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Entrevista: Romário - O próximo desafio, depois do gol mil

Romário acha que ajudou a diminuir o preconceito contra os portadores de Down e, quando pendurar as chuteiras, quer dedicar-se inteiramente à criação de um instituto para crianças carentes que têm a síndrome.

Romário talvez nem saiba que pauteiro é o profissional de imprensa encarregado de sugerir temas para reportagens. Mas bem que mostrou ter jeito para o negócio. Dando uma de pauteiro, foi ele quem fez a sugestão: “O DIA não quer fazer uma entrevista sobre a síndrome de Down?” Pauta aprovada.

Ao sugerir a entrevista, diante da mulher, Isabella, Romário revelava com exclusividade ao ATAQUE qual é o seu próximo desafio, após o milésimo gol: fazer um centro de tratamento para as crianças carentes que são portadoras da síndrome.

“Depois de parar de jogar, vou correr atrás de alguma coisa para as crianças portadoras de Down. Isso vai ocupar 100 por cento da minha vida”, prometeu, enquanto pedia que Isabella fosse até o quarto para pegar Ivy, a filhinha de 2 anos, que, por causa da síndrome, tem hipotireoidismo e luta para perder três de seus 15 quilos.

Hoje, dia internacional da síndrome de Down, ele já vai levantar a bandeira. A convite do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Romário participará de uma audiência no Senado para discutir o assunto.

—Como está o desenvolvimento da Ivy?
—Ela só não gosta de andar por causa da preguiça. A gente dá a mão, ela dá um passinho e senta. Mas já anda pela sala, segurando os móveis.

—Ela fala?
—Sabe pedir... Quando quer alguma coisa, diz ‘dá’. Chama a babá (Eliane) de ‘Nan’, e, a empregada (Doraci), de ‘Dodô’. Mas tá difícil falar papai e mamãe.

—Como é ser pai de uma criança com síndrome de Down?
—Sou um privilegiado porque 90 por cento dessas crianças têm algum problema no coração ou no pulmão. Ela não tem nada.

—Você acompanha a vida de outras crianças com a síndrome?
—É o motivo da minha viagem a Brasília: o dia internacional da síndrome de Down. E, se fizer um gol, vou oferecer a todas as crianças com Down do Brasil. A Isabella acompanha mais do que eu. Vivo somente o dia a dia da nossa filha. Já temos tantos problemas na vida...

—Como é a Ivy?
—Talvez ela seja a mais feliz dos meus seis filhos. Vive rindo. A Ivy ri até de enterro (risos).

—Ela tem apelido?
—Chininha, Princesinha e Gordinha.

Está acima do peso, não é?
—ISABELLA — Até os cinco meses, ela era bem magrinha. Mas começou a engordar...
—ROMÁRIO — E ficou gorduchinha. Pesa 15 quilos!
—ISABELLA — Ela tem hipotireoidismo, o que é normal numa criança Down. Está tomando os remédios, mas não descobrimos ainda porque não perde peso. Ela não é de comer muito.

—Que cuidados vocês devem ter?
—Os mesmos cuidados que temos com os outros filhos. A Bellinha, por exemplo, tem três anos e está muito magra. Queremos que ela engorde. Do mesmo jeito, queremos que a Ivy emagreça dois ou três quilos.

—Ela tem uma rotina normal?
—ISABELLA — Ela faz fisioterapia, fonoaudiologia, natação e, a partir da semana que vem, vai fazer também terapia ocupacional. Tudo isso, duas vezes por semana.
—ROMÁRIO — Ela treina mais que o pai (risos)!!!

—Ela reconhece o pai?
—ROMÁRIO — Lógico! Quando faço gol, ela levanta os bracinhos pra comemorar. Só não sabe dizer ‘gol’. E, outra coisa: ela adora dançar...
—ISABELLA — Não pode ouvir nenhum batuque...

—O que você diz aos pais que, como você, se assustam quando descobrem que têm um filho Down?
—Digo que são crianças especiais e o que a gente tem que dar a elas é amor, atenção, carinho e acompanhamento. Essas coisas fazem com que se sintam socializadas.

—Vocês sentem algum tipo de discriminação à Ivy?
—Não. A novela (‘Páginas da Vida’) ajudou as pessoas a terem uma visão diferente. E, depois do nascimento da Ivy, quando expus a situação para todo mundo, passei a perceber que há mais crianças Down nas escolas, ruas e lugares públicos. Ela nasceu e eu assumi o caso publicamente. E comecei a ver essas crianças nos shoppings e restaurantes. Os pais tinham vergonha, por puro preconceito. Fico feliz por ter contribuído.

—Como foi o aniversário da Ivy?
—ISABELLA — Foi no sábado, mas, por causa do jogo, comemoramos no domingo. Demos uma cama elástica pra ela pular...
—ROMÁRIO — Reunimos irmãos e primos em casa. E, olha, vieram umas 50 pessoas.

—O que você pensa em fazer pelos portadores da síndrome de Down?
—ROMÁRIO — Depois de parar, vou correr atrás de alguma coisa para as crianças portadoras que são carentes. Isso vai ocupar 100 por cento da minha vida. Vou buscar ajuda municipal, estadual, federal ou da iniciativa privada. Meu sonho é fazer um centro de tratamento para essas crianças...
—ISABELLA — Pois é... O tratamento é muito caro...

—Ela, com dois anos, é uma criança grande, não?
—Ela é quase do tamanho da Bellinha, que vai fazer 4 anos em maio. Aliás, até o Romarinho, que era baixinho, deu uma espichada... A Bellinha, sim, vai ser pequenininha como o pai.

Fonte: O Dia