Futebol
José Maria Fidélis dos Santos, o Touro Sentado, foi craque em uma época em que o futebol não era sinônimo de fama e fortuna. Lateral-direito entre 1961 e 1981, foi bicampeão carioca por Bangu (1966) e Vasco (1970), onde também ganhou um Campeonato Brasileiro (1974). Foi eleito o melhor lateral-direito do futebol carioca por quatro anos seguidos e disputou a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, revezando posição com Djalma Santos e barrando Carlos Alberto Torres.
Mas o tempo passou e, com ele, veio o esquecimento. Morando no Rio de Janeiro, com 68 anos, Fidélis descobriu um câncer no estômago em abril deste ano. Diz ter procurado ajuda durante seis meses com medalhões do Vasco da Gama, como o deputado federal Roberto Dinamite, seu colega de clube na conquista do Brasileiro de 1984. Sem sucesso.
Quinze dias atrás, veio a ajuda. Enquanto Fidélis buscava apoio na Cidade Maravilhosa, sua família, que mora em São José dos Campos, interior de São Paulo (cidade natal de Fidélis), decidiu buscar o último clube pelo qual Fidélis jogou e onde o Touro Sentado estreou como treinador: o São José Esporte Clube, que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista. A diretoria da Águia aceitou ajudar. Custeou a vinda de Fidélis para a casa da família, no bairro Jardim Santa Inês I e conseguiu atendimento nas redes pública e privada de saúde.
Durante sua carreira, Fidélis foi um jogador polêmico. Nunca foi conhecido por faltar a treinos, ir à festas ou treinar alcoolizado, o que era comum em sua época de jogador. Seu problema era outro: amava demais o futebol e detestava perder. No jogo do gol 1.000 de Pelé, foi flagrado pisando na marca da cal para tentar atrapalhar a cobrança. Não deu certo.
Após a Copa de 1966, na Inglaterra, voltou acusando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de vender resultados (nada nunca foi provado sobre isso). Neste Mundial, o Brasil foi eliminado ainda na primeira fase, após perder por 3 a 1 para Portugal. Por este comportamento, diz que nunca mais foi convocado e acabou ficando fora da Copa de 1970, no México, que terminou com o tricampeonato mundial.
- A Copa de 1966 foi na base do cambalacho. Quando cheguei ao Brasil, fui chamado pela CBF e me perguntaram o que andei falando sobre o resultado para a imprensa. Eu mantive o que disse. Nunca me calei diante do que achei errado.
Índio indomável
O apelido, de Touro Sentado, veio devido à semelhança física com o histórico líder indígena americano, que comandou e derrotou um exército de 3.500 índios contra uma frotaamericana, em 1830. Depois disso, passou a ser perseguido e se entregou. Em liberdade, passou a fazer parte dos espetáculos de Buffalo Bill, famoso pistoleiro americano.
Com 1,75m, Fidélis era veloz e \"sabia aguentar pancada\". Foi revelado para o futebol aos 13 anos, quando jogava futebol amador nos campos de terra de São José dos Campos. Foi em um destes jogos, em 1957, que o tenente Cavalcanti, carioca que atuava na Base da Aeronáutica em São José, lhe viu jogar. Com influência no Bangu, que à época competia de igual para igual com os grandes cariocas, o tenente levou Fidélis para um teste. O lateral-direito foi aprovado na hora. Estreou no futebol profissional em 1961, aos 17 anos.
- Nessa época, era chamado de avião, pois corria da beira do campo até a ponta sem ninguém me pegar. Me machuquei apenas duas vezes em toda minha carreira e sem gravidade. Jogava no mesmo estilo do Cafú. Naquele tempo, zagueiros batiam muito, mas eu era forte e sabia evitar a pancada.
Amizade com Pelé
O chute na marca do cal não expressa nenhuma rivalidade com o rei do futebol. Pelo contrário. Fidélis lembra com carinho das vezes em que atuou ao lado de Pelé. O Touro Sentado disputou oito jogos pela Seleção Canarinho, em todos eles, Pelé estava presente.
- Era um dos meus melhores amigos. Em campo, a gente se entendia. Joguei poucas vezes contra ele e não tive de marcá-lo. Acabava sendo função de outros zagueiros - lembra.
Em comum com Pelé, Fidélis diz que havia o comprometimento. O lateral-direito era perfeccionista e, depois dos treinos, ficava uma hora treinando cruzamentos.
- Conheceu o Cafu? Tem o meu estilo de jogo. Depois do treino, eu cruzava pelo menos 100 bolas para praticar. Infelizmente, hoje não tem mais lateral-direito no futebol. Na minha época, sobravam boas opções - analisa.
Aversão ao mar
Fidélis é apaixonado pelo futebol carioca até hoje. Jogou no Bangu até a Copa do Mundo de 1966 e depois, foi para o Vasco, onde ficou outros sete anos. Além do Gigante da Colina, também teve uma passagem rápida pelo América-RJ. Aprendeu a amar o Rio de Janeiro e tudo que a cidade oferecia, com exceção de uma coisinha: o mar.
- Se quiser água salgada, pego um balde de água com sal e jogo na cabeça. Praia é só de noite, para sentar no quiosque, comer um peixinho e tomar uma cervejinha - diz em meio às risadas o ex-jogador e ex-técnico.
Mesmo viajando pelo país por cerca de 20 anos - período em que parou de jogar e se tornou técnico por diversas equipes do Brasil - após deixar de vez o futebol, Fidélis voltou para sua casa no bairro Campo Grande e se casou com Maria das Graças de Paula, com 51 anos. Tem cinco filhos, sendo dois deles com Maria das Graças. O mais novo tem 11 anos e ficou no Rio de Janeiro, na casa de parentes, enquanto o pai encara a luta contra o câncer. Após duas semanas longe da \"odiada\" praia, a saudade da Cidade Maravilhosa começa a bater...
- Só de pensar que meu filho mais novo está lá, longe da mãe e do pai. Queria voltar, mas aqui tenho tudo o que preciso. Estou mais forte agora, tenho consultas agendadas. No Rio de Janeiro, sem ajuda, tive de enfrentar filas enormes e não consegui atendimento.
Segundo a família, Fidélis veio para São José muito fraco e está aumentando sua resistência para conseguir passar por uma cirurgia para a retirada do tumor. No início de dezembro, ele passará por uma tomografia que poderá mostrar a gravidade do tumor.
Vasco promete contato
Procurada, a assessoria de imprensa do Vasco disse que foi procurada e ofereceu tratamento, mas a família do atleta teria preferido ir para São Paulo. Segundo a nota enviada ao GLOBOESPORTE.COM, ainda nesta semana, o presidente Roberto Dinamite fará um novo contato com Fidélis para oferecer auxílio médico. Fonte: ge
Ex-lateral do Vasco luta contra câncer e o abandono
José Maria Fidélis dos Santos, o Touro Sentado, foi craque em uma época em que o futebol não era sinônimo de fama e fortuna. Lateral-direito entre 1961 e 1981, foi bicampeão carioca por Bangu (1966) e Vasco (1970), onde também ganhou um Campeonato Brasileiro (1974). Foi eleito o melhor lateral-direito do futebol carioca por quatro anos seguidos e disputou a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, revezando posição com Djalma Santos e barrando Carlos Alberto Torres.
Mas o tempo passou e, com ele, veio o esquecimento. Morando no Rio de Janeiro, com 68 anos, Fidélis descobriu um câncer no estômago em abril deste ano. Diz ter procurado ajuda durante seis meses com medalhões do Vasco da Gama, como o deputado federal Roberto Dinamite, seu colega de clube na conquista do Brasileiro de 1984. Sem sucesso.
Quinze dias atrás, veio a ajuda. Enquanto Fidélis buscava apoio na Cidade Maravilhosa, sua família, que mora em São José dos Campos, interior de São Paulo (cidade natal de Fidélis), decidiu buscar o último clube pelo qual Fidélis jogou e onde o Touro Sentado estreou como treinador: o São José Esporte Clube, que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista. A diretoria da Águia aceitou ajudar. Custeou a vinda de Fidélis para a casa da família, no bairro Jardim Santa Inês I e conseguiu atendimento nas redes pública e privada de saúde.
Durante sua carreira, Fidélis foi um jogador polêmico. Nunca foi conhecido por faltar a treinos, ir à festas ou treinar alcoolizado, o que era comum em sua época de jogador. Seu problema era outro: amava demais o futebol e detestava perder. No jogo do gol 1.000 de Pelé, foi flagrado pisando na marca da cal para tentar atrapalhar a cobrança. Não deu certo.
Após a Copa de 1966, na Inglaterra, voltou acusando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de vender resultados (nada nunca foi provado sobre isso). Neste Mundial, o Brasil foi eliminado ainda na primeira fase, após perder por 3 a 1 para Portugal. Por este comportamento, diz que nunca mais foi convocado e acabou ficando fora da Copa de 1970, no México, que terminou com o tricampeonato mundial.
- A Copa de 1966 foi na base do cambalacho. Quando cheguei ao Brasil, fui chamado pela CBF e me perguntaram o que andei falando sobre o resultado para a imprensa. Eu mantive o que disse. Nunca me calei diante do que achei errado.
Índio indomável
O apelido, de Touro Sentado, veio devido à semelhança física com o histórico líder indígena americano, que comandou e derrotou um exército de 3.500 índios contra uma frotaamericana, em 1830. Depois disso, passou a ser perseguido e se entregou. Em liberdade, passou a fazer parte dos espetáculos de Buffalo Bill, famoso pistoleiro americano.
Com 1,75m, Fidélis era veloz e \"sabia aguentar pancada\". Foi revelado para o futebol aos 13 anos, quando jogava futebol amador nos campos de terra de São José dos Campos. Foi em um destes jogos, em 1957, que o tenente Cavalcanti, carioca que atuava na Base da Aeronáutica em São José, lhe viu jogar. Com influência no Bangu, que à época competia de igual para igual com os grandes cariocas, o tenente levou Fidélis para um teste. O lateral-direito foi aprovado na hora. Estreou no futebol profissional em 1961, aos 17 anos.
- Nessa época, era chamado de avião, pois corria da beira do campo até a ponta sem ninguém me pegar. Me machuquei apenas duas vezes em toda minha carreira e sem gravidade. Jogava no mesmo estilo do Cafú. Naquele tempo, zagueiros batiam muito, mas eu era forte e sabia evitar a pancada.
Amizade com Pelé
O chute na marca do cal não expressa nenhuma rivalidade com o rei do futebol. Pelo contrário. Fidélis lembra com carinho das vezes em que atuou ao lado de Pelé. O Touro Sentado disputou oito jogos pela Seleção Canarinho, em todos eles, Pelé estava presente.
- Era um dos meus melhores amigos. Em campo, a gente se entendia. Joguei poucas vezes contra ele e não tive de marcá-lo. Acabava sendo função de outros zagueiros - lembra.
Em comum com Pelé, Fidélis diz que havia o comprometimento. O lateral-direito era perfeccionista e, depois dos treinos, ficava uma hora treinando cruzamentos.
- Conheceu o Cafu? Tem o meu estilo de jogo. Depois do treino, eu cruzava pelo menos 100 bolas para praticar. Infelizmente, hoje não tem mais lateral-direito no futebol. Na minha época, sobravam boas opções - analisa.
Aversão ao mar
Fidélis é apaixonado pelo futebol carioca até hoje. Jogou no Bangu até a Copa do Mundo de 1966 e depois, foi para o Vasco, onde ficou outros sete anos. Além do Gigante da Colina, também teve uma passagem rápida pelo América-RJ. Aprendeu a amar o Rio de Janeiro e tudo que a cidade oferecia, com exceção de uma coisinha: o mar.
- Se quiser água salgada, pego um balde de água com sal e jogo na cabeça. Praia é só de noite, para sentar no quiosque, comer um peixinho e tomar uma cervejinha - diz em meio às risadas o ex-jogador e ex-técnico.
Mesmo viajando pelo país por cerca de 20 anos - período em que parou de jogar e se tornou técnico por diversas equipes do Brasil - após deixar de vez o futebol, Fidélis voltou para sua casa no bairro Campo Grande e se casou com Maria das Graças de Paula, com 51 anos. Tem cinco filhos, sendo dois deles com Maria das Graças. O mais novo tem 11 anos e ficou no Rio de Janeiro, na casa de parentes, enquanto o pai encara a luta contra o câncer. Após duas semanas longe da \"odiada\" praia, a saudade da Cidade Maravilhosa começa a bater...
- Só de pensar que meu filho mais novo está lá, longe da mãe e do pai. Queria voltar, mas aqui tenho tudo o que preciso. Estou mais forte agora, tenho consultas agendadas. No Rio de Janeiro, sem ajuda, tive de enfrentar filas enormes e não consegui atendimento.
Segundo a família, Fidélis veio para São José muito fraco e está aumentando sua resistência para conseguir passar por uma cirurgia para a retirada do tumor. No início de dezembro, ele passará por uma tomografia que poderá mostrar a gravidade do tumor.
Vasco promete contato
Procurada, a assessoria de imprensa do Vasco disse que foi procurada e ofereceu tratamento, mas a família do atleta teria preferido ir para São Paulo. Segundo a nota enviada ao GLOBOESPORTE.COM, ainda nesta semana, o presidente Roberto Dinamite fará um novo contato com Fidélis para oferecer auxílio médico. Fonte: ge
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