sim esse pênalti e o rapaz (Neto) foi bem, conseguiu defender - resumiu.
O Guarabira não foi muito longe no Torneio Início de 1991. Acabou sendo eliminado no jogo seguinte, pelo Campinense - o campeão acabou sendo o Botafogo. Terminava assim a única passagem de Roberto Dinamite pelo futebol paraibano. E começava a história de Neto Dinamite, para sempre \"o goleiro que parou Roberto\".
Nacional de Cabedelo abriu as portas
Neto Dinamite começou a carreira nas divisões de base do Botafogo-PB. E não era qualquer um. Destaque do time que ganhou tudo até chegar aos profissionais (foi campeão paraibano infantil, juvenil e júnior). O problema é que quando subiu aos profissionais, no início da década de 90, encontrou uma concorrência grande.
- Eu era o terceiro goleiro. Pedrinho e Silvar eram dois grandes goleiros, ídolos da torcida. Por isso o clube achou melhor me emprestar - disse Neto.
Era o destino mais uma vez trabalhando a favor de Neto. O time escolhido para o garoto ganhar experiência foi justamente o Nacional de Cabedelo. O duelo com Roberto Dinamite, no Torneio Início, era a estreia de Neto. E até hoje o momento mais marcante de sua vida.
- É claro que vivi outras experiências no futebol. Mas sem dúvida aquele pênalti foi um momento especial - destaca.
Tanto que o goleiro lembra até hoje o time do Nacional de 1991:
- Era uma formação diferente. A gente só jogava com um volante, o Lúcio, que depois virou secretário de Esportes de Cabedelo. O meio campo tinha o Maurício (Cabedelo), que hoje é técnico aqui na Paraíba. E jogávamos com três atacantes, um ponta direita, um centroavante e um ponta esquerda.
O time do Nacional de Cabedelo que enfrentou Roberto Dinamite no Torneio Início foi este: Neto, Chiquinho, Almir, Pepe e Ramos; Lúcio, Inglês e Maurício Cabedelo; Cal, Lima e Gildo.
Neto se recorda, no entanto, de um outro momento inesquecível em sua carreira. E mais uma vez, o Vasco entrou em sua história - não o carioca, mas sim o sergipano.
- Fui campeão do Campeonato Sergipano da 2ª Divisão pelo Vasco, em 1996. Foi outro momento importante na minha carreira. Ao lado do pênalti defendido do Roberto, foram as duas coisas mais marcantes na minha vida - dispara o goleiro.
Neto perambulou por vários clubes pequenos do Nordeste. Na Paraíba, jogou ainda no Auto Esporte, Santa Cruz de Santa Rita e o Santos de Tereré. Vestiu também as camisas de Estudantes de Timbaúba, Parnamirim, Vasco-SE, Corinthians-AL e Cruzeiro-AL.
O apelido
Neto nunca se incomodou em incorporar o apelido Dinamite. Pelo contrário. Sempre foi marca de orgulho por lembrar o maior feito de sua carreira. Ironicamente, ele sempre teve o atacante vascaíno como um adversário.
- Quando criança era torcedor do Flamengo e vi várias vezes Roberto marcar gols contra o meu time. Nunca imaginei um dia enfrentá-lo - reconheceu.
O apelido foi dado por uma dupla de radialistas paraibanos que transmitia o Torneio Início de 1991. Assim que o goleiro defendeu a cobrança do pênalti, passaram a chamá-lo de Neto Dinamite.
- Isso foi coisa do (repórter) João de Souza e do (comentarista) Ivan Bezerra. Eles passaram a me chamar de Dinamite desde aquela época e o apelido pegou - lembra Neto, se referindo aos dois radialistas que até hoje militam na Rádio Tabajara.
Roberto Dinamite feliz com a \"homenagem\" do goleiro
Ao saber que até hoje Neto leva o sobrenome Dinamite, Roberto se mostrou surpreso, mas aceitou a \"homenagem\".
- Fico feliz em saber que a minha vida profissional acabou trazendo momentos importantes para algumas pessoas. Tenho certeza de que foi uma tarde inesquecível para ele. O que posso desejar hoje é que seja feliz na profissão dele - emendou Roberto Dinamite, que logo depois de jogar na Paraíba foi recontratado pelo Vasco e, ainda como jogador, foi campeão carioca invicto de 1992, então com 38 anos.
Os elogios do hoje presidente vascaíno emocionam Neto, que retribui na mesma moeda.
- Roberto está fazendo um grande trabalho no Vasco, prova disso é que o time é um dos favoritos ao título do Campeonato Brasileiro. Que ele continue assim - disse o Dinamite paraibano.
Roberto encerrou a carreira em 1993, num amistoso entre Vasco x La Coruña, num Maracanã lotado e tendo Zico como convidado especial vestindo a única vez na vida a camisa vascaína. Sem a mesma pompa, Neto pendurou as chuteiras no modesto Santos de Tereré, na Paraíba. Virou treinador de goleiro. Em três anos, já passou por CSP, Botafogo e hoje está no Auto Esporte. É uma carreira nova, mas com o brilho de quem se orgulha do nome que tem.
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