Futebol

René Simões responde carta da torcida sobre o caso Felipe

Renê Simões resolveu enviar uma carta de resposta aos representantes da Associação de Torcidas do CRVG (Astovas), que pediu a permanência de Felipe no Vasco. No documento enviado aos torcedores, o diretor executivo pede aos torcedores que “a razão fale mais alto do que o coração”, pede confiança no trabalho, enumera regras de condutas necessárias aos jogadores e ainda cita um trecho Carlos Drummond de Andrade

Segue abaixo a carta na íntegra:

Ídolos são exemplos de performance dentro e fora de campo!

Prezados representantes da ASTOVAS e torcedores Vascaínos,

Quero em primeiro lugar agradecer a carta de vocês – que golaço! Sinto a energia e amor ao Vasco nas palavras. Sinto também a cumplicidade no que combinamos na nossa reunião, pois sei que a opinião e pensamento de vocês têm que ser tratados com o máximo de respeito e atenção na nossa tomada de decisões, mesmo que a decisão tomada não seja a esperada naquele momento.

Já estava escrevendo minha resposta curta e direta para vocês quando soube da publicação da carta. Como vocês representam a voz da torcida, permitam-me também torná-la mais explicativa e publicar a resposta com algumas colocações que entendo serem pertinentes para o momento.

Entendo perfeitamente o anseio de vocês por não perderem mais um dos grandes nomes do Vasco. Vocês têm sofrido com um final de ano muito difícil e estão preocupados com 2013. Porém, em se tratando do futuro do Vasco, do caminho que temos que tomar, é necessário que a razão fale mais alto do que o coração. E é com a razão que eu peço que vocês analisem os pontos abaixo.

1. Dentro de uma empresa, todo funcionário que quebra as regras e ética em seu comportamento tem que ser disciplinado. Por mais talentoso em sua profissão que ele seja, é preciso considerar as consequências desse comportamento contínuo dentro de um grupo – como a quebra da hierarquia, disciplina e harmonia entre todos os membros.

2. A situação do Vasco está longe de ser a ideal no momento, mas também longe de ser insolúvel. Mesmo assim muitos de seus ídolos já foram buscar seus direitos na Justiça. Mesmo tendo ido à Justiça continuaram sendo ídolos.

3. Alguns jogadores já tiveram seus salários reajustados em plena vigência de seus contratos, ou teriam saído para outros clubes. Certos ou errados, não deixaram de ser ídolos.

4. Um ídolo, craque dentro de campo durante os jogos, não pode se eximir de suas responsabilidades. Toda empresa é assim. Por que abrirmos exceção no futebol? É preciso chegar na hora marcada, treinar forte, suar a camisa pelo clube, cuidar da saúde e do corpo, não exigir privilégios ou posição dentro de campo, se transportar de forma que não corra perigo ao seu corpo ou sua vida, não simular contusões, não fugir de viagens longas de ônibus, não se poupar nos treinamentos pois tem outra atividade esportiva logo após, respeitar a hierarquia, ter cuidado nas entrevistas e comentários sobre a Instituição, dentre outras coisas. Não são essas as obrigações dos grandes jogadores de futebol ou só os carregadores de piano devem fazê- lo?

5. Fui ao dicionário buscar o significado da palavra ídolo e encontrei algumas, mas em nenhuma delas está escrito – “Ídolo: pessoa ou indivíduo dotado de grande talento, admirado por muitos, que por sua capacidade de realizar algo próximo da perfeição possui direitos especiais e deveres diferenciados ou reduzidos.”

6. O Vasco foi o primeiro clube a aceitar negros – sem o Vasco não haveria Pelé. Foi também o primeiro clube a aceitar pagar salários aos seus atletas para jogarem – sem o Vasco não haveria salários milionários. O Vasco construiu o maior estádio particular da América Latina através de seus torcedores. O Vasco é muito grande para aceitar que seus ídolos não o tratem com o respeito que ele merece – Ídolos precisam ser exemplos que fazem a alegria do torcedor, mas que contribuem positivamente para a união do grupo e formação de gerações futuras. Precisam ser disciplinados e exercer suas funções adequadamente.

7- Tenham absoluta certeza de que eu não tenho nada de pessoal contra o Felipe. Como também não tinha e nem tenho quando falei sobre o Neymar. Com o Neymar pensei no futuro do futebol brasileiro e dele mesmo. Pensei como educador e principalmente como torcedor e fã de seu futebol.

Hoje, tenho uma grande responsabilidade de fazer com que todo o elenco que estará no clube em 2013 esteja com a certeza de que não haverá regalias, independentemente de status, conquistas, tempo no clube ou salário em dia, obrigação do clube, ou atrasado, lamentavelmente. Preciso fazer com que eles tenham no Vasco o objetivo principal para que cada um atinja seu objetivo pessoal através do sucesso do grupo

Sei que vocês gostariam de receber um posicionamento diferente. Seria muito mais fácil e menos desgastante para mim. Mas como já falei na reunião com vocês, não venho para usar o Vasco ou para tê-lo como um trampolim. Não quero brincar com o Vasco nem estou interessado em gerar alegrias a curto prazo que geram frustração futura. Quero ajudar a reerguer o Vasco na grandeza do Gigante da Colina, do Expresso da Vitória.

Por favor confiem no trabalho que estamos realizando. Temos profissionais muito sérios lutando pelo Vasco. Nos deem tempo para resolver com calma e profissionalismo sem atropelar o que é necessário fazer.

Espero estarmos criando uma nova forma de comunicação e respeito entre o clube e a torcida. Tenho fé de que nosso ano que começa será marcado por essa grande aliança que estamos estabelecendo, e que isso nos gerará sucesso dentro e fora do campo.

Já tivemos uma grande Vitória com a demonstração de união e amor pelo clube dada pelo Conselho Deliberativo na votação do orçamento. As ideologias ficaram de lado e o Vasco ficou acima de tudo. Parabéns aos conselheiros.

Tenham paciência e resolveremos tudo, com habilidade, energia, hierarquia, paciência e, acima de tudo, respeito ao Vasco e a você torcedor.

Desejo à todos um 2013 de muitas alegrias e saúde e cito Carlos Drummond de Andrade para motivá-los .

“Cortar o tempo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”

René Simões

Fonte: Blog Primeira Mão