Futebol

Vasco e Botafogo têm estratégias diferentes para a final de sábado

RIO - Bem ao estilo de Paulo Barros, carnavalesco da Unidos da Tijuca que desfila logo mais à noite como o grande vencedor do Carnaval deste ano com o enredo É segredo!, Vagner Mancini também resolveu fazer seu mistério, em São Januário, temendo um espião alvinegro na Colina. Até os cerca de cem torcedores que estiveram no clube para assistir ao treino receberam do técnico a determinação para não filmarem nem fotografarem o que ele e os jogadores faziam em campo.

Já Joel Santana resolveu fazer o inverso e abriu o jogo. Ele, que na véspera anunciara sua decisão de realizar um treino secreto, mudou de idéia e permitiu que os jornalistas acompanhassem toda a atividade do Botafogo, no Engenhão.

\"Falei para os jogadores: \"Se achasse que não teria condições de levar vocês à final, ficava em casa com meu chapéu do Panamá, sandália e bermuda\", revelou, brincando. \"Só iria tirar meu cavanhaque porque o Brad Pitt me ligou dizendo estava muito parecido com ele\".

Mancini não estava tão extrovertido. E, para o samba do Vasco não desafinar na passarela do Maracanã, ele dirigiu um treino secreto sem os olhares da imprensa, que só teve acesso ao campo uma hora depois. Mas o técnico não conseguiu guardar completo segredo, como fez Paulo Barros com as meteóricas trocas de figurinos de sua comissão de frente.

Além da parte tática, sua preocupação continua sendo os cruzamentos sobre a área do Vasco, arma mortal do Botafogo. O objetivo principal é fazer os zagueiros Fernando e Titi adquirirem o tempo de bola ideal para não dar brechas aos atacantes alvinegros.

Por isso, ele submeteu sua defesa a uma longa bateria de cruzamentos para evitar que as cabeçadas de Loco Abreu e Herrera voltem a desequilibrar na final de sábado.

Papai Joel ganha champanhe

O estrategista Joel Santana, por sua vez, iniciou o treino com uma longa conversa de 35 minutos com todo o elenco. Nela, gesticulou, deu instruções e falou também dos erros que o time cometeu na goleada de 6 a 0 para o Vasco na primeira fase.

Joel exercitou sua principal arma: os cruzamentos sobre a área para os grandalhões Loco Abreu e Herrera finalizarem, de cabeça. Tática que resultou nos dois gols da classificação contra o Flamengo.

\"No dia seguinte, eles fizeram algo que me emocionou. Em agradecimento, me deram uma garrafa de champanhe. Lógico que a felicidade não é pela garrafa, mas pelo gesto. Dependo deles. Podemos até perder a final, mas vai ser no campo, e a torcida terá a certeza de que demos o nosso melhor\", afirmou Joel.

O técnico, porém, tem uma grande preocupação: a possível ausência de Antônio Carlos na decisão de sábado. O zagueiro não treinou com dores na coxa esquerda, atingida na semifinal de Quarta-Feira da Cinzas, contra o Flamengo. Caso seja vetado, Wellington será o substituto.

Já Mancini teve um bom motivo para acreditar ainda mais na conquista do título que o Vasco não ganha desde 2003. Carlos Alberto, que estava contundido no pé direito, e Nílton, que se recuperava de dores no joelho direito, participaram do treino e têm presença garantida na final.

Outro segredo que Mancini não conseguiu guardar foi sua preocupação com outra possível decisão por pênaltis, em caso de empate no tempo normal, como aconteceu na semifinal contra o Fluminense.

Dodô, Phillipe Coutinho, Carlos Alberto, Fernando e Márcio Careca continuam como os cinco primeiros cobradores da série normal. E Nílton será o primeiro em caso de cobranças alternativas, como aconteceu contra o Fluminense, quando ele converteu o sexto e decisivo pênalti.

No quesito tapetão, Joel levou a melhor sobre Mancini. Em julgamento no TJD-RJ, Leandro Guerreiro pegou apenas um jogo de suspensão, já cumprido, e está confirmado. Já Rafael Coelho, reserva imediato do ataque do Vasco, levou sete jogos de gancho. O Vasco ainda foi multado em R$ 15 mil por vender bebida alcoólica e entregar a escalação incorreta no jogo contra o Macaé.

Patrocínio alvinegro

O Botafogo vai faturar um dinheiro extra na decisão. Sexta-feira, o clube fechou contrato com três patrocinadores: o laboratório Neoquímica Genéricos estampará a marca no peito e nas costas da camisa. A logomarca Bozzano ficará nas mangas, e a do banco Cruzeiro do Sul nos shorts e no uniforme de Joel Santana.

VASCO

Armadilhas

>> Camisa 1

O Vasco tem no goleiro Fernando Prass seu porto seguro pela frieza, boa envergadura e boa saída de bola. Titular em toda a campanha do título da Série B, do Brasileiro, ele mantém o ótimo retrospecto. É o goleiro titular menos vazado da Taça Guanabara, levando apenas três gols, contra 13 sofridos por Jefferson, do Botafogo.

>> Elemento surpresa esquerda

É outro ponto forte do Vasco. Além de não se descuidar da marcação, o franzino e veloz Márcio Careca se torna um autêntico ponta quando avança com a bola, se tornando mais uma boa opção de ataque, já que Léo Gago faz sua cobertura.

>> Trinca de cães de guarda

A presença dos três pitbulls, Nílton, Léo Gago e Souza, à frente da área também garante à defesa do Vasco ser a menos vazada do campeonato. Mas, além da firmeza na marcação, Nílton e Léo Gago fazem do chute forte uma arma a mais do time. E Souza também se destaca por seus deslocamentos em velocidade pela direita do ataque.

>> O Coringa

Com a defesa bem protegida pelos três cães de guarda, Carlos Alberto funciona como um coringa, sem posição fixa e flutuando em várias posições a partir da intermediária adversária, fazendo a aproximação aos atacantes Dodô e Phillipe Coutinho

>> Dupla da pesada

Pela qualidade técnica, visão de jogo e frieza nas finalizações, Phillipe Coutinho e Dodô são um perigo constante para os adversários. Ambos já fizeram nove dos 19 gols do Vasco, sendo que Dodô, que joga mais fixo na área, é o artilheiro com sete gols. Já o seu garçom, Phillipe, fez dois.

>> Nova estrela

Há menos de dois meses no Vasco, Vagner Mancini já mostrou ser um técnico de estrela. Em apenas seis anos de carreira, vai disputar sua quarta final. Na primeira, em 2005, pelo Paulista de Jundiaí, conquistou a Copa do Brasil em cima do Fluminense, em São Januário. Ele ganhou a segunda: o título baiano de 2008 pelo Vitória. Na terceira, pelo Santos, perdeu o título paulista para o Corinthians, em 2009.

Temores

>> Falta de ousadia

Apesar de ter ganho de Fagner a vaga de titular da lateral direita, Elder Granja ainda peca pela falta de ousadia e se limita mais à parte defensiva. O gol que perdeu na semifinal contra o Fluminense é prova disso. Ele recebeu a bola, livre, dentro da área, e não foi ousado. Preferiu cruzar e desperdiçou um gol feito. Além disso, deu uma cabeçada, livre, mas sem força, e Rafael defendeu.

>> Desafinados

Apesar de formarem a zaga que menos sofreu gols na competição, Fernando e Titi ainda não mostram o entrosamento ideal. Zagueiros que fazem do vigor físico maior arma do que a técnica, os dois se confundem na marcação e na bola aérea, maior arma do Botafogo. Na semifinal contra o Fluminense, Fred perdeu pelo menos três chances claras de gol.

>> Falta de sintonia

Apesar da já comprovada qualidade de Phillipe Coutinho e Dodô, os dois atacantes ainda carecem de melhor precisão no último passe, dentro da área, na hora de tentar o gol. Os dois jogadores, mesmo, têm admitido essa falta de sintonia.

BOTAFOGO

Armadilhas

>> Jefferson

O goleiro alvinegro vem tendo atuações decisivas. Contra o Flamengo, garantiu a classificação com grandes defesas.

>> Lateral esquerda

Em boa fase, Marcelo Cordeiro já fez três gols no Carioca. Apóia constantemente e faz bons cruzamentos para Loco Abreu.

>> Ataque

É o ponto forte do time alvinegro. Herrera se movimenta o jogo todo, criando espaços. Loco Abreu é perigo constante nas bolas aéreas e faz bem o papel de pivô. No banco, ainda há Caio, o talismã.

>> Disciplina

Ciente de suas limitações, o time alvinegro é eficiente taticamente. Os jogadores procuram acertar a marcação e sair para o jogo com segurança.

>> Joel Santana

Vitorioso no futebol carioca, o técnico também é reconhecido pela capacidade de arrumar times em crise. Pegou um elenco destroçado pela goleada de 6 a 0 para o Vasco e o conduziu à final

Temores

>> Defesa

O setor defensivo teve uma sensível melhora com a chegada de Joel Santana. Fábio Ferreira é o melhor da zaga, mas Antonio Carlos e Fahel, improvisado, ainda não inspiram confiança.

>> Meio-campo

Jogando com dois volantes, Leandro Guerreiro e Eduardo, Lucio Flávio fica sobrecarregado na armação das jogadas. Sem contar que o meia não vem tendo boas atuações, jogando de forma lenta.

>> Chuveirinho

As bolas cruzadas na área, apesar de ser uma jogada forte, parece ser a única opção de ataque. Dificilmente o time envolve a defesa adversária com tabelas e troca de passes.

Fonte: Jornal do Brasil