Vasco é o segundo clube que mais arrecada no Rio
Nas últimas décadas, o crescente endividamento dos quatro grandes clubes do Rio gerou crises em série, frases de efeito acabou o dinheiro, costumava repetir o ex-presidente rubro-negro Márcio Braga e culminou na queda de qualidade do futebol carioca, de forma geral, dentro de campo.
Hoje, ao se analisar a radiografia financeira de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco a partir dos balanços publicados pelos próprios clubes, é possível ver o tamanho da fratura a dívida dos quatro grandes chega à incrível cifra de R$ 1,2 bilhão mas também enxerga-se, aqui e ali, processos de regeneração em andamento.
Primeiro, a boa notícia: de 2007 a 2009, a arrecadação dos quatro grandes clubes cresceu 40%, chegando a um total de R$ 310,2 milhões no ano passado, como mostra estudo da Crowe Horwath RCS, empresa multinacional de auditoria, com filial no Brasil. É possível ver o copo meio vazio e lembrar que toda a receita dos grandes em um ano é igual à dívida do Flamengo, atualmente a menor, de R$ 308,3 milhões. Mas é também verdade que se está caminhando para a frente.
Os balanços dos clubes podem ser divididos em três partes: receitas, despesas e endividamento.
Na parte da arrecadação, a renegociação do contrato do Clube dos 13 com a Rede Globo em 2009 vitaminou as receitas dos clubes. Entrou mais dinheiro, mas a análise das origens da arrecadação mostra que aumentou a dependência dos clubes da verba dos direitos de transmissão.
Um dado revelador de que nossos clubes fazem muito menos dinheiro do que poderiam.
Marketing além do patrocínio
Falta, principalmente, saber usar a paixão dos torcedores como fonte arrecadadora. Em inglês claro, marketing. Nos clubes mais bem-sucedidos do futebol europeu, costumam ser três as principais origens de dinheiro: direitos de transmissão pela televisão; marketing, entre patrocinadores e licenciamentos de produtos; e estádio, entre bilheteria e todas as vendas que acontecem no local das partidas.
Em média, um clube bem administrado arrecada dessas três fontes na mesma proporção.
Aqui, os clubes ainda dependem muito dos direitos de transmissão. E ainda não aprenderam o que é marketing.
O potencial a ser explorado não é apenas a exposição na televisão que o clube tem, e que atrai patrocinadores. O Flamengo, o Fluminense não podem pensar seu marketing como se fossem apenas outdoors ambulantes avalia o administrador Amir Somoggi, diretor da Crowe Horwath RCS.
Ele lembra que, na Europa, o patrocínio na camisa chega a corresponder, em alguns clubes, a somente 20% da receita gerada pela área de marketing.
A maior parte vem de campanhas do clube, licenciamentos de produtos... No Brasil, a situação é oposta.
Futebol é superavitário
Voltando o olhar para o futebol carioca, o cenário ainda é grave, mas tem melhorado.
Uma característica comum aos quatro clubes é sintoma deste progresso: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco apresentam departamentos de futebol que gastam menos do que arrecadam. As despesas com a parte social dos clubes e, principalmente, com a amortização e rolagem das milionárias dívidas explicam por que, mesmo com o departamento de futebol superavitário, os clubes ainda apresentam déficit geral.
Alguns dados são interessantes.
O Vasco, que tem uma torcida gigantesca, finalmente assumiu a posição de segundo clube a faturar mais. Está se reestruturando.
O Fluminense, pelo perfil de sua torcida, e o Botafogo, pelo Engenhão, são clubes que podem explorar muito o marketing. O Flamengo é o maior do Rio, mas ainda está distante de Corinthians, São Paulo e Inter. O Flamengo tem capacidade para arrecadar facilmente mais de R$ 200 milhões anuais acredita Somoggi.
Entre uma dívida enorme e que cresceu no último ano, à exceção da do Vasco os grandes cariocas começam a mostrar alguma capacidade de se reerguer.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)
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