Apesar da negação de parentes, torcedor morto seria ligado a organizada
O torcedor Davi Rocha Lopes, 27 anos, morador de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, morreu neste sábado, vítima de um tiro no tórax após a derrota do Vasco para o Flamengo em São Januário, resultado que desencadeou um cenário de caos dentro e fora do estádio. As fotos e postagens no perfil de Davi em uma rede social indicam que ele fazia parte de uma torcida organizada do Vasco, o que é negado pela família.
Consultada, a assessoria da Polícia Civil, que conduz a apuração, informou por email que busca imagens de câmeras de segurança e procura determinar de onde partiu o disparo para averiguar armas de policiais.
- A DH foi acionada pelo policial do plantão do Hospital Souza Aguiar. Imediatamente mandou uma equipe para o HSA, que fez o levantamento das vítimas atingidas e iniciou as investigações. Sobre as armas dos PMs, ainda será necessário saber de onde partiram os disparos, após ouvir os envolvidos como policiais, testemunhas e as vítimas sobreviventes. Neste momento, equipes da DH tentam obter imagens de câmeras da região para auxiliar na investigação - explicou a assessoria da PCERJ.
Como é possível perceber em comentários nos seus posts em redes sociais, Davi era conhecido por Jacaré. Também em publicações na internet demonstra grande carinho por familiares. Uma das pessoas na rede de contatos do torcedor conversou rapidamente com a reportagem e se limitou a dizer:
- Davi era um cara super show de bola, o cara mais incrível que eu já conheci.
Ela informou ainda que o torcedor estava desempregado. O seu perfil indica que trabalha ou já trabalhou para a Prefeitura do Rio de Janeiro. O link da Prefeitura no qual é feita essa menção leva para uma página não oficial na qual o primeiro post traz uma foto com os dizeres: "A violência é o último refúgio do incompetente". Mas, em post em rede social, Davi posa com um amigo e comenta: "União sinistra Jacaré e Cão de Briga quem tentar tá maluco" (sic).
Outro amigo de Davi, Fábio Galante, postou também na rede social: "Descansa em paz meu mano jacaré, pow quem vai zuar comigo no carnaval, quem vai me chamar de cachaça agora e as suas danças kkkkkk 😟meus sentimentos aos familiares..." (sic). Em contato com a reportagem, Galante disse:
- Só tenho a dizer que era um cara bom é que só vivia rindo, dançando, fazendo graça, zoando e buscando sempre fazer amizade... E foi isso aí que vc viu nos comentários, mas já falaram que foi a polícia que fez os disparos.
A família do torcedor, contudo, em entrevista ao G1, negou que ele fizesse parte de torcida organizada. Foi o que afirmou o irmão dele, Carlos. Davi trabalhava como ajudante de eletricista.
- Em jogo ele ia, mas não frequentemente. Ele assistia normalmente, gostava de futebol mas não era torcedor recorrente - disse o irmão da vítima.
A confusão em São Januário
Durante toda a partida no sábado em São Januário, entre Vasco e Flamengo, torcedores do clube da casa brigaram entre si, em pequenas confusões espalhadas pela arquibancada. Com a derrota do time da casa, a confusão se tornou generalizada. Houve tentativa de invasão em massa do gramado, troca de bombas entre torcedores e policiais militares que estavam dentro do gramado, ameaças a jornalistas, vidros quebrados e muita correria.
A partir daí, o caos se instaurou no lado de fora do estádio. Grandes grupos de torcedores partiam com garrafas e pedras para cima dos policiais na rua, que respondiam com bombas de efeito moral e balas de borracha. Quando tentavam se refugiar novamente dentro do estádio, os grupos encontravam o Gepe, que repelia a entrada. Torcedores que tentavam se esconder da confusão ficavam sem saber para onde ir, incluindo pessoas com crianças no colo.
Do lado de fora, diversas vezes a reportagem foi abordada por policiais para não ficar em determinado local e buscar maior proteção pois ainda havia risco. Sons de tiros foram ouvidos - e confirmados com policiais - quando a reportagem se posicionava ao lado do bloqueio que impedia acesso à rua pela qual sairia a torcida rubro-negra, liberada muito depois do fim do jogo.
Isso ocorreu logo após a partida de três viaturas do Batalhão de Choque, em alta velocidade, passando pelo bloqueio sob gritos de "choque", rumo a ruas próximas. Não há informações, no entanto, sobre qual foi a atuação da tropa de choque naquele momento.
Pelo chão, um rastro de destruição. Cartuchos, garrafas quebradas, bombas já utilizadas, pedras maiores que uma mão aberta e notória tensão do efetivo presente. Saldo final: muitos feridos e uma vítima fatal, Davi Rocha Lopes. Mais um fim de semana de tragédia no futebol carioca.
Em nota em seu site, a Polícia Militar exlplicou sua atuação no clássico:
"As ações da Corporação começaram às 9h, numa ação conjunta com a Secretaria Estadual de Ordem Pública (SEOP) para a repressão do comércio irregular na parte externa ao estádio.
O efetivo citado pelo Delegado da partida refere-se apenas ao policiamento interno do estádio. Foram empenhados 220 policiais na parte interna e 200 na parte externa, sem contar os apoios enviados ao final da partida.
O Vasco cumpriu o previsto na Portaria do Ministério dos Esportes e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para realização da partida em São Januário.
A torcida do Flamengo foi escoltada pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (GEPE) antes do início da partida e após o final do jogo. Não ocorrendo confrontos entre torcidas rivais na parte externa ou no interior do estádio.
A revista para entrada dos torcedores ao estádio é de responsabilidade do clube, que possui funcionários destinados a isso em todos os pontos de acesso. O GEPE supervisiona a revista.
A confusão começou ao final da partida, entre as torcidas organizadas do Vasco.
Assim que terminou o jogo, os conflitos internos começaram. O Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) foi acionado para São Januário.
A maior preocupação da Corporação era retirada das pessoas do estádio e o controle do tumulto provocado pelos torcedores.
Na parte externa nossos policias foram atacados com o lançamento de garrafas e pedras por torcedores do Vasco, onde foi necessário a intervenção do BPChq, da Cavalaria e do 4ºBPM.
Em relação ao tumulto generalizado iniciado na Rua do Bonfim, que acarretou na morte de um torcedor e o ferimento de mais três, a Corporação aguarda perícia e apuração por parte da Polícia Civil. Paralelamente a isso, o Comando da Corporação, através do 4ºBPM instaurou procedimento para apurar as condutas dos policiais.
Brigas entre torcedores do Vasco são recorrentes neste Campeonato Brasileiro, principalmente, em São Januário. Esse fato já foi relatado nas súmulas e, até o momento, o clube não foi punido (tendo sido absolvido em audiência semana passada)".