Reforma do Estatuto do Torcedor prevê proibição de cantos provocativos

O presidente Lula sancionou nesta terça-feira (27) mudanças no Estatuto do Torcedor, aprovado em 2003. Entre as alterações, que visam evitar violência e proteger as torcidas, está a proibição de cantos discriminatórios. Mas um levantamento feito pelo JB Online mostra que algumas músicas das torcidas organizadas dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro incitam a violência e o ataque aos adversários. Muitas chegam a ameaçar o torcedor e convocam os filiados para brigar com outras torcidas. Esses câ nticos ficam disponíveis na internet onde qualquer pessoa pode ter acesso.

Uma das torcidas do Flamengo, em um dos cantos diz que os “guerreiros” são corajosos e “não têm medo de morrer” pelo time. “Se você não for da Raça, trate logo de correr/ Ela vem com seus guerreiros, ela vem pra te f.../ Rubro negro é assim mesmo, dá porrada em qualquer um, oh que beleza/ O rubro negro não têm medo de morrer/ oh lele, oh lala/ A Raça vem aí e o bicho vai pegar”.

Em outra música eles convocam as torcidas de outros times para enfrentá-los. “Oh balancê, balancê/ Quero bota pra f.../ Eu sou da Raça, eu sei que arrepio/ Nós somos o terror do Rio/ Pode vim a Cachorrada (torcida do Botafogo)/ Pode vim o Pó de arroz, a Playboyzada (Fluminense)/ Pode vim a força do Bacalhau (Vasco) que a Raça baixa o pau”.

A torcida do Botafogo, que ultimamente tem se queixado de erros da arbitragem, fez uma música para atingir, ao mesmo tempo, a torcida adversária e o juiz. “Tu és...Time de fanfarrão!/ Só ganha metendo a mão!/ Que papelão!/ Eu... Nunca me calarei!/ Aonde estiver gritarei: pega ladrão!”.

Uma das organizadas do Botafogo convoca outras torcidas para brigar “na mão”. \" A Fúria é f... encara pau e pedra ainda faz na mão, Young c... (Fluminense) deu tiro de pistola e correu na mão!”. Em outra música eles cantam que o mesmo amor que têm para torcer, têm para brigar. “Tá chegando a Cachorrada/ Na hora da pancada/ Na hora de torcer/ A Cachorrada bota pra ferver“.

A maior torcida organizada do Vasco festeja, durante os jogos, a vitória sobre os outros clubes, na ordem de preferência. “O Urubu (Flamengo) tomou no c.... /O Pó de Arroz (Fluminense), tomou depois/ O Glorioso (Botafogo) chupou meu p.../ e o Campeão é o Bacalhau”. Em outra, eles atacam diretamente a torcida do Flamengo, o maior adversário no estado. “O senhor, é vascaíno, e vascaíno eu também sou, a Força é rei, a Raça é c..., porrada no Urubu!”

Já a maior torcida do Fluminense, apresenta o roteiro da violência. “Dando um rolé no Rio/ Fui no Maraca dá um ataque na Força (Jovem do Vasco)/ E antes de partir pro rolé, fui no Centro dá um ataque na Jovem (Fla)/ Mas de repente o celular tocou/ Vamu partir pro Méier que a Fúria c... (Jovem do Botafogo) chegou/ E a Young Flu saiu voada/ Diz que é disposição e ainda fala que é o terror”.

Em outra canção eles revelam que ser torcedor não é fácil, e ameaçam as outras torcidas. “Young Flu bonde sinistro, tá batendo a vera/ o bonde é só de cria, Fúria c... (Jovem do Botafogo) já era/ Vida de torcida, essa p... não é novela/ Qualquer dia tamo ai e a Raça (Rubro negra) vai ter fim/ Tricolor é nóis”

Outros cantigos são compartilhados entre as torcidas para atingir o mesmo adversário. “Favela, favela, silêncio na favela”, os torcedores cantam para estereotipar o torcedor do Flamengo.

De acordo com as alterações no estatuto, além da proibição de cantos discriminatórios, violência e vandalismo num raio de cinco quilômetros dos estádios podem acarretar prisão por até dois anos. As torcidas organizadas devem manter cadastro atualizado dos associados e passarão a ser corresponsabilizadas pelos atos cometidos por eles. Aquelas que incitarem a violência poderão perder o direito de frequentar os estádios por até três anos.

Os árbitros também serão punidos caso interfiram no resultado da partida. Uma das novidades é que os cambistas também deverão ser punidos pela venda irregular de ingressos a preços mais altos que nas bilheterias. Todas as arenas com capacidade para, no mínimo, 10 mil espectadores devem ter monitoramento das roletas nas entradas de torcedores e os ingressos devem ser feitos eletronicamente.

A imprensa internacional saudou a iniciativa do presidente brasileiro para manter a paz nos estádios durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. “Brasil erradicará a violência visando ao Mundial de 2014”, destacou o jornal CRE, do Equador.