Futebol

Saiba por onde anda Leandro Ávila, que fez sucesso no Vasco anos 90

"Aposentado" das quatro linhas prematuramente há dois anos, Leandro Ávila, ex-volante de marcação implacável que fez sucesso na década de 1990, é mais um exemplo de atletas que foram obrigados a abreviar suas carreiras por conta de lesões.

"Passei por duas cirurgias de joelho, sendo que na última tive de reabri-lo para restaurar a cartilagem. Foram três aberturas. Infelizmente, acabei pegando uma infecção hospitalar. Tive febre, fiquei parado por algum tempo e isso acarretou algumas seqüelas", explica Ávila ao Pelé.Net.

No entanto, enquanto vestiu as camisas de times tradicionais do Brasil, o jogador colecionou títulos. Gaúcho de nascimento, Leandro construiu a base de sua carreira no Rio de Janeiro, onde conseguiu uma marca respeitável:

"Conquistei dois tricampeonatos, um pelo Vasco e outro pelo Flamengo. Eu acho que não tem registro disso no futebol, dois tricampeonatos por times diferentes e ainda rivais, o que é mais curioso".

A experiência de atuar nos opostos foi facilitada pelo bom relacionamento com as torcidas, fato decorrente da doação durante as partidas: "Sempre tive uma boa relação com a torcida. O pessoal me respeitava muito. Eu procurava jogar para o time e a torcida reconhecia isso".

O "surgimento" de Leandro para o futebol aconteceu em 1992, no Vasco da Gama. Vindo do Dom Bosco, time que exportava jogadores para o eixo Rio-São Paulo, o ex-marcador chegou a São Januário. Lá, a conquista de uma Copa São Paulo de Futebol, em 1992, serviu de vitrine para os profissionais, com os quais levantou os Estaduais de 1992, 1993 e 1994. "Foi aí que a minha carreira decolou", garante.

Em 1995, Ávila participou da conquista mais significativa do Botafogo até os dias atuais. Ao lado de jogadores como Túlio, Sérgio Manoel, Wagner e Donizete, sagrou-se campeão brasileiro. As boas apresentações neste ano renderam ao volante algumas convocações à seleção brasileira, e a disputa de uma Copa América sob o comando de Zagallo.

Para encerrar o ciclo no Estado da Guanabara, Leandro ainda atuou por Fluminense e Flamengo. No time das Laranjeiras, experimentou um fato inédito na carreira, com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. No clube da Gávea, outro tricampeonato, uma Copa Mercosul e uma Copa dos Campeões coroaram um de seus grandes momentos da carreira.

Ironicamente, foi justamente nesta fase de conquistas que a sua aposentadoria ganhou contornos mais delineados. Após uma passagem pelo Internacional, em 2002, que culminou com a conquista do título estadual, e três meses de experiência na Arábia Saudita, o jogador percebeu a gravidade da sua lesão.

"Em 2003 eu comecei a amadurecer a idéia de parar. Na volta da Arábia, fiquei muito tempo inativo, longe dos gramados. Com o currículo que eu tinha eu não consegui clube", lembra-se o jogador, que identifica o grande alicerce neste momento decisivo de sua vida.

"Eu reuni a minha família e tive muito apoio para parar, principalmente da minha esposa Luciana. Temos que nos preparar psicologicamente para não entrarmos em depressão. O jogador não agüenta parar bruscamente", diz o ex-atleta.

Em 2004, o jogador ainda atuou pelo Marília-SP, seu último clube. Contudo, Leandro sabia que a despedida do futebol seria efêmera. Já em 2005, após concluir um curso de treinador na Associação Brasileira de Futebol, no Rio de Janeiro, reencontrou um antigo amigo na empreitada rumo ao posto de comando: o ex-zagueiro Edinho.

"Eu conheci o Edinho em 1997 no Fluminense, quando ele foi meu treinador. Começamos a fazer uma amizade fora de campo. Nossas esposas também ficaram muito amigas Então, ele me convidou quando eu encerrei a carreira como jogador. Estou como escudeiro dele, por enquanto", explica Ávila.

O convite feito por Edinho para auxiliá-lo no Brasiliense foi aceito e ambos estiveram à frente do Jacaré na disputa do Estadual de 2005. Depois de uma passagem pelo Atlético-PR, atualmente Leandro está na Portuguesa, e o início da nova função no futebol será um desafio.

Além de estar na Série B do Campeonato Brasileiro, a Portuguesa este ano figurou entre os times rebaixados no Paulista, e terá de disputar a segunda divisão do torneio na próxima temporada. Esta marca negativa abalou a relação de jogadores, comissão técnica e diretores com a torcida, revoltada com a situação em que a Lusa se encontra.

"A diretoria tem se empenhado em fazer o clube melhorar. Mas entra um presidente e ele tem que tapar o buraco do outro, é complicado. Temos passado nomes para contratação. Acredito que as pessoas que estão chegando podem nos ajudar muito a melhorar", considera o auxiliar Leandro Ávila.

O principal foco da Portuguesa para este ano é fazer um bom Campeonato Brasileiro da Série B. Caso fique pelo menos entre os quatro melhores colocados, o time paulista conquista uma vaga para retornar à divisão principal.

"Temos que aproveitar esse ano que sobem quatro. A Portuguesa tem camisa e tradição e sempre fez um bonito papel nos campeonatos. Vamos recuperar o prestígio", promete Leandro, recordando que a Lusa já chegou ao vice-campeonato brasileiro em 1996, quando foi derrotada na final pelo Grêmio.

Muito grato ao parceiro Edinho, Leandro revela que está ansioso para dar seus primeiros passos como treinador. Para ter sucesso, o ex-jogador espera aproveitar as melhores características de cada comandante com quem trabalhou enquanto atuava no meio-campo.

"Eu sempre fui um cara muito observador. Hoje em dia eu pego um pouco de cada treinador. Luxemburgo e Felipão, da época de Palmeiras, o próprio Zagallo, que me treinou na Seleção Brasileira. Vou unir os pontos fortes deles no meu trabalho", revela Leandro.

Se as oportunidades para carreira "solo" ainda não apareceram, Leandro Ávila segue paciente na espera pela chance de dirigir um grande clube. E o jogador já demonstra uma certa preferência.

"Ainda não pintou convite para eu trabalhar no Rio. Eu gostaria muito de trabalhar lá, a minha família vive lá. Na hora que pintar a oportunidade, com certeza eu vou. Juntaria o útil ao agradável", diz o nostálgico Leandro.


SÁBIA DECISÃO

O sucesso como jogador que se preocupava em desarmar para depois sair tocando a bola, como o próprio Leandro gosta de definir, só ocorreu por uma razão ocasional. Ao chegar no Vasco, a concorrência assustou o atleta, que optou por recuar um pouco em relação à posição que gostava de atuar para se firmar na equipe.

"Eu não queria disputar a posição com Luizinho, Bismarck, Geovani. Para atacar, havia gente melhor do que eu. Desta forma, resolvi me preparar para ser um bom volante. Já que não poderia ser um coronel, seria um excelente sargento", explica o jogador, de maneira bem-humorada.

"Se você analisar vai perceber que a maior parte dos meus gols foi feita logo no início da carreira justamente pelo fato de eu jogar com um pouco mais de liberdade", acrescenta o jogador.


SAUDADE DA BOLA
Por ter parado cedo e sua aposentadoria não ter sido muito alardeada, Leandro Ávila revela que algumas situações curiosas acontecem diariamente na Portuguesa. "Alguns torcedores menos avisados perguntam quando vou entrar em campo, quando vai ser a minha estréia", brinca o auxiliar.

Por falar no assunto, Leandro não esconde que a vontade de jogar ainda permanecerá viva por muito tempo. "Dá vontade de jogar. Quando algum jogador falta, eu entro e completo no coletivo. Mas estou bem resolvido quanto ao futuro da minha carreira como treinador", garante o futuro técnico.

Fonte: Pelé.Net