Futebol

Antônio Lopes, Carlos Germano e Pedrinho relembram a conquista da Libertador

Em entrevista à Rádio Lance, o técnico Antônio Lopes, que deixou o comando do Vasco no dia 7 de agosto, falou sobre a conquista da Taça Libertadores da América de 1998, que completa dez anos nesta terça-feira.

PONTO CHAVE
"Foi um time que começamos a formar quando chegamos no Vasco da Gama em final de 96. Chegamos no final do Campeonato Brasileiro de 96. O Vasco estava ali naquela zona, perto da zona de rebaixamento. Conseguimos nos manter na primeira divisão, recomeçamos o trabalho no início do ano de 97, e fomos, ao longo de 97 e 98, formando esse time. Já em 97 rendeu frutos o trabalho. Conseguimos ganhar o Campeonato Brasileiro e ficamos como vice-campeões no Estado do Rio de Janeiro - perdemos para o Botafogo. Em 98 então, com um time bem equilibrado e bem formado, que levou praticamente dois anos para se formar, o Vasco conquistou brilhantemente a Libertadores - o maior título que o Vasco da Gama tem na sua história. Acho que um time bom, que decidiu a Libertadores na semifinal da competição, ganhando do River [Plate], que era o bicho-papão da época. O River tinha um excelente time. O Vasco da Gama conseguiu desbancar o River, ganhando aqui no Rio de Janeiro de 1 a 0 e empatando lá em Buenos Aires de 1 a 1. Chegamos à final com o Barcelona de Guayaquil. O Barcelona não era tão bom quanto o River, mas sabíamos... Agora como aconteceu nessa Olimpíada. Todo mundo sabe que a decisão da Olimpíada foi entre Brasil e Argentina. O Brasil perdeu para a Argentina e certamente a Argentina vai ser campeã da Olimpíada [a entrevista foi concedida antes da final, ganha pela Argentina por 1 a 0 contra a Nigéria, em Pequim, na China]. Foi o que aconteceu. O Vasco da Gama em 98 enfrentou o River, ganhou do River. Sabíamos, tínhamos quase que a certeza. Logicamente, não passamos isso para os jogadores, mas tínhamos a certeza que íamos ganhar a Libertadores. Íamos enfrentar o Barcelona. Conseguimos ganhar no Rio de Janeiro fácil do Barcelona, de 2 a 0, uma boa exibição. Lá em Guayaquil ganhamos também de 2 a 1 e o Vasco conquistou brilhantemente aquela competição".

MESCLA DE JOGADORES
"Acho que foi essa mescla. Fizemos um trabalho a longo prazo, que durou, para se conquistar essa Libertadores, final de 96, o ano de 97, o ano de 98 também. Ficamos no Vasco até 2000. O Vasco ganhou tudo de 97 a 2000. Acho que foi essa mescla, o aproveitamento que fizemos da gurizada da base e a colocação de jogadores experientes, que foram contratados para suprir as carências que o Vasco tinha naquela oportunidade. O Vasco acho que acertou as contratações, contratou os jogadores certos. Em 97 contratamos Mauro Galvão e Evair. Foram dois jogadores que se encaixaram bem. É lógico que tivemos a contratação também de jogadores de médio porte, como foi o Odvan, que veio do Americano, o Nasa, que veio do Madureira. Esses jogadores também se encaixaram perfeitamente na equipe. Em 98 perdemos Evair e Edmundo, mas contratamos dois jogadores certos, de boa qualidade - Luizão e Donizete -, que supriram as ausências do Edmundo e Evair. O Vasco não sentiu nada. Acho que pelo contrário. O Vasco da Gama acertou mais. A parte coletiva do Vasco foi muito boa em 98, o que fez com que o Vasco da Gama ganhasse aquela competição".

RESERVAS E POLIVALÊNCIA
"O Juninho [Pernambucano] justamente saiu da equipe no momento em que ele se contundiu. Tínhamos jogadores à altura no banco e jogadores que desempenhavam várias funções. A gente podia mexer na parte tática da equipe sem trocar os jogadores. O Válber era um jogador que jogava de lateral, volante e zagueiro. O Vágner também era outro jogador que era um bom volante, um primeiro volante bom, jogava bem de segundo volante também. Era um jogador que substituía o Nasa com freqüência. O Válber também substituía à altura o Nasa. O Válber jogava na zaga também e poderia substituir Mauro Galvão, Odvan. Válber e Vágner jogavam nas laterais também, tanto lateral direita como lateral esquerda. O Vágner jogava na lateral direita e o Válber jogava tanto de lateral-direito quanto de lateral-esquerdo. Tínhamos também o Pedrinho, que era quase que titular. O Pedrinho substituía com freqüência não só o Juninho, como também o Ramon. O Vasco tinha esses jogadores que se prestavam a substituir os jogadores certos, como Juninho e Ramon. E não caía. O Vasco não caía de produção. O Vasco se apresentava bem com o Pedrinho, quando entrava no time, o Válber e o Vágner também. Esses eram os principais jogadores que entravam com muita freqüência. O Vasco da Gama mantinha a mesma produtividade nos jogos".

PROVOCAÇÕES ANTES DO JOGO DE VOLTA CONTRA O RIVER PLATE
"Eles achavam que já estavam classificados para a final da competição, da Libertadores. Eles não acreditavam no Vasco da Gama, achavam que o Vasco da Gama havia vencido de um placar muito curto - 1 a 0 em São Januário. Eles achavam que iriam tirar facilmente. Na realidade, o River tinha um time excepcional. Em decorrência do time que eles tinham - um time muito forte e muito bom -, eles achavam, apostavam no River tranqüilamente, jogando no seu reduto. Achavam que eles iam tirar aquela diferença com facilidade e iriam para a final. Chegamos lá antecipadamente e fizemos até o último treinamento - o treinamento de véspera de jogo - lá. Os repórteres só falavam isso, que eles iam ganhar com facilidade. E o próprio treinador [Ramón Díaz]. O treinador era muito marrento. Ele deu várias entrevistas lá antes do jogo dizendo que o River já estava classificado para a final".

LIÇÃO
"Acho que foi um marco dentro da minha carreira e dentro da história no futebol do Vasco da Gama, pelo valor do título. O Vasco não tem um título tão valoroso quanto aquele, apesar de termos conseguido dois vice-campeões do Mundo, de clubes. Mas o Vasco não tem uma conquista igual a aquela, uma conquista brilhante, pelo fato de ter desbancado o River, que era um time de outro planeta na época. Em 98 o River ganhou tudo. Em 98 e 97 tinha um time, na realidade, excepcional. Marcou bem, não só o Vasco, na história do Vasco da Gama. É o título mais valoroso que o Vasco da Gama tem. E na minha carreira também. Tenho um título de pentacampeão, como consultor técnico, diretor técnico da Seleção Brasileira, mas em clube eu reputo esse título do Vasco da Gama como o título maior, mais expressivo da minha carreira".

O ex-goleiro Carlos Germano, que no dia 7 passou a ser o preparador de goleiros do Gigante da Colina, comenta o título.

"Foi uma época boa, em que o Vasco conseguiu manter praticamente a equipe toda de 97. Acho que isso é importante também. Você termina o ano bem, como foi em 97, entra no ano seguinte, sendo uma competição importante como a Libertadores, você consegue manter esse time. Isso é importante. A gente teve a perda na época do Evair e Edmundo, que era a nossa referência de ataque, mas ao mesmo tempo o Vasco trouxe Luizão e Donizete, que praticamente estiveram sempre na frente da artilharia da competição, da Libertadores. Sempre bem e fizeram a diferença também. A espinha dorsal - o meio-campo e a zaga - praticamente o mesmo pessoal. Acho que o mais importante... Acho que ficou marcado mesmo porque a gente já havia conquistado o Estadual e era o ano do centenário do clube. É muito mais emocionante. Essas coisas é que ficam marcadas. O torcedor lembra isso. Na camisa do Vasco tinha o centenário no ombro e o Brasileiro do outro lado. Essas coisas, para o torcedor, acho que não tem nada que pague. No ano do centenário do clube, o clube completando cem anos, você consegue uma conquista importante como essa. Para a gente também ficou marcado e vai ficar para sempre".

GOL DE JUNINHO CONTRA O RIVER PLATE SELAR O TÍTULO
"Claro, porque se o Juninho não fizesse o gol, o jogo terminaria 1 a 0 para o River e a gente iria para os pênaltis. Nos pênaltis você não sabe o que pode acontecer. Queira ou não queira, aquele jogo do River foi praticamente uma final antecipada. \"Não, mas tem o último jogo\". Tem o último jogo, mas você enfrentar um River Plate no Monumental [de Núñez]... Como foi o Fluminense, há uns meses atrás, que ganhou do Boca Juniors mas deixou escapar no jogo fora de casa. O Vasco não, jogou com inteligência".

"Ali eu já sabia que a bola ia ser batida por cima da barreira, porque o Juninho tem essa facilidade de bater essa falta e a bola cair dentro do gol. É uma batida diferente. Não sei como ele consegue fazer aquilo. O Burgos não. O Burgos, como não conhecia, adiantou, achando que ele fosse bater forte, pela distância da bola. O Burgos deu um passo à frente, esperando um chute forte no canto dele. A bola passou por cima da barreira. Quando passou por cima da barreira, não tinha como ele voltar".

BURGOS NÃO ESPERAVA A BOLA NAQUELA VELOCIDADE
"Naquela velocidade e cair como caiu é outra coisa. Ele esperava no canto dele. Pela corrida que o Juninho fez, foi para bater forte, mas ele bate forte daquele jeito. Ele [Burgos] é que não sabia, não acompanhou o Juninho batendo a falta. A bola caiu por trás da barreira. Ele estava na frente, adiantado. Não tinha como ele voltar".

HISTÓRIA CURIOSA
"Acho que a única coisa que ficou marcada assim, que a gente recorda, foi que na véspera do jogo, na semana do jogo da Libertadores contra o Cruzeiro... Era o jogo já de volta aqui, um jogo que decidia, no mata-mata. O Válber sumiu. A gente jogou lá e o Válber sumiu uma semana. Ele era o titular do nosso time. Ninguém sabe onde estava o Válber. De repente ele chega... Não sei se foi em uma terça à noite ou em um sábado à noite e jogar domingo. Não me recordo muito bem. E foi escalado para o outro dia. Não treinou a semana toda, foi escalado, jogou e foi o melhor homem em campo. Era um craque. Na verdade, é um craque. A única coisa assim que me chama a atenção foi essa sumida do Válber. De repente ele aparece um dia antes do jogo, sem treinar, sem nada, joga e fez a diferença para a gente aqui. A gente ganhou no Rio de 2 a 0 e ele foi o melhor homem em campo nosso".

O apoiador Pedrinho que, aos 31 anos (29/06/1977), sonha em retornar ao Vasco, fala sobre a conquista.

PASSOU RÁPIDO
"É, passou rápido. Foi um período muito bom que tivemos ali no Vasco, recordações maravilhosas assim e jogos inesquecíveis. Para mim também é não só o título mais importante do Vasco, mas da minha carreira também. Foi o título mais importante. Tive a oportunidade de fazer os dois gols nas quartas-de-finais, contra o Grêmio lá e em São Januário, dando a passagem assim para o jogo contra o River Plate. Para mim é um momento inesquecível".

VASCO 3X0 GRÊMIO, NA PRIMEIRA FASE
"Acho que esse jogo foi o que deu a confiança realmente para a equipe. A gente sabia que podia ganhar a competição. É uma competição que o Vasco não tinha muita tradição, como o Grêmio tinha. Essa vitória sobre o Grêmio acho que foi de suma importância para que a gente adquirisse essa confiança e pudesse ter uma seqüencia muito boa até o final da Libertadores".

IMPORTÂNCIA DA MESCLA DE JOGADORES
"Foi. Eles me ajudaram bastante. Inclusive, hoje o Luizinho [Quintanilha] é o meu empresário. O Edmundo a gente tem um contato, convívio muito bom. São pessoas que me ajudaram. Foram pessoas que, principalmente dentro do campo, naquele momento de transição, momentos decisivos... Eu e Felipe muito jovens, então a gente precisava desse apoio, não só desses jogadores, mas de outros também, como Carlos Germano, Mauro Galvão. Acho que a gente conseguiu mesclar muito bem a juventude com a experiência desses jogadores. Deu um resultado muito positivo. Desde 1997 até acho que 2000 foram anos muito vitoriosos para o Vasco".

FELIPE E PEDRINHO QUEREREM TREINAR COM O TIME DA COPA MERCOSUL
"Era tudo muito novo para a gente e muito importante. Como vivemos realmente no Vasco desde os seis anos de idade, a gente tinha um apego muito grande ao clube. Você poder... A gente queria tudo, na realidade, que pudesse pelo Vasco. A gente queria treinar, participar de todas as competições. Aí é a falta de experiência. Tiveram pessoas corretas, no momento certo, para orientar a gente melhor".

VIOLÊNCIA DO GRÊMIO E PROVOCAÇÕES DO RIVER PLATE
"Já é uma tradição na Libertadores. Até antes de começar a Libertadores, a gente sabe que existe essa coisa do árbitro deixar o jogo correr. Tanto é que, até nos rachões antes da competição, a Libertadores, quando tem uma chegada dura, o pessoal brinca \"A Libertadores! A Libertadores!\". A gente já sabia disso e estava preparado para qualquer tipo de provocação. Tanto é que o Vasco teve um equilíbrio total. Tanto em São Januário contra o River, quanto lá, fomos equilibrados no momento inteiro da partida. Depois, no final, fomos coroados com aquele gol do Juninho, que nos deu a passagem para a final".

JOGOS EM SÃO JANUÁRIO TEREM SIDO FUNDAMENTAIS
"Foram fundamentais e totalmente inesquecíveis. A gente lembra de tudo, daquela cachoeira de fogos caindo na arquibancada. A gente sabia que ia conseguir a vitória sempre ali. A gente só não sabia o placar, mas sabia que ia ganhar. A torcida foi fenomenal em todos os jogos ali para a gente".

LIÇÃO
"Foi assim... Eu era muito jovem e não imagina tão cedo poder ganhar um título tão importante por um grande clube. Foi de uma emoção muito grande. Vivi muitas coisas boas no Vasco. Tenho certeza que a conquista da Libertadores contribuiu muito para que logo depois eu fosse convocado para a Seleção Brasileira. Infelizmente, me machuquei. Mas foi um ano maravilho de conquistas importantes demais. Só tenho mesmo muitas alegrias daquele grupo e dessa conquista que, para mim, foi, tão jovem e já passando experiência até para outros jogadores depois".

Fonte: Vasco Expresso