Futebol

Um livro para deixar saudade nos vascaínos: "Um Expresso Chamado Vitória"

Sete anos sem títulos estaduais, cobrança da torcida e crise em São Januário. Um cenário que parece familiar para os vascaínos mais jovens, mas era o que vivia o Vasco em 1943, ano em que o maior time da história do clube começou a ser montado. Capaz de ficar seis anos sem perder para o maior rival, de ganhar quatro campeonatos invictos em um intervalo de cinco anos, entre eles um Sul-americano contra o River Plate de Di Stéfano, o primeiro título internacional do futebol brasileiro, o timaço que deixa todo vascaíno sentindo saudade enfim ganha 254 páginas só para ele em \"Um Expresso Chamado Vitória\". O livro, um documento histórico dos pesquisadores Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida, terá noite de autógrafos hoje, a partir das 18h na ABI, no Centro.

Em 10 capítulos, os autores de \"Clássico Vovô\", sobre o duelo entre Fluminense e Botafogo, contam bastidores, trazem depoimentos como do ex-goleiro Carlos Alberto Cavalheiro (que substituiu Barbosa no gol do Vasco) e fotos raras da equipe que foi base da seleção brasileira vice-campeão do mundo em 1950, no Brasil. \"O livro existe justamente por não ter quase nada sobre o Expresso publicado. Talvez pela falta de TV na época, de imagens melhores ou por ter perdido a Copa de 50. Foi a mesma base que manteve a hegemonia durante 10 anos. Coisa que o Santos do Pelé não conseguiu nem o Botafogo de Garrincha e Nilton Santos\", lembra Jefferson, citando a base vascaína formada por Barbosa, Eli, Augusto, Danilo, Jorge, Ademir e Chico.

Através de pesquisa nos jornais e revistas da época, o livro narra como a falta de títulos forçou o presidente eleito do Vasco, Cyro Aranha, um comerciante de secos e molhados, a adotar a estratégia de espalhar olheiros pelo País. Ajudado pela colônia portuguesa, o Vasco foi ao mercado e trouxe grandes jogadores, principalmente os que se saiam bem contra o próprio clube. \"O Ademir Menezes fez três gols e deu passe para outros dois na vitória do Sport por 5 a 3 contra o Vasco, no Rio. Isso em 1943, quando o Vasco começou a vencer torneios municipais, que com o tempo perderam sua importância\", diz o autor, lembrando da transação que pôs no Vasco um dos maiores ídolos de todos os tempos do futebol brasileiro: Ademir, o Queixada.

Do clube pernambucano, junto com Ademir, também veio Djalma. Do Sul, veio Chico, do Grêmio, do Bahia, Maneca. Aquele que muitos consideram o melhor goleiro de todos os tempos, Barbosa, veio de São Paulo, do Ipiranga. E para completar a base do Expresso chegaram Danilo Alvim, outro que \"arrebentou\" com o Vasco quando defendia o América, e o trio Jair da Rosa Pinto, Isaías e Lelé, todos do Madureira.

\"O clube trouxe o técnico Ondino Vieira, que foi até quem montou o Uruguai campeão do mundo de 1950. O projeto de time era formar uma defesa forte com um ataque que variava muito de posição. Até porque o Ademir jogava nas cinco posições da frente\", lembra Jefferson. \"Era o time a ser batido. \"Expresso\" era só um dos apelidos. Chamavam de \"a máquina\", \"campeões da América\"\". A dupla de autores não conseguiu descobrir ao certo, mas uma das versões para o apelido que marcou aquele time dá conta que um participante de programa de calouros no rádio dedica a música ao Vasco e ao \"expresso da vitória\", nomeando então a equipe vascaína.

A consagração viria em 1948, durante um campeonato com os campeões do continente no Chile, conquistou o inédito Sulamericano para o Brasil. Foram dois empates e quatro vitórias, em torneio de pontos corridos. Muitos anos mais tarde, a Conmebol reconheceu o Sulamericano do Chile como a primeira Libertadores. \"O time brasileiro era o azarão. O Brasil só tinha vencido dois sulamericanos até então. Os jogadores argentinos e uruguaios eram tão bons quanto os nossos, mas taticamente estavam bem à frente. E o Vasco , mesmo prejudicado pela arbitragem algumas vezes, foi campeão contra Colo-Colo, time da casa, e dos grandes River Plate e Nacional\".

Obsessão rubro-negra

Campeão carioca em 1945, 1947, 1949, 1950 e 1952, sem contar o Sulamericano de 1948 no Chile, o Vasco cumpriu uma campanha impressionante durante esses oito anos que separam o primeiro título carioca do último do Expresso. Em 156 jogos, venceu 116, empatou 22 e perdeu apenas 18. O ataque que teve Ademir, Chico e até Heleno de Freitas marcou incríveis 473 gols. A defesa forte, coisa rara na época - e influência direta do técnico uruguaio Ondino Vieira, primeiro treinador do Expresso, tomou apenas 187 gols.

Outro motivo do qual o vascaíno pode se orgulhar da história contada no livro é o que ficou conhecido na época por \"obsessão rubro-negra\". O Flamengo, maior rival do Vasco, ficou nada menos que seis anos sem vencer o clube de São Januário. Em 12 jogos no período, os flamenguistas conseguiram apenas dois empates, além de só perderem. \"É um retrospecto de deixar qualquer vascaíno sorrindo de orelha a orelha. E ainda teve duas goleadas, uma de 5 a 2 e outra de 4 a 1, as duas na Gávea. Numa dessas, o Jair da Rosa Pinto teve que deixar o Flamengo, porque a torcida queimou a camisa dele\", conta o pesquisador, de 37 anos, vascaíno, que tem uma certeza que gera uma boa discussão de bar com os mais antigos. \"Se o Brasil vencesse a Copa de 1950, talvez Ademir fosse tão ídolo quanto o Pelé, o Barbosa seria endeusado, a estátua do Maracanã não seria do Belline, mas do Augusto (capitão do Vasco e da seleção brasileira). A derrota de 50 marcou muito aquela geração\".

Serviço do livro:
Um Expresso Chamado Vitória
Autores: Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida
Editora: iVentura
Nº de páginas: 254

Fonte: O Dia