RedeTV diz que quer colocar jogos no horário das novelas da Globo
Nos últimos minutos da reunião do Clube dos 13 que selava a venda dos direitos de TV aberta dos Campeonatos Brasileiros de 2012 a 2014, um diretor da entidade relatava por celular:\"São as três horas mais tensas que já passei\".
Marcado para as 10h desta sexta-feira (11), só às 12h40 houve o anúncio do vencedor da licitação, na sede comercial do C13, na capital paulista. Com a desistência de Globo e Record, a Rede TV! confirmou a zebra, prometendo R$ 516 milhões por cada temporada. Mas condicionou o acerto à \"anuência dos 20 clubes que integram o Clube dos 13 atualmente\".
Estavam presentes a diretoria do C13, representantes de São Paulo, Atlético Mineiro, Internacional, Coritiba, Atlético Paranaense, Bahia e Goiás, além do professor Antonio Zoratto Sanvicente, do Instituto de Ensino e Pesquisa, contratado para medir as propostas.
\"Às 10h, vi que não apareceu mais ninguém, e entreguei o envelope. Tinha outro guardado, com valor mais alto, mas não foi preciso\", narrou o diretor de relações institucionais da Rede TV!, João Alberto Romboli, sem querer revelar o preço da carta escondida na manga do paletó.
Sua emissora pode sublicenciar a transmissão a uma concorrente, pagando ao C13 mais R$ 103 milhões.
\"Não é nosso desejo dividir (com outra TV)\", afirmou Romboli, que não descartou essa possibilidade. \"Quero pôr na (hora da) novela\", confessou, referindo-se ao horário nobre da Globo e abrindo pela enésima vez o sorriso largo de uma felicidade indisfarçável. \"Não temos novela. O futebol será nossa novela\".
Dois pontos atrasaram o acerto: a necessidade de consenso entre todos os filiados e a garantia financeira com contratos dos anunciantes da Rede TV! ao invés das onerosas cartas-fiança.
Prorrogação
O ar de indefinição persiste entre os cartolas.
\"Vamos conversar. Quem vai decidir são os clubes\", frisou o presidente do C13, Fábio Koff.
\"Vamos esperar\", esquivou-se João Bosco, conselheiro do Goiás.
\"Começou agora\", avisou o diretor jurídico do C13, Celso Rodríguez.
\"Podemos empacar e não ter imagem (de jogos) para nenhum dos lados\", declarou o diretor executivo Athaíde Gil Guerreiro, cogitando um impasse entre TVs.
\"Resolveu o problema? Não sei. Acho que nenhum de nós aqui pode dizer\", admitiu o presidente são-paulino Juvenal Juvêncio.
A predileção dos dirigentes é pela poderosa e tradicional Globo. Metade do C13 promete barganhar suas cotas separadamente, embora o estatuto determine o pacote coletivo.
\"Tem uma questão jurídica aí. Talvez já tenha isso (a autorização dos clubes) por escrito, vamos ver\", comentou o advogado de um dos clubes filiados, sorrindo com expressão de confiança.
Guerreiro guarda sigilo sobre a forma de comunicar e convencer os 20 clubes a aceitarem a Rede TV!. \"Não tem prazo. Vamos montar uma estratégia\".
Ele contabiliza oito aliados: São Paulo, Atlético Mineiro, Inter, Atlético Paranaense, Bahia, Portuguesa, Guarani e Sport. Indica Vitória e Goiás \"em cima do muro\". E lista 10 insurgentes: Corinthians, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras e Santos.
Na hora da novela
\"Parabéns para o Brasil\", comemorou Romboli. \"É nosso!\", vibrou, antes do condicional: \"Se houver o compromisso com o resultado\". Ele não crê em reviravoltas. \"Eu não perderia meu tempo\", disse, sobre os esforços até agora.
Rodríguez garante que as emissoras, isoladamente, ofereceram menos dinheiro aos clubes do que cabe a cada um na bandeja da Rede TV!:
\"Todas as propostas são seguramente menores\".
Ele aponta dois impedimentos para as conversas independentes: a orientação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra tratativas direcionadas e a saída não formalizada do C13.
A empolgação da sua emissora com a bola começou na Série B de 2008. \"Só nós tínhamos o Corinthians (na TV aberta)\", festejou o palmeirense, satisfeitíssimo pela audiência alvinegra.
\"Aí deu coceira\", brincou Romboli, sobre a vontade despertada de investir no esporte. Campeonatos europeus deram sequência à experiência. \"Já aprendemos algumas coisinhas\". Ele cita os desfiles de lingerie em programas de auditório da Rede TV! que coincidem com os intervalos dos jogos de futebol exibidos pelas concorrentes e fisgam o público que zapeia entre os canais.