Futebol

Saiba como Juninho Pernambucano se preparou para o Clássico

Após o treino de terça-feira, Felipe se aproxima das grades que separam o campo da arquibancada em São Januário onde está a torcida do Vasco. Assina algumas camisetas e escuta:

- Felipe, cadê o Juninho? - grita uma voz fina de adolescente.

Vem Dedé para a grade. Atencioso, distribui sorrisos e posa para fotos. Enquanto dá autógrafos, o torcedor insiste:

- Dedé, Dedé, cadê o Juninho?

Felipe é um grande ídolo do Vasco. Dedé é xodó do momento, o cara da Seleção. Mas os gritos do estudante Lucas Silenciano mostram a devoção dos vascaínos pelo Reizinho. Juninho está noutro patamar no coração da torcida. Pelos títulos do passado, pelo amor declarado ao Vasco, por voltar ao clube ganhando salário mínimo, ele é o mais badalado. Lucas, 12 anos, morador do Acre, não viu o jogador naquele dia. O craque estava de folga.

Aos 36 anos, Juninho voltou em junho e não fez exigências. Gosta de ser tratado igual aos demais. Mas, no fundo, ele é diferente. Os funcionários o tratam com reverência. Não cansam de trazer camisetas para ele assinar. A comissão técnica dedica atenção especial. A carga de trabalho é discutida ponto a ponto. Não que ele tenha regalias. Pelo contrário, é um dos mais dedicados nos treinos, mas tem autonomia para avaliar o que fazer.

Antes do coletivo de quarta-feira, enquanto todos faziam flexão no chão, ele conversava com o preparador físico. Depois do treino com bola, no entanto, ficou fazendo ziguezague sozinho em cones. Um torcedor gritou o nome dele e cruzou os braços sobre a cabeça. Juninho olhou e deu um sorriso meio sem graça, demostrando que naquele momento era hora de trabalho. Para dormir bem, não havia comparecido ao show no dia anterior com músicos vascaínos pelos 113 anos do clube. É metódico com horários e rigoroso com a saúde.

Apesar da paixão pelo Vasco, o craque parece estar sem paciência para tietagem. Ele atendeu a torcida somente na quarta. Parou na grade e ouviu uma menina:

- Dá um sorriso, Juninho.

Ele mostrou os dentes rapidamente, deu quatro autógrafos e saiu. Os colegas dizem que é concentração. Experiente, conhece como poucos a importância do clássico deste domingo.

Juninho recebe salário mínimo e tem um contrato de exploração da imagem diferente dos demais jogadores, nos moldes de outras estrelas como Ronaldinho e Luis Fabiano. Esse contrato ajuda a compor sua renda mensal.

PREPARAÇÃO

Atleta discute exercícios

Aos 36 anos, obcecado com a forma física, o jogador tem autonomia para avaliar o que é melhor na sua preparação. Não tem regalias nos treinos, mas tem liberdade para se poupar quando considerar necessário.

FAIXA DE CAPITÃO

Chegou e pegou a faixa

Como Ronaldinho, Juninho ganhou a faixa de capitão logo no retorno ao clube. O nome, a ligação com o Vasco e a experiência do jogador \"forçaram\" essa decisão como consenso entre jogadores e o técnico Ricardo Gomes.

RELAÇÃO COM COMISSÃO

Opinião do craque tem peso

Quando joga time misto, Juninho é consultado se prefere jogar ou não. A decisão é de Ricardo Gomes, claro, mas opinião dele costuma ser levada em conta na hora de escalação. Ele também discute com a comissão a parte técnica do time.

Semana do Reizinho

Musculação
Autor do gol do dia anterior, Juninho não treina com bola. Cruza o gramado de tênis para ir à academia. Acena para torcida, mas não dá autógrafo. Depois, dá entrevista coletiva e evita responder as perguntas sobre o passado.

Folga
Juninho não é visto em campo por torcedores e jornalistas. Um repórter chega a divulgar que ele é dúvida para o clássico. No fim da manhã, a assessoria de imprensa informa que ele está de folga e por isso não está em São Januário.

Coletivo
É um dos primeiros a chegar ao treino. No aquecimento, parece se poupar. Após o coletivo, fica treinando sozinho a parte física. Na saída, atende quatro torcedores entre dezenas que o esperam.

Físico
Fora do grupo que viajou a São Paulo, ele e outros 11 jogadores treinam a parte física pela manhã. Metódico, é o único que usa relógio para controlar o próprio tempo nos exercícios. À tarde, passeia em um shopping.

Mais academia
Mesmo sem ter enfrentado o Palmeiras, se une ao grupo que jogou para um treino físico regenerativo. Para frustração da torcida, mais uma vez não aparece em campo. É um dos primeiros a deixar São Januário.

Recreativo
Participa de todo o recreativo, o que não é comum. Como é véspera de clássico, há mais torcedores no treino do que o normal. Na saída, mais uma vez Juninho só acena para a torcida, mas não dá autógrafos.

Fonte: Lancenet!