Futebol

Rival: Diretor do Nacional quer mudar imagem e ganhar torcida

Um dos maiores jornais do Amazonas anunciou o confronto Nacional e Vasco, pelas oitavas de final, como “o jogo do ano”. De fato, em uma madrugada e um dia, a delegação vascaína movimentou os manauaras, com presença maciça no aeroporto e no treino, com direito até a invasão. Mas um dos amazonenses, torcedor do Nacional, reparou uma diferença com a chegada do time carioca na cidade.

- Desde ontem (domingo), as camisas do Vasco praticamente sumiram. Acho que se deram conta de que o que está em jogo é também a autoestima do amazonense. Hoje o torcedor de futebol em Manaus é telespectador. Fica batendo palma e cantando assistindo ao Vasco, ao Flamengo, pela televisão. Perderam a noção do estádio – observa, com olhar crítico, Haroldo Falcão, que é diretor de planejamento estratégico do Nacional, time que na década de 1970 disputou a Série A do futebol brasileiro.

Quase todo o discurso de Falcão parece em tom de desabafo. Mas nada contra o povo manauara ou o torcedor que prefere vestir o vermelho e preto do Flamengo ou colocar a cruz de malta no peito do Vasco. Ele condena o trabalho dos dirigentes do futebol amazonense em levantar o estado e a cultura do esporte na cidade.

- Adoro o Rio. Todo fim de ano vou para lá, fico em Copacabana, ali na rua Djalma Ulrich, sem problema algum. Não é bairrismo. Mas para mim o cara torcer para o Vasco ou para o Flamengo é que nem um carioca ou um paulista torcer para o Real Madri ou para o Barcelona. Isso não entra na minha cabeça. A culpa não é do torcedor, é de quem deixou o futebol do Amazonas esquecido – diz Falcão, que é empresário e está há dois anos na administração do Nacional.

Orgulhoso, Haroldo Falcão mostra a sala de troféus do Nacional, o maior campeão do Amazonas, com 41 estaduais. Passa pela piscina do clube e pelas obras da academia, sempre realçando o poder de erguimento dos apaixonados por futebol na cidade. Com números e estatísticas que ele sabe de cabeça, Haroldo lembra que o clube vai faturar cerca de R$ 350 mil com o jogo no pequeno estádio do Sesi, o Roberto Simonsen, menos R$ 200 mil do que poderia ganhar em Brasília. Falcão também espera que a Federação de Futebol do Amazonas e os clubes se mobilizem para que a nova Arena Amazônia não vire um reduto de clássicos cariocas ou de times do Rio contra times de outros estados. Se jogarem em Manaus, assim deseja Haroldo Falcão, que seja contra times manauaras.

- Se o torcedor amazonense que é vascaíno vir o Nacional vencendo o Vasco, aqui, tenho certeza que o sentimento amazonense nele vai aflorar. Vão se virar a favor do Nacional. E isso que queremos. O amor e o ódio andam um do lado do outro – filosofa o dirigente do Nacional, que diz ter promovido uma espécie de choque de ordem na cultura do clube.

Com projeto para descobrir jovens valores, atração de patrocinadores e incentivo para torcedores usarem as redes sociais, o Nacional quer resgatar o orgulho e a torcida do amazonense. O clube completa 100 anos com projetos ambiciosos.

- Quando se fala da Bahia logo se pensa no Bahia e Vitória, em Pernambuco tem os três times (Náutico, Sport, Santa Cruz), em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul também... Por que na sexta maior economia do país, com um clube centenário e um povo de dois milhões de habitantes, o amazonense tem que ser Vasco ou Flamengo? Nada contra os clubes, mas o futebol é cultura, é autoestima e o torcedor pode ser fracassado em tudo, mas ele quer se orgulhar do time dele. Nossa missão é resgatar isso, é fazer com o que povo possa se identificar com o que é seu – diz Haroldo Falcão.

Fonte: ge