Relembre aqui o passado nebuloso e as acusações contra Eurico
Advogado, Eurico Miranda declara que vive dos rendimentos de seu escritório. Seja nas esferas eleitoral, esportiva ou criminal, sua sobrevivência está diretamente ligada ao Direito. Nas brechas da lei, o dirigente procura formas de escapar das acusações que cresceram junto com a evolução de seu patrimônio.
Segundo relatório da CPI do Futebol, no Senado, Eurico se apropriou indevidamente de cerca de R$ 20 milhões do Vasco para gastos pessoais e também para custear sua eleição de deputado federal em 1998. As investigações também apontaram a existência de caixa dois no clube, a compra de uma casa no valor de US$ 400 mil na Flórida e um cheque de US$ 100 mil não contabilizados pelo Vasco após participação do clube no Mundial de Clubes.
Defendido pelo ex-deputado Severino Cavalcanti, seu colega de PPB e então primeiro secretário da Câmara, Eurico acabou escapando do processo por quebra de decoro parlamentar. Quem decidiu tirar-lhe o mandato foram os eleitores.
Depois de duas legislaturas, ele tentou sem sucesso voltar para Brasília. A situação eleitoral também já lhe foi mais favorável no Vasco.
Depois de vencer Roberto Dinamite em pleito repleto de suspeitas em 2003, as polêmicas e o resultado se repetiram no ano passado. Dessa vez, no entanto, o resultado ficou sub-júdice. Peritos comprovaram irregularidade em 1.256 votos e a oposição briga na Justiça por novas eleições, que já chegaram a ter data e local marcados.
Viradas de mesa e casamento político
Eurico é um dirigente de recursos nem sempre esportivos. Responsável por mudanças de regulamento, evitou a primeira das quedas do Fluminense à Série B. Já foi mais aceito pelos pares, inclusive na CBF, onde foi diretor de futebol e um dos articuladores da unidade das federações estaduais em torno do modelo vigente quando era maior o clamor por mudanças. Hoje, está isolado até dentro do próprio clube. O casamento político com o ex-presidente do Vasco Antônio Soares Calçada começou a ruir na CPI, junto com a imunidade de Eurico.
Ao garantir que o Vasco jamais teve aplicações no exterior, Calçada deixou a suspeita de sonegação na conta do ex-deputado. Foram encontrados R$ 12,5 milhões no paraíso fiscal de Nassau, nas Bahamas, onde eram feitos os adiantamentos da parceria do Bank of America com o clube.
Nas duas últimas eleições no Vasco, Calçada omitiu-se quanto seu voto. Ao pegá-lo pela mão para levá-lo à urna, Eurico mostrou que ainda estão de alguma forma ligados pelos tempos em que respondiam juntos pelo clube. A oposição pede mais transparência, diz que não sabe a real situação do clube. Os holofotes da CPI chegaram a mostrar a existência de laranjas e a prática do caixa dois que teria sido admitida em depoimento de um ex-contador.
Na época, o médico Pedro Valente cobrava explicações também para o assalto que Eurico sofreu ao ir para casa com a renda de um jogo. Hoje, estão juntos na direção do clube.
Vice-presidente geral do Vasco, Pedro Valente trocou a tribuna da acusação pela defesa de Eurico e da tese de que há uma perseguição histórica contra o Vasco. No mundo do futebol e da política, a fidelidade é relativa, como a interpretação das leis. Eurico não muda de lado, continua no centro do poder do Vasco e das acusações que crescem à medida inversa de seu prestígio.
Resta saber até quando ele vai sobreviver graças ao seu escritório de advocacia.