Vasco x Santos: o clássico do Rei
Santos e Vasco fazem nesta quarta-feira, às 21h45m, na Vila Belmiro, importante confronto pela 34ª rodada do Campeonato Brasileiro. O jogo é decisivo para as pretensões de ambos na competição. Em segundo lugar na tabela, com 56 pontos, seis atrás do líder Corinthians, o Alvinegro praiano necessita do triunfo, além de secar o Corinthians contra o Atlético-PR, para manter-se na caça ao título nacional, que não obtém desde 2004. Já o Vasco, em oitavo, com 45 pontos, quer um resultado positivo para poder continuar na batalha por uma vaga na Libertadores da América, que não disputa desde 2012.
Embora rivais, esses clubes têm como traço de ligação entre suas trajetórias simplesmente o Atleta do Século 20 e Rei do Futebol, Pelé. A 19 de novembro de 1969, no Maracanã, foi contra o time de São Januário que ele, já consagrado pelos títulos mundiais pela seleção em 1958 e 1962, marcou seu histórico milésimo gol, de pênalti, nos 2 a 1 a favor do Santos, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o então campeonato nacional. Embora o clássico não disponha de um apelido, ao contrário de tantos outros, exatamente por causa do maior craque do mundo Vasco x Santos bem que poderia ser chamado "O Jogo do Rei".
O primeiro episódio ligando Pelé e os dois clubes data de junho de 1957, há 60 anos. À época apenas um jovem de 16 para 17 anos, ainda longe de se tornar a personalidade planetária que viria a ser, o atacante tomou parte de quatro amistosos do Combinado Vasco-Santos, dois no Rio, com o uniforme vascaíno, e outros dois em São Paulo, com a camisa do Santos. O combinado ficou invicto, nos amistosos com Belenenses (Portugal), Dinamo de Zagreb (extinta Iugoslávia), Flamengo e São Paulo.
Então conhecido também como "Gasolina", o jovem Pelé marcou em todas as partidas, assinalando seis gols. Como o próprio Rei gosta de lembrar, sua participação nesses jogos serviu para chamar a atenção do então técnico da seleção brasileira, Sylvio Pirillo, para a Copa Roca, competição que reunia apenas a equipe verde-amarela e a da Argentina. A estreia do futuro Rei na seleção nacional ocorreu em 7 de de julho de 57, na derrota de 2 a 1 para os argentinos, no Maracanã. O gol brasileiro, porém, foi dele. No segundo confronto, no Pacaembu, em São Paulo, tornou a atuar, mas não marcou na vitória brasileira, por 2 a 0. O Brasil levou o troféu.
Em junho de 1958, na Suécia, Pelé, que completara 17 anos a 23 de outubro de 1957, seria uma das principais estrelas da conquista do primeiro dos cinco títulos mundiais do Brasil. Lá, passaria a ser chamado - primeiro pela imprensa francesa e depois por todo o mundo - como o Rei. Pelo Santos, ele ganharia dois Mundiais, duas Libertadores, cinco edições da Taça Brasil e uma do Roberto Gomes Pedrosa, entre outros.
A ligação entre Pelé e o Vasco vem desde a infância em Três Corações, sua terra natal, em Minas Gerais. Seu pai, Dondinho, atuava como goleiro no Vasco de São Lourenço, também no Sul de Minas, e o menino costumava ir torcer pelo pai à beira dos gramados da região. Mesmo consagrado mundialmente com a camisa do Santos, o Rei sempre repete que seu time de infância era mesmo o de São Januário.
Curiosidades sobram neste clássico interestadual, disputado pela primeira vez há 90 anos, no dia 21 de abril de 1927, quando da inauguração do Estádio do Vasco, em São Januário. No amistoso, os santistas levaram a melhor, por 5 a 3, gols de Evangelista (2), Feitiço, Omar e Araken. Pelo time da casa, descontaram Negrito, Baiano e Paschoal. Está exposto no Memorial de Conquistas, na Vila Belmiro, o troféu ganho na ocasião.
Desde aquele longínquo 1927, santistas e vascaínos vêm cruzando seus caminhos em momentos históricos para ambos. Além da inauguração de São Januário e do milésimo gol, eles fizeram a final da Taça Brasil de 1965, em duas partidas: Santos 5 a 1 e 1 a 0, esta no Maracanã, com gol do Rei, um dos nove assinalados por ele contra o time carioca. Os santistas se sagravam pentacampeões da competição (1961/65).
Já no quadrangular final do Brasileiro de 1974, que reuniram também Cruzeiro e Internacional, os vascaínos derrotaram os alvinegros praianos por 2 a 1, no Maracanã, a 21 de julho. Pelé marcou um golaço de falta, mas o Vasco venceu por 2 a 1 (Luis Carlos e Roberto Dinamite), avançando para erguer o troféu nacional.
Mais recentemente, em 1999, os clubes duelaram pelo Torneio Rio-São Paulo. Foram duas partidas, com 3 a 1 para o Vasco no Maracanã e 2 a 1 no Morumbi. Foi a última finalíssima entre eles. No ano passado, quando os vascaínos jogavam a Série B, os adversários lutaram para avançar às quartas de final da Copa do Brasil, e o Santos levou a melhor.
Outros aspectos curiosos do confronto têm a ver com o fato de que os dois costumam atuar em seus estádios particulares, ambos antigos e muito tradicionais. O estádio Urbano Caldeira, mais conhecido como Vila Belmiro, foi inaugurado em outubro de 1916, sendo o mais antigo entre os que vêm sendo utilizados no Brasileiro. São Januário foi aberto em 1927, sendo o segundo mais antigo. Uma forte coincidência é o fato de que suas torcidas costumam chamar a ambas as equipes de “time da virada e time do amor”, cantando a adaptação do refrão do samba “A criação do mundo na Tradição Nagô”, da Beija Flor, em 1978.
De acordo com o site http://acervosantosfc.com, que publica a relação completa das partidas, houve 118 jogos em 90 anos, com um marcante equilíbrio. Foram 42 vitórias vascaínas, 40 santistas e 36 empates.
* Cláudio Nogueira é jornalista do SporTV e autor dos livros "Futebol Brasil Memória - De Oscar Cox a Leônidas da Silva"; "Dez toques sobre jornalismo" e “Esporte Paralímpico - Tornar Possível o Impossível”, entre outros
Fonte: ge