Roberto Dinamite fala sobre a Seleção: Faltou concentração aos jogadores
Jorge Benjor já filosofava numa de suas canções: \"ganha quem sabe perder, e perde quem não sabe ganhar. Por isso, você precisa aprender a jogar\". Essa história de ganhar ou perder, jogando feio ou bonito, é mesmo relativa. Na Copa do Mundo da Alemanha, a seleção de 1982 ilustrava o discurso dos adeptos do futebol de resultados de que o fundamental é ganhar, não importando como.
Para eles, aquele time de Telê Santana jogou bonito, mas não foi a lugar algum. O zagueiro Oscar, titular em 1982, sai em defesa da tese contrária:
- No dia em que o Brasil perdeu para a França, um porteiro de hotel correu para me dizer que, em 1982, ele chorou de tristeza, porque torceu muito por aquele time. Já a filha dele, contou o rapaz, chorou de raiva, pela forma como o Brasil perdeu agora.
A seleção de 82 foi alvo de críticas do time do Brasil na Copa de 2006. O técnico Carlos Alberto Parreira, por exemplo, não foi tão explícito, mas deu o seu recado:
- A história não fala dos times que deram shows. Fala dos que chegaram às finais e que foram campeões.
Cafu foi menos sutil ao ser perguntado qual a seleção havia jogado mais bonito:
- A de 82, mas só para vocês, porque o Brasil não ganhou. Esse negócio de dar espetáculo é muito relativo. O importante é a vitória.
A questão é que muita gente gosta da seleção de 1982, a começar pelos seus jogadores, que se referem àquela equipe com o maior orgulho. Em entrevista ao GLOBO antes de o Brasil perder, o ex-craque e atual comentarista Falcão deu uma declaração que vista sob a perspectiva do gol da França que eliminou o Brasil soa no mínimo curiosa.
- Antes do jogo contra a Itália (em 1982), alertei para os riscos daquela partida. Mas além de jogar, nosso time brigava pela bola. Todo mundo pegava. No terceiro gol, tínhamos dez jogadores atrás da linha da bola - afirmou Falcão, numa alusão ao gol de Paolo Rossi que tirou o Brasil do Mundial da Espanha.
Zico se expressa de outra forma sobre o assunto:
- A gente não pode fazer comparação com a seleção de 1982. Em 1982, a seleção não saiu daqui favorita como esta. Não tinha os 11 jogadores já definidos. Passou à condição de favorita na competição. Foi uma seleção que lutou e fez o possível, mas perdeu para a campeã, a Itália.
O eterno ídolo rubro-negro põe a bola no chão ao falar de futebol-arte:
- Nós não entrávamos para jogar bonito. Jogávamos o que o técnico pedia. Não estávamos lá para nos exibir. E num dia em que as coisas não funcionaram, fomos eliminados. Esperava-se mais desta seleção de 2006. Eles chegaram lá como favoritos por méritos próprios.
Lateral esquerdo do time de 1982, Júnior também enriquece o debate com categoria:
- Para se fazer um jogo diferenciado, e não um futebol de espetáculo, é preciso você demonstrar individual e taticamente um jogo que agrade a quem está no estádio, a quem está vendo pela TV ou comentando a partida. Não é chegar lá e dar lençol, caneta, não é isso. Mas é uma série de valores. Hoje, 24 anos depois, as pessoas ainda falam bem da seleção de 1982. Na Alemanha, as pessoas me reconheceram, não por ter ido às Olimpíadas ou por ter jogado pelo Torino (da Itália), mas por causa da seleção de 1982.
Ao mesmo tempo que exibe categoria, Júnior não perdeu reflexo nas divididas:
- Houve um mau planejamento na Copa, um mau planejamento tático e um pouco de prepotência.
Vale a pena também ler o que Roberto Dinamite, maior ídolo do Vasco, reserva em 1982, afirmou sobre o tema:
- Em 1994, Parreira armou uma equipe defensivamente forte, mas valeu o talento do jogador brasileiro. Romário e Bebeto fizeram a diferença. Estavam numa fase excepcional. Em 2002, a seleção era boa, mas Ronaldo (Fenômeno) e Rivaldo fizeram a diferença. Este ano de 2006, as esperanças eram os dois Ronaldos, e o Ronaldinho Gaúcho era a esperança maior pelo que vinha fazendo, por
ter sido por dois anos seguidos o melhor jogador do mundo. Nossa seleção funcionou bem defensivamente, mas com os homens de frente não funcionando, perde-se 90% (das chances).
A opinião de Dinamite é mais explosiva quando comenta o clima do time de Parreira:
- Antes da Copa, a seleção brasileira parecia muito alegre, o que era bom, mas parecia pouco concentrada. Os jogadores pareciam achar que a coisa iria acontecer naturalmente, mas para isso tem de se buscar (resultados). Não quero julgar, mas as cenas (antes do jogo, no acesso ao campo) da entrada do jogo Brasil x França foi a imagem de que os jogadores não estavam concentrados no mais importante.
Para Roberto, amigos, amigos, disputas à parte:
- Não joguei uma final na Copa do Mundo, mas joguei muitas decisões, entre Vasco e Flamengo por exemplo. Mesmo eu e Zico sendo amigos, não dava para nós ficarmos brincando antes do jogo. Você pode ser amigo do outro jogador no clube, mas ali tem de se desligar da amizade e se concentrar no jogo. Esse excesso de confraternização tira um pouco a concentração.
Parreira, de certa forma, mordeu a língua ao falar que só os times vencedores ou que chegam à final ficam na história. A seleção de 1982 está no imaginário de muita gente. Jorge Benjor traz outra lição no título da canção citada lá em cima: \"Quem cochicha o rabo espicha\".