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Reaberto ao torcedor e com quadro de sócios revitalizado, Vasco resgata sua

Uma posta alta de bacalhau Gadus Morrua, batata, cebola, pimentão vermelho, tudo banhado em bastante azeite e levado ao forno a 180 graus.

Depois de 45 minutos, está pronto o “Bacalhau a Vasco da Gama”, prato principal do Restaurante do Almirante, em São Januário. Concessionário da casa há oito anos, Artur Brandão, sócio do clube desde 1968 e casado com uma ex-campeã carioca e brasileira de ginástica olímpica, não se contém: — Está entre os três melhores do Rio! Não perco para o Adegão, nem para o Antiquarius.

Sem falar que é comido num ambiente que dá ao prato um sabor especial.

Clube tem novos sócios com perfil bem diferente

A referência implícita à herança lusitana valoriza o produto, mas Artur, homem de trânsito livre entre atuais e exdirigentes, admite que, de um ano para cá, o ambiente acolhedor que acentua o prazer degustativo de sua clientela extrapolou o limite espacial do “Almirante”. Historicamente reconhecido como um dos berços da democracia no futebol brasileiro, status denegrido nas quase duas décadas do totalitarismo euriquista, o Vasco dá sinais de revitalização também fora de campo.

Com o portão principal da Rua General Almério de Moura agora sempre convidativo à entrada, dependências livres à circulação e um clima predominantemente simpático entre atletas, funcionários e torcedores, São Januário parece recobrar, aos poucos mas num processo contínuo, o caráter plural de sua identidade.

— O clima era pesado, as pessoas haviam se afastado daqui — lembrou o aposentado José Augusto de Castro, enquanto assistia a um treino dos profissionais. — O Vasco está mais receptivo, já se pode circular por aqui. Estão acontecendo coisas diferentes.

Um das bases dessa política de (re)abertura que promoveu o reencontro entre o torcedor e sua paixão é o programa “O Vasco é meu”. Lançado há seis meses para captação de novos sócios, tornou-se um dos cases de maior sucesso entre times de futebol no país. Antes dele, o clube tinha 900 sócios e um cadastro grande, porém sujo e pouco aproveitável. Hoje, os sócios cadastrados — nem todos em dia — são 40.030, mais de 14 mil entre as categorias proprietário e geral, que pagam respectivamente R$ 40 e R$ 30 mensais e têm direito a voto. O perfil de quem abraçou o Vasco num momento de dificuldade e faz questão de mostrar a cara na sede é tão animador quanto surpreendente: a maior parte tem entre 25 e 33 anos (7% de mulheres); 29% têm nível superior completo, 18% são pós graduados, 15% tem segundo grau e 89% primeiro grau completo.

— Existia uma demanda reprimida.

O mérito do Roberto (Dinamite) foi abrir o Vasco ao torcedor, atraído por benefícios como acesso aos jogos e direito a voto, que dá ingerência.

É o que fideliza — diz Jefferson Melo, do departamento de marketing. — Não há mais um curral eleitoral, não serão a colônia ou as torcidas organizadas que vão decidir uma futura eleição.

O professor de literatura Diogo Oliveira, carioca que vive há sete anos em Mato Grosso do Sul, mas veio à cidadenatal prestigiar o time na reta final da Série B, revela o sentimento, que garante não ter parado nem nos piores momentos do passado recente: — Quando se entra aqui, você se apaixona.

Sócio desde os anos 60, com breve interrupção nos 90, Aníbal Curto prevê bons tempos: — Se a diretoria aproveitar o que está acontecendo, o Vasco dará uma virada histórica.

Fonte: O Globo