Sônia Andrade admite que imagem de ‘golpista’ atrapalhou Campello
Primeira mulher na história do Vasco a ocupar um cargo de vice-presidente, a registradora pública Sônia Andrade se manteve fiel ao presidente Alexandre Campello, parceiro político e amigo de longa data, durante os três anos de gestão. Em entrevista ao Esporte News Mundo, ela falou sobre a desistência da chapa Rumo Certo na corrida eleitoral e admitiu como um erro o fato de não terem desconstruído a imagem de “golpista” do atual mandatário.
– Quem está à frente da instituição deve proceder, de forma imparcial e coletiva. Quando começamos a ver a forma que estava sendo conduzida a eleição, preferimos nos manter neutros como gestão para conduzir o processo eleitoral e a transferência de poder da forma mais imparcial possível. Qualquer ação que tomássemos, seríamos acusados de golpe. Tem horas na vida que devemos recuar para poder avançar. Foi uma decisão coletiva, conversada. O Campello sempre levou para a diretoria ações que ele entendia complexas e que deveriam sem tomadas de forma coletiva. Essa decisão de retirar a chapa foi uma decisão coletiva. A gestão foi elogiada pelo crescimento do Vasco, pelas benfeitorias que fizemos, pela inclusão da mulher. Em nome de todo esse trabalho que fizemos, chegamos a conclusão que era melhor sair do processo eleitoral e conduzi-lo de forma imparcial – explicou Sônia.
Para a segunda vice-presidente, Campello teve manteve uma rejeição grande entre parte dos sócios por ter optado por trabalhar “em silêncio”. Na visão de Sônia faltou um trabalho de desconstrução da imagem de “golpista”, surgida nas eleições de 2017, após o rompimento com Julio Brant e a eleição indireta pelos conselheiros, como apoio do ex-presidente Eurico Miranda.
– Essa gestão se preocupou muito em trabalhar e pouco em divulgar. Foi um erro. Deveríamos ter mostrado mais ao sócio que o que ocorreu em 2017 não foi um golpe. Se você faz um acordo comigo e descumpre, me dá a possibilidade de eu não querer mais trabalhar com você. Se antes de entrar, se descumpre tudo que foi acordado, nós já sabemos que não daria certo trabalhar juntos. Foi isso que o Campello fez. Ele se afastou do Brant por uma questão de posicionamento dentro daquilo que havia sido acordado. O que foi vendido para fora foi que ele havia sido um grande articulador do golpe, mas isso na realidade nunca aconteceu. Se você olhar a eleição do Vasco hoje, ela reflete o que houve três anos atrás. O Campello de forma nenhuma participou de golpe. Ele apenas preservou a instituição, mas como diz o ditado: ‘O tempo dirá’. Acho que deveríamos ter trabalhado mas para descontruir essa expressão “golpe”, mas ficamos mais focados em trabalhar, pagar as dívidas e melhorar o Vasco – completou.
Questionada sobre que candidato o grupo político de Campello apoia, Sônia Andrade manteve a descrição.
– Prefiro não falar quem apoio para não tirar a imparcialidade do Campello. Só peço a Deus que coloque dentro do Vasco o melhor, alguém que olhe a instituição com a grandeza que ela tem – concluiu.
Veja outras respostas de Sônia Andrade ao ENM:
Parceria com Campello e eleições:
Sempre estive junto não só do Campello, mas do Vasco. Eu sempre na minha vida tive como premissa a legalidade e a imparcialidade, sempre procurei realizar meu trabalho desta forma e por isso assumi um cargo de registradora pública. Em uma eleição as pessoas deveriam poder sentar e dialogar. Se o objetivo é o engrandecimento da instituição Vasco da Gama, o mais certo a se fazer é isso. Quem elege o presidente hoje é a torcida. Então temos que dar à torcida as condições para eleger o presidente. Isso é o básico. Essa discussão começou a sair de dentro do clube, onde o estatuto reza o passo a passo de como proceder. O estatuto prevê eleições presenciais. Se vamos fazer um acordo para ser eletrônica ou presencial tem que ser entre todos os candidatos. Acho que pessoas que querem o bem da instituição deveriam olhar primeiro o coletivo, depois o individual. Foi feito o contrário e isso é muito triste.
Desempenho do Vasco no Brasileiro:
Tenho certeza que o Vasco não vai cair no Brasileiro. Nunca prometemos que o Vasco seria campeão, mas sim que ficaria no meio da tabela porque nós tínhamos que fazer o dever de casa de pagar as dívidas para em um futuro próximo contratar jogadores de ponta.
Legado:
Assumi o cargo para trabalhar para todas as vascaínas todas as mulheres, nunca perguntei em quem votavam. Todas participaram na minha gestão porque eu estava representando o coletivo e não o Campello. Vou contar um episódio que ilustra. No meio da eleição, subi no trio elétrico para falar com as torcedoras do Vasco. Quando subi, imaginei que seria vaiada ou que prestariam atenção. Fiz um agradecimento por estar ali e falei para as vascaínas que independente da bandeira que defendessem, tinham a obrigação de exigir do futuro gestor a inclusão da mulher dentro do Vasco e do futebol brasileiro. Dei voz às mulheres vascaínas, participei de vários eventos, temos agora mulheres no futebol. Humanizei São Januário. Os funcionários, mulheres, atletas e família tiveram voz. Cuidamos de todos. Atendemos mais de 7 mil pessoas nestes três anos. É um avanço humanizar o futebol e não tratar os meninos como produtos. Meu próximo passo é brigar no Congresso Nacional por uma lei que obrigue os clubes de futebol a dar cotas para as mulheres nas chapas. Estou indo à Brasília para falar sobre esse tema na Secretaria do Esporte. Já existe um projeto de lei tramitando, mas que parou em razão da pandemia. Se deixar esse legado para o futebol, minha missão está cumprida. Pretendo continuar no futebol para dar voz a quem não tem e podemos usar o futebol para potencializar as ações sociais desse país. O futebol é mal aproveitado.
Aceitaria um eventual convite para continuar do candidato vencedor?
Eu continuaria no Vasco se recebesse um convite para ajudar. O que o Campello disse hoje na entrevista eu ratifico. Não estamos preocupados com a gestão, mas sim com a instituição. Se a instituição precisar de mim para qualquer ação dentro daquilo que sei fazer, estou aberta a ajudar o Vasco da Gama. Sempre trabalhei focando no coletivo. No dia que esse país como um todo pensar de forma coletiva em todos os segmentos, nós vamos nos transformar em uma potência. Unidos nós somos mais fortes.
Planos de Alexandre Campello:
Espero que ele pense em um trabalho coletivo dentro de alguma associação, de algum projeto ou até mesmo na política. Sugeri a ele que se candidatasse a deputado. Eu participei do dia a dia do clube e vi um homem dedicado, que chegava de manhã e saía à noite, fazia de tudo pelo Vasco. Eu vejo o Campello como um grande gestor e acho que deve ser aproveitado em qualquer segmento que ele abrace.
Fonte: Esporte News Mundo