Técnico Cássio fala sobre sua badalada equipe mirim do Vasco
Recheada de jovens já convocados para a seleção brasileira sub-15 (ao todo são sete no elenco), a geração /96 do Vasco é uma das mais badaladas do país em sua categoria. Nomes como Matheus Índio, Baiano e Mosquito já começam a despontar e poderão aparecer no Sul-Americano da categoria, que acontece entre os dias 17 de novembro e 4 de dezembro, no Uruguai.
O comandante de toda essa turma, e um dos principais responsáveis por esse êxito é o técnico Cássio Alves de Barros. Ex-jogador de uma geração vitoriosa da base do clube que tinha Carlos Germano, Bismarck e Sorato, entre outros, Cássio era um lateral esquerdo com bom vigor físico e chute muito forte. Jogou o Mundial Sub-20 de 1989, mesmo ano em que foi campeão brasileiro pela equipe cruzmaltina.
Após se aposentar como jogador, Cássio começou a carreira de treinador em 2005, no Artisul, onde comandou João Victor e Jorbison, hoje no Flamengo. Posteriormente, mudou-se para os juvenis do CFZ e chegou ao Vasco em 2008. Em entrevista ao Olheiros, ele fala sobre a carreira de jogador, a geração /96 do Vasco e o trabalho de base feito no Brasil, entre outros temas. Confira:
Olheiros - Você fez parte de uma geração vitoriosa da base vascaína, mas vários jogadores que surgiram naquela época só brilharam no Vasco e depois caíram de produção por motivos diversos. Como você analisa aquele período? Essa experiência te ajuda como treinador? Em que aspecto?
Cássio - Foi um período muito bom. Tinhamos uma equipe principal muito qualificada, com jogadores como Bebeto, Mazinho, Luis Carlos Winck, Marco Antônio Boiadero e Tita. Esses jogadores experientes nos ajuvavam muito, davam um suporte, e quando entrávamos em campo não tínhamos a obrigação de resolver. Aquela base tinha nomes como Carlos Germano, William, Bismarck e Sorato, que acabou fazendo o gol do título do Campeonato Brasileiro de 1989. Em relação ao fato dessa experiência ajudar na função de treinador, creio que sim, pois sei como o clube pensa, as características dos jogadores que chamam a atenção da torcida e esse conhecimento é importante.
Olheiros - Você assumiu o Sub-15 em 2008 e já comandou as gerações /95 e /96 do Vasco. Qual delas, na sua opinião, é a mais talentosa?
Cássio - São dois times com características diferentes. A geração /95 tem o Daniel, que é um excelente atacante, o Talles, centroavante alto e também muito bom, o Brenner, goleiro de muita qualidade e o Linderman, bom zagueiro, mas é carente em algumas posições. A equipe /96, por sua vez é muito homogênea, com muito bons jogadores. O Juninho, goleiro, é muito seguro, os laterais, Foguete e Lorran, são excelentes, a zaga com Ítalo e Luiz Felipe, o meio-campo com o Baiano, que é um dos melhores volantes do Brasil na categoria. Na meia temos os Matheus Índio e o Danilo, que veio do Vitória, os dois da seleção brasileira sub-15. O ataque, com Lauder e Thiago (N.R: Mosquito, também da seleção brasileira sub-15, assim como Baiano e Foguete), também tem qualidade, além do Caio Monteiro, atacante /97 reserva que é o artilheiro do Campeonato Estadual até o momento.
Olheiros - Como você classificaria a situação que você encontrou na base vascaína e como você enxerga agora esse quadro?
Cássio - Melhorou muito. Quando chegamos, tínhamos muitas dificuldades, treinávamos um dia em Magé, outro em Duque de Caxias, esses problemas estruturais atrapalhavam o trabalho. Com a parceria com o Pedrinho Vicençote (a base do Vasco atualmente treina no CT do empresário, em Itaguaí-RJ), as condições de trabalho são bem mais adequadas. E a qualidade dos jogadores também melhorou muito.
Olheiros - Alguns treinadores afirmam que o sub-15 é uma categoria difícil, pois os jogadores já começam a lidar com um forte assédio, mas ainda não assinaram contrato profissional. Como você vê essa situação?
Cássio - É bem complicado, até porque na nossa categoria, temos vários jogadores na seleção brasileira,o que já gera um grande assédio por si só. Onde você vai jogar, tem sempre alguém querendo informações sobre os atletas. Tento falar a esses meninos sobre a importância e a grandeza do Vasco, que é o clube que está investindo neles. Temos até um plano de carreira para para valorizar os jogadores da base do clube. Aposto também na amizade, em dar atenção aos jogadores o tempo todo e até hoje nunca perdi nenhum atleta.
Olheiros - O Vasco já conquistou o primeiro turno do Campeonato Carioca Sub-15 e faz boa campanha na Taça Rio, além de ter alguns jogadores convocados para a seleção brasileira. Você não acha que isso pode mexer com a cabeça dos atletas no sentido de deixá-los acomodados?
Cássio - De fato, essa é uma questão bem difícil de lidar. Os meninos, que já passaram por um processo de seleção para chegar em um clube grande, sabem da qualidade deles, mas são adolescentes. O que mais preocupa são os empresários, que cobrem esses garotos de mimos, dizem que são melhores que o Pelé, passam a mão na cabeça quando cometem indisciplina, dão presentes e até salário, mas esquecem que se trata de um ser humano em formação. É bem complicado lutar contra isso, mas nossa função é conscientizá-los de que eles ainda não conquistaram nada no futebol e preparar esses jogadores para o futuro nos profissionais.
Olheiros - Como você analisa a integração que há no momento entre as categorias de base do Vasco? Há alguma orientação para que os times joguem de maneira parecida com os profissionais?
Cássio - Em relação ao sub-15, temos um diálogo legal com os juvenis, porque treinamos juntos. Converso com o Tornado (N.R: técnico do time sub-17) todos os dias e sempre estamos bem informados sobre as categorias. Vou também aos jogos do mirim, que treina em outro horário.
Olheiros - Depois de Alex Teixeira e Philippe Coutinho terem sido revelados na base do Vasco, as expectativas agora recaem sobre o Guilherme, mas alguns observadores afirmam que ele ainda tem algumas dificuldades, sobretudo quando é marcado individualmente. Você concorda com essa análise?
Cássio - Penso que o Guilherme é um jogador de muita qualidade, mas é um atleta em formação e cabe a nós, profissionais que participamos deste processo de formação, detectar e corrigir eventuais defeitos que ele apresentar no dia a dia. Mas essa questão da marcação individual é muito relativa. Depende de quem está marcando, das circunstâncias do jogo. O Matheus Índio, por exemplo, também sofria muito com isso, mas hoje já consegue jogar, porque aprimorou dinâmica de jogo. Penso que, quando você é marcado individualmente, precisa ter boa condição física para desgastar o adversário e, quando os dois estiverem cansados, a sua técnica sobressair. E tanto o Guilherme quanto o Matheus já possuem o mais difícil, que é a qualidade técnica acima da média.
Olheiros - Por que esse time /96 do Vasco não foi tão bem na Copa Brasil Sub-15, em Votorantim?
Cássio - Sempre teremos muitas dificuldades nessa competição, por um motivo simples. Damos férias a todos os nossos atletas em dezembro, enquanto outras equipes, como o Internacional, só param as atividades depois do torneio. Com isso, tivemos apenas dez dias de preparação antes da viagem a Votorantim, e além disso fomos muito desfalcados para o torneio.
Olheiros - Uma das principais críticas que são ouvidas nesse momento em relação ao trabalho de base feito no Brasil é a de que os treinadores, mais preocupados com seu emprego, priorizam mais a formação dos times ao invés de focar no trabalho da melhoria individual de jogadores em mais treinos de fundamentos. Você concorda com essa análise? Como é essa situação no Vasco?
Cássio - Realmente, vejo que isso acontece com frequência. Muitos treinadores priorizam o resultado do jogo ao invés da formação. No Vasco, felizmente não tenho essa cobrança por parte da tiretoria. Trabalho na formação do atleta, ponho-o para jogar, estimulo-o a tentar fazer o que ele faz no jogo de acordo com sua posição, para que ele possa errar e eu tenha a oportunidade de corrigir isso. Não vou botar três zagueiros contra o Flamengo só para não perder um clássico. A evolução do atleta é muito mais importante do que uma ou duas partidas em um campeonato.
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