Futebol

Análise: Vasco sofreu com descontrole emocional após o gol do Goiás

Time bem postado defensivamente após expulsão infantil do volante é o ponto positivo da noite, mas descontrole emocional após gol do adversário causa prejuízos para a próxima rodada. 

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Analisar taticamente uma partida na qual um jogador leva aquele cartão vermelho capaz de quebrar qualquer planejamento e tirar a confiança dos companheiros é complicado. Ainda mais se tratando de Bruno Gomes, expulso duas vezes nos primeiros tempos dos jogos dentro de um intervalo de seis dias. Na derrota por 1 a 0 para o Goiás, nesta quarta-feira, na Serrinha, três pontos merecem atenção. O primeiro: a postura defensiva e o espírito de luta foram dignos de elogios. Dois: não houve, porém, saídas ofensivas, e o Vasco esteve muito longe do gol. Por último: o destempero demonstrado na reta final do duelo é preocupante.

Bruno Gomes erra feio em expulsão-relâmpago

Uma das joias de São Januário, Bruno Gomes, de 20 anos, já despertou o interesse do futebol europeu e defendeu a seleção brasileira sub-20 mesmo num momento em que era preterido por Ricardo Sá Pinto. A taxa de entrega, o poder de marcação e o bom passe lhe deram holofotes, porém outra coisa vem chamando atenção negativamente: já soma quatro vermelhos em apenas duas temporadas e meia como profissional, sendo três deles completamente evitáveis.

Nesta quarta, uma semana após ser expulso aos 36 minutos do primeiro tempo devido a um desentendimento com os cruzeirenses Romulo e Paulo, Bruno tornou a levar vermelho ao não calcular a força de suas entradas nem o tempo de bola corretamente. Desta vez, porém, foi para o chuveiro com apenas cinco de jogo.

Ciente de que errou, deixou o campo chorando, postou uma mensagem de desculpas no Instagram e logo depois apagou. O garoto precisa botar a cabeça no lugar e de atenção especial da comissão técnica e da psicóloga do Vasco, Maíra Ruas. Após o jogo, Marcelo Cabo revelou-se preocupado:

- Questão a que a gente está atento, é um atleta em formação e com futuro importante. É uma expulsão com seis minutos, claro que vamos ficar atentos a isso. Vamos tratar internamente para que isso não ocorra mais na carreira do Bruno - disse Cabo.

Primeiro tempo pós-vermelho: Vasco se fecha bem

Assim que Bruno Gomes foi expulso, um previsível jogo se desenhou: o Vasco com 10 atrás da linha da bola, e o Goiás martelando. Cena rara de se ver, Cano aparecia a todo instante ocupando espaços na intermediária ofensiva, e Morato recompunha mais do que costuma fazer.

A compactação foi digna de aplausos. Embora tenha terminado a etapa com 70% de posse de bola e 10 finalizações contra três do Vasco, o Goiás pouco levou perigo. E, quando exigido, Vanderlei foi bem. Foi de Cano, aos 43 minutos, o chute mais relevante da etapa, de fora da área. A bola desviou na defesa e quase surpreendeu Tadeu.

O ferrolho e a necessidade de correr atrás, porém, foram causando prejuízos. Galarza tomou amarelo ainda no primeiro tempo e acabou suspenso. Sarrafiore, que voltava para fechar o corredor pela esquerda, fatalmente não aguentaria a etapa final e foi substituído por Léo Jabá, mais forte fisicamente, no intervalo. O paraguaio, pendurado, também saiu, e Michel entrou em sua vaga.

Segundo tempo com sutil evolução, porém sem soluções

O Vasco voltou do intervalo com Michel e Jabá. A força física dos dois permitiu ao time subir um pouco mais, entretanto a criação era pobre. Acabou finalizando apenas duas vezes na etapa final. Numa, Andrey bateu falta no meio do gol. Na outra, o volante levantou para cabeçada de Léo Matos sem perigo.

Cabo ainda perdeu Morato, lesionado, logo aos quatro minutos, e Gabriel Pec, seu substituto, mais uma vez não foi bem. Daniel Amorim, que entrou na vaga de um cansado Cano, nada fez. João Pedro foi outro a entrar (Andrey, o melhor do time, saiu), mas pouco apareceu.

A tônica do jogo se manteve: Goiás martelando, e o Vasco bem compactado. Mas, de tanto tentar, os anfitriões chegaram ao gol da vitória num lance fortuito. Miguel Figueira, com liberdade, bateu de fora da área, a bola desviou em Michel e bateu na trave. No rebote, Everton Brito guardou.

Descontrole total no Vasco após o gol

Depois de aguentar bravamente o 0 a 0 até os 35 minutos, o Vasco repetiu cenas que se tornaram corriqueiras em 2021: destempero total de atletas em campo, dos reservas no banco e de outros membros importantes do clube, como o executivo de futebol Alexandre Pássaro.

Aos 40 minutos, Dadá Belmonte recebeu bola na esquerda, fez umas firulas e deu um chute no vácuo diante de João Pedro. Quando o jogo foi paralisado, Leandro Castan, revoltado, disparou de sua área até o meio-campo para reclamar com o árbitro e esbravejar com o lateral Hugo, do Goiás.

Dois minutos depois, em jogada na outra ponta, Léo Jabá, sem nenhuma necessidade, levantou Éverton Brito e correu risco de levar outro cartão vermelho. De toda forma, recebeu o amarelo e, àquela altura, tornava-se o quarto desfalque do time por suspensão.

A partir dali, em vez de buscar a vitória, o Vasco perdeu a concentração e não conseguiu mais levar perigo ao Goiás.

Para completar, após o apito final, mais cenas lamentáveis. Juninho tornou-se a quinta baixa por cartão para a partida de sábado, contra o Confiança (Bruno Gomes, Galarza, Morato e Jabá são os outros). O volante, que nem entrou em jogo, deu uma joelhada em Dadá Belmonte, segundo a súmula do árbitro paulista Douglas Marques das Flores.

Ricardo Graça teve de atuar como um segurança para impedir que MT brigasse com um adversário. O lateral vascaíno conversou muito com Bruno Mezenga, mas parecia querer confusão com Alef Manga, que também reagia com agressividade.

Na súmula, Douglas Marques ainda relatou ter sido ofendido por Alexandre Pássaro, executivo de futebol. Confira o que o árbitro disse: "Informo que ao entrar no túnel do vestiário da arbitragem, o diretor de futebol, sr. Alexandre Passaro Filho, da equipe Club de Regatas Vasco da Gama, estava presente e proferiu as seguintes palavras: 'Você é culpado disso, seu ladrão. Deu um cartão para o Vanderlei por cera e depois não deu para o Tadeu, seu vagabundo'. Informo que me senti ofendido com as palavras ditas pelo diretor citado acima".

A questão do descontrole precisa ser observada com atenção pelo Vasco. Em dois jogos com o Madureira, no Carioca, Marcelo Cabo mostrou-se muito irritado à beira do campo. No empate por 2 a 2, pela Taça Guanabara, e na derrota por 1 a 0, na semifinal da Taça Rio.

No empate com o Boavista que classificou o Vasco às oitavas de final da Copa do Brasil, treinador, jogadores e até Alexandre Pássaro, que invadiu o campo, reclamaram num tom muito acima em jogo com suposta interferência externa.

Na vitória por 2 a 1 sobre o Brasil de Pelotas, já na Série B, Marcelo e Gabriel Cabo, seu auxiliar e filho, foram expulsos após desentendimentos com a comissão técnica adversária.

Enfim, são inúmeros episódios que precisam ser revistos pelo Vasco a fim de não aumentar a pressão em cima de atletas que já convivem com a cobrança diária por resultados e um futebol condizente com o investimento do clube.

Fonte: Globo Esporte