Time inspirado no Vasco foi o primeiro a levar gol de Ronaldo
Vinte e um anos antes de se despedir da Seleção Brasileira, Ronaldo, então um menino de 13 anos, assinava uma súmula pela primeira vez. Com a camisa do São Cristóvão, ele entrou no campo do estádio José Amorim Pereira, casa do Coelho da Rocha, no dia 12 de agosto, em jogo válido pelo Campeonato Carioca Mirim de 1990. Do outro lado estava o Tomazinho, time de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que perdeu aquela partida por 5 a 2. Aquele que viria a ser chamado de Fenômeno marcou três gols.
Goleiro do time do São Cristóvão por alguns anos, Zé Carlos se lembra bem daquela partida. Hoje aos 35 anos, o professor de educação física diz que aquele time estava acostumado a ganhar, mas encarou a partida contra o Tomazinho de forma diferente por ser o primeiro deles como jogadores federados. Após a vitória, recorda o ex-arqueiro, a comemoração foi típica de meninos ligados ou não ao futebol: com um bom lanche bancado pelos pais.
- Eu tinha 15 anos, jogávamos no mirim do São Cristóvão. Ele jogava sempre com a 11, e eu era o capitão do time. O campo era ruim, mas para a gente era bom. Naquele dia, nos encontramos no São Cristóvão e fomos para lá com o carro dos pais, muitos de carona. Nosso time estava acostumado a ganhar, e foi especial por ser o primeiro em que assinamos súmula. A partir dali passamos a ser federados. Os pais compravam o lanche, e essa era a comemoração após cada vitória. Era a melhor coisa do mundo.
Anos depois, os primeiros gols marcados por Ronaldo renderam uma placa em homenagem a ele no estádio José Amorim Pereira. Otojanes Coutinho de Oliveira, presidente do União Esportiva Coelho da Rocha, estava lá naquele 12 de agosto.
- Fui assistir a convite de um amigo do São Cristóvão, que falou muito bem do Ronaldo. Não lembro com detalhes, pois já faz muito tempo, mas foram gols que chamaram a atenção. No final do jogo ele recebeu os parabéns, mas só não pôde pedir música (risos) - brincou o dirigente, referindo-se ao quadro do \"Fantástico\" em que o autor de três gols no domingo escolhe uma música.
A partir daquele dia em 1990, a história do garoto nascido em Bento Ribeiro foi construída com gols, títulos e prêmios. Já a de seu primeiro adversário oficial foi bem diferente. No mesmo ano, a equipe profissional do Tomazinho foi rebaixada para a Terceira Divisão do Campeonato Carioca, onde permanece até hoje, alternando participações e ausências por problemas financeiros. Nas últimas 20 edições, não competiu em 12.
- Quando o time subiu para a Segunda Divisão (em 1986), o pessoal não tinha condições de bancar. E eu, como marinheiro de primeira viagem, estava com uma graninha e fui me meter em futebol. Já joguei bola, mas não sabia administrar futebol. Contratava jogadores pagando bem, mas eles não estavam nem aí. Fiquei uns três anos assim, foi o pior gasto da minha vida (risos). Depois voltamos à Terceira Divisão e estou sofrendo até hoje - confessa Malaquias Silva de Jesus, o Seu Quinha, desde 1987 na presidência do clube.
Já eliminado na primeira fase da Terceirona carioca desse ano, em que terminou em quarto lugar do Grupo A com quatro pontos, o time principal do Tomazinho tem de enfrentar ainda as dificuldades financeiras e pode até deixar de existir. Enquanto vive esse dilema, a diretoria do clube volta suas atenções para o Torneio Octávio Pinto Guimarães, disputado pela categoria júnior, que começa em julho.
- Sem patrocínio, você vai fazer um treino integral como? Tem que dar café da manhã, almoço, lanche à tarde, ter alojamento para os meninos dormirem... Com o coração apertado, estou pensando seriamente em não disputar mais no ano que vem e ficar só com as categorias de base - revelou o presidente, que em 2010 teve uma despesa de R$ 73,2 mil com o elenco profissional.
Como o Vasco, time também tem a cruz de malta
De longe, o Tomazinho Futebol Clube pode ser confundido com um conterrâneo mais famoso: desde sua fundação, no dia 2 de janeiro de 1930, o time usa as mesmas cores e modelo de uniforme do Vasco, que nesta quarta-feira disputa o título da Copa do Brasil contra o Coritiba. Segundo Malaquias, foi a pedidos de um português chamado Tomaz, que era dono de uma fazenda na região e deu nome ao clube e ao bairro. A ascensão para a Segundona carioca em 1986, com um título invicto, foi a melhor época do Tomazinho.
- Nosso time era o melhor. Tínhamos jogadores bons, fizemos uma família e deixamos uma boa impressão. Mas na Segunda Divisão do Rio foi muito difícil, e o Tomazinho não tinha dinheiro. Do time de 1986, a maioria saiu no ano seguinte. Se ficaram uns cinco foi muito. Então, tivemos que refazer tudo. Hoje é difícil reencontrar aqueles jogadores, cada um foi para um lado - contou o ex-zagueiro Tozzi, que atualmente é técnico de futebol e faz um trabalho social com crianças no Coqueiros Futebol Clube, também no Município de São João do Meriti.
No elenco de 1987 estava Válber, ex-zagueiro da Seleção Brasileira e que já jogou em equipes como São Paulo, Santos, além dos quatro grandes do Rio. Aos 20 anos, o jogador deu seus primeiros passos no futebol defendendo as cores do Tomazinho na Segundona Carioca.
- Aquela experiência foi muito legal para mim, pois eu não tive oportunidade de começar como todos, pelas categorias de base. Na época eu trabalhava e jogava futebol como amador aos domingos, até que fui fazer um treino no Tomazinho. Por ter um bom porte físico, cheguei bem ao profissional e passei. Dali em diante me dediquei só ao futebol, que era tudo o que eu queria - afirmou o defensor, que no fim daquela temporada se transferiu para o São Cristóvão.
Participação no \"Clássico dos milhões\"
Em 1986, Flamengo e Vasco decidiram o Campeonato Carioca numa melhor de quatro jogos no Maracanã. Na terceira partida, Tomazinho e Coelho da Rocha foram convidados a fazer a preliminar: o primeiro, que possui trajes quase idênticos aos do Gigante da Colina, contra o segundo, com um uniforme similar ao reserva do Rubro-Negro.
- Muitos nunca tinham pisado no Maracanã. Nós chegamos com o estádio ainda vazio, mas no segundo tempo já estava lotado. E a torcida dava aquela força, porque o Tomazinho é o Vasco. Essa lembrança fica - recorda Tozzi, que naquela ocasião jogou para um público de 127 mil e 808 pagantes.
Ao contrário do Vasco original, que perdeu aquela partida por 2 a 0 e o título para o rival, o Cruz-Maltino de São João de Meriti empatou por 0 a 0. Ao término da última fase, somou 14 pontos e se sagrou campeão invicto da competição.
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