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"Quando se abrirão os portões do Vasco?", questiona artigo

O Vasco sai desta eleição rachado por traições, melindres e pedidos por respeito “à instituição Vasco da Gama". Instituição, no caso, são os conselheiros. Os demais sócios não têm lugar na frase, as urnas em que votam são mera formalidade. O jogo que vale taça se dá, preferencialmente, de portões fechados. O estatuto do clube permite elitismos que jamais foram usados em 120 anos, mas a possibilidade de serem engatilhados com frequência assusta até quem não se choca mais.

Na vitória de Campello, pesou a inabilidade de Julio Brant, que não dedicou à articulação política o mesmo capricho que reservou à jurídica — e Campello parece sincero no rancor de ter sido o último a saber das decisões, através da coletiva de Brant. Enquanto isso, Eurico cansava o rival nos tribunais, continuava convencendo conselheiros: não sairia vencedor, mas queria derrotar Brant.

Eurico soube usar a mesma coletiva do rival para inflamar os neutros do status quo , isto é, os conselheiros natos e vitalícios: gente que, por seu caráter histórico, percebe suas personalidades como a própria instituição. Ao fim do processo eleitoral, a parte da corte que quis dar uma lição na vaidade do “moleque” conseguiu sua vingança, mas abriu a caixa de Pandora que será lembrada a cada pleito: como convencer vascaínos a pagar planos caros com direito a voto? Como dar credibilidade e um processo que pode ter liminar e reset a qualquer momento?

A primeira dúvida agora é sobre a dívida política. No seu momento zero, Campello trocou a sombra de Brant pela de Eurico aos olhos do público: as declarações sobre uma vitória “pura” soaram ingênuas quando, logo ao lado, o Homem-Clube gabou-se de ser inderrotável. Quando um grupo político afirma apoiar um candidato sem querer cargos, não está dizendo que não há um preço. A questão é saber se Campello já sabe como e quando pagar.

E mais: o eleito enfrentará embaraços caso queira tornar o Vasco mais e atraente para a iniciativa privada que exige transparência — algo que a gestação de sua candidatura, embora legal perante o estatuto, não ensejou. Começar tendo que dar explicações não é o melhor jeito de vencer.

Mas esse são incômodos de pouca monta. Em suas sedes, “a instituição Vasco" se entende, e se define por um elitismo impermeável a valores modernos como representatividade, práxis de mercado e prestação de contas ao sócio que vota e ao torcedor-consumidor que o empurra. O espírito do seu estatuto garante que toda mudança será arbitrada pelos que chegaram antes. O desafio que se impõe aos vascaínos dentro e fora dos portões é avaliar os resultados recentes e indagar se ainda faz sentido avançar nessa marcha à ré.

Fonte: O Globo