Rubens Lopes diz que o Vasco não reclamou do campo do Bangu
No gabinete da suntuosa sede da Federação de Futebol do Rio, o presidente tem, sobre a mesa, o DVD \"Faltas contra o Botafogo\", para rebater reclamação alvinegra. O Fluminense reclamou do campo do Bangu? Rubinho mandou editar o DVD \"Gols perdidos pelo Fluminense\", segundo ele, \"para ver se é culpa do buraco\". O Flamengo reclamou de faltas violentas? Ele saca o \"Lances violentos do Flamengo\". Admitindo que o Estadual deve mudar, acusa os grandes de depreciar o torneio.
Não lhe parece claro que o Campeonato Carioca precisa mudar?
RUBENS LOPES: Não tenho dúvida que algo precisa ser revisto. E este é o motivo do Conselho Arbitral de amanhã (hoje). Mas as mudanças precisam ser feitas após um estudo, um diagnóstico preciso. Contratamos um instituto de pesquisa para ter o tratamento adequado.
Mas qual o sintoma da doença?
RUBENS LOPES: A falta de público nos estádios. Precisamos entender o fenômeno. Um fator a gente exclui: o desinteresse pelo futebol. Na hora dos jogos, bares estão cheios e o pay-per-view cresce. Algo acontece para as pessoas não irem ao estádio.
Como será a pesquisa e quando estará pronta?
RUBENS LOPES: Será uma pesquisa de opinião, respondida pelo torcedor. Por exemplo: falam que jogar às 22h é ruim. Vamos saber o quanto isto impacta. Não dá para tratar as coisas pelo \"eu acho\". Queremos dados concretos e em 10 dias teremos o resultado.
Então será feito um Arbitral sem diagnóstico?
RUBENS LOPES: Sim, mas será importante se aceitar a necessidade de rever o processo. Nem que seja para concluir que não precisa mudar nada. Mas ninguém pode ignorar que o público não está no estádio, embora não seja fenômeno só do Estadual. Em 2011, o Fluminense, que é quem mais reclama, jogou mais de 70% dos jogos do primeiro turno do Brasileiro com menos de 7 mil pagantes. Em 2009, quase 30% dos jogos do Brasileiro tiveram menos de 10 mil pessoas. Em 2010 e 2011, mais de 30%. É o preço do ingresso? Também precisa ser revisto. Com jogos toda quarta e domingo, é difícil. E tem clube que deprecia o campeonato. Olha, tem estádios de difícil acesso, o horário não favorece, a TV passa ao vivo e o clube ainda diz que vai usar reservas. É como avisar ao torcedor: \"Não vai que eu não vou\".
É bom para o Rio ter clubes na Libertadores. Não dá para encontrar uma fórmula que evite que, pelo desgaste, eles usem reservas no Estadual?
RUBENS LOPES: Usam times alternativos porque querem. As datas não são coincidentes. Daqui a Buenos Aires é mais perto do que daqui a Belém. O clube deveria ter a consciência de avisar: \"Neste campeonato não vou pôr titulares e não vou reclamar, porque estou recebendo para jogar, mas o campo é ruim, a despesa do Engenhão é alta, o jogo é às 22h e meus artistas não vão\". E depois não reclama que o público não vai. Não é justo depreciar o campeonato e depois reclamar do público. E mais: por causa das cotas de TV, no Estadual eles ganham mais do que na Libertadores que, financeiramente, só é boa para quem vai às finais.
Os clubes pedem a redução do número de clubes e de jogos...
RUBENS LOPES: Primeiro, precisamos ter certeza de que é isso que influencia na presença de público. Não sei. O Brasileiro de 44 clubes teve média de público maior do que com 20. E os clubes esquecem que eles receberam uma importância da TV para aumentar o número de clubes. O aumento foi em função dos grandes porque no modelo de 12 clubes, frequentemente um pequeno ia à semifinal. Eles concordaram com o aumento e fizeram um contrato oferecendo 23 datas à TV. Se reduzir, vão ganhar menos? Vão querer? A TV vai concordar em pagar por 23 e receber menos? Não sei.
Dizem que o senhor é contra por questões políticas...
RUBENS LOPES: Uma coisa é certa: em 2013 não acontece nada, o regulamento diz que sobem dois e descem dois. Se as pesquisas provarem que este é o problema, eu defendo. O colégio eleitoral da Federação inclui todos os clubes, de todas as divisões, as ligas. Ter três ou quatro clubes a menos na Série A não vai influenciar eleição. É delírio.
Mas com menos clubes e jogos, talvez os clubes usem titulares...
RUBENS LOPES: Não sei. Por que não defendem a redução de outros campeonatos? Por que não pedem à CBF um Brasileiro de outro modelo?
Então o senhor acha que os clubes grandes são os culpados?
RUBENS LOPES: Não colocaria toda culpa neles, seria injusto. O problema é depreciar o produto. Neste Estadual, o Fluminense foi mestre em fazer isso.
No mundo globalizado, o público quer grandes duelos. Isto não esvazia os Estaduais?
RUBENS LOPES: Mas a nossa fórmula é a melhor do país. O Rio tem o melhor Estadual do Brasil, com seis a oito jogos decisivos. A média de público dos clássicos regionais é maior do que a média dos clássicos nacionais do Brasileiro. Porque os clássicos decidem no Estadual. Agora, o fechamento do Maracanã provocou queda de público. Tem a questão do transporte, não tem lugar para estacionar, em alguns estádios custa R$ 25 para estacionar. O torcedor vai ver um espetáculo em que o artista não é atraente, vai passar na TV, e o preço pesa. Ele vai escolher. Olha quantos fatores podem ter influência. Cada um com seu percentual.
O cuidado com os estádios não deve ser maior? Abel reclamou do estádio do Americano...
RUBENS LOPES: Claro, mas o Fluminense tem mania de reclamar de tudo. E tudo que ele reclama nunca vai acontecer no campo do Fluminense. Por quê? Não tem campo. Não tiro a razão do Abel. Estranho que tenha reclamado de forma inadequada. Na hora que detectou, deveria ter chamado um representante da Federação. Em relação ao campo do Bangu não procede reclamação.
O campo do Bangu não é ruim?
RUBENS LOPES: Visualmente, porque tem tipos diferentes de grama. Mas precisa pisar lá...
Mas os jogadores reclamam...
RUBENS LOPES: Alguns. O Vasco não reclamou. Só Loco Abreu reclamou. É preciso achar muleta para insucesso. [Nota do SuperVasco: Foi em Moça Bonita que o jogador Carlos Tenorio, sozinho, se contundiu gravemente, rompendo completamente o tendão-de-aquiles do pé direito,tendo, inclusive, que ser submetido a cirurgia. Tenorio ficará de cinco a seis meses parado]
Mas um jovem vê diariamente jogos da Europa. De repente vê o campo do Bangu. Ele vai se desinteressar pelo Estadual?
RUBENS LOPES: Só se ele for Bangu. Na TV passam também jogos em São Januário, Macaé, Engenhão. Muito mais jogos em campos melhores.
Mas modernamente a exigência não é maior? Não há mais espaço para folclore, alçapão...
RUBENS LOPES: Claro que sim. Os clubes grandes devem ter este entendimento. A conta não fecha. O Fluminense ganha R$ 500 mil por jogo (da TV), dez vezes mais do que os pequenos. Para que a qualidade dos atores seja melhor, é preciso melhor distribuição de recursos. E o campeonato deveria ser mais bem remunerado pela TV, já que passa no maior número de estados.
Que nota dá para o Estadual?
RUBENS LOPES: Nota 7, para passar de ano. O campeonato não é ruim, há coisas que influenciam nele. Por mim, ninguém jogaria 22h. Dizem que o Engenhão já encheu às 22h. Sim, com o Flamengo na Libertadores. O torcedor sai do trabalho e tem que ficar zanzando na rua até o estádio abrir, sai meia-noite com medo de pegar trem, o estacionamento custa R$ 25. Ele diz: \"Não vou\". O ingresso podia ter preço revisto, com setores populares e áreas vips.
Como avalia o encontro com o novo presidente da CBF?
RUBENS LOPES: Foi um encontro social. Acho que a convocação dos clubes do Rio só se deu pela vinda dos clubes do São Paulo. Até porque já temos muito paulista... Ele falou que vai estar aberto a todos. Um discurso político.
O senhor teme um domínio político de São Paulo?
RUBENS LOPES: O país todo deve se preocupar. A CBF não pode privilegiar este ou aquele estado. Temos que dizer isso ao presidente e nos insurgir contra o que não for nesta diretriz.
Defende novas eleições?
RUBENS LOPES: É preciso ser legalista. O estatuto da CBF diz que na ausência do presidente, \"A\" deve assumir. Ponto. Marin é o legítimo presidente. Conceitual e filosoficamente, deveria haver eleição. A prorrogação do mandato foi específica ao Ricardo Teixeira para não haver descontinuidade em função da Copa de 2014. Se ele saiu, o motivo acabou. Mas Marin está lá legalmente. Se agir com neutralidade, terá apoio. Se não, terá resistência. Não podemos admitir interferência de pessoas alheias à CBF.
O senhor fala do presidente da Federação Paulista...
RUBENS LOPES: Não quero falar de ninguém. Qualquer presidente da CBF tem que assumir a presidência. Se quiser, pode ter um conselheiro. Mas o conselheiro não pode ter superioridade hierárquica. E a CBF não pode ter subordinação a alguém que não tem cargo. Se não, vamos nos insurgir.
Esta sede é suntuosa. A Ferj, assim como a CBF, está rica?
RUBENS LOPES: É questão de gestão. Se administra bem, não gasta mais do que a receita...
Quais são as receitas?
RUBENS LOPES: Percentual nas rendas e contratos, inclusive TV (a Ferj recebe 10% do contrato de TV, 10% das rendas do Estadual e Libertadores e 5% da renda do Brasileiro).
Quais são as despesas?
RUBENS LOPES: Uma delas é esta sede. Não é suntuosa, é adequada à importância do Rio. Os clubes têm que ter orgulho da sede. A Fifa e a Conmebol são assim. Temos custo de pessoal e até auxílio aos clubes. Aos menores e maiores. Há clubes maiores que se socorrem da federação. A Federação é credora de clube grande, não digo qual nem quanto. E todos cumprem seus compromissos.