Futebol

Philippe Coutinho se adapta bem à Itália e mostra naturalidade de veterano c

O relógio marca 18h15m no Brasil.

Na Itália, já são 23h15m. Concentrado para o jogo do Internazionale com o Udinese, Philippe Coutinho demora a atender o telefone. Somente após o quinto toque surge uma voz do outro lado da linha. O ex-jogador do Vasco, que impressionou Mano Menezes nos treinos da seleção em Barcelona, pede desculpas e diz que vai sair do quarto para não incomodar seu companheiro, ninguém menos do que o goleiro Júlio César.

A voz é de quem ainda está na adolescência, mas a segurança e a tranquilidade demonstram que o sucesso rápido e os elogios ainda estão sob controle.

— Fiquei à vontade na seleção.

Fui muito bem recebido e espero ter aproveitado a oportunidade para voltar outras vezes — disse o garoto, nascido no bairro carioca do Rocha.

Ele acaba de completar 18 anos e sequer tem carteira de motorista.

Por enquanto, Philippe Coutinho não precisa se preocupar.

Mano voltou de Barcelona entusiasmado. Não se arrependeu nem um pouco de ter escolhido o garoto para substituir Paulo Henrique Ganso no meio-campo da seleção: — O Mano me pareceu um cara muito tranquilo. Ele me deixou à vontade e sempre procurou corrigir meu posicionamento em campo. Ele conversou muito comigo.

Picanha para matar saudade O carioca também tem recebido atenção especial no Inter.

A adaptação foi muito mais rápida do que todos, inclusive o próprio jogador, podiam imaginar.

Tem jogado com frequência, quando a previsão era que só fosse aproveitado a partir do ano que vem. Mas foi o técnico espanhol Rafa Benitez bater o olho no garoto para ficar empolgado: — O fato de ter muitos brasileiros aqui facilitou as coisas.

Eles estão sempre me ajudando quando não entendo alguma coisa em italiano. O Lúcio e o Júlio César têm sido muito legais comigo. O treinador também tem tido muita paciência. Fala em espanhol comigo para eu entender melhor e tem me dado oportunidades.

Estou me sentindo muito bem aqui.

Como todo jogador que se destaca um pouquinho, Philippe Coutinho já tem um site próprio.

O que chama atenção na página de abertura é que seu nome está escrito com um “p” apenas. Mas ninguém pense que se trata de numerologia: — Meu nome é Philippe com dois “ps” mesmo, como sempre foi. Os caras do site botaram um “p” apenas por ficar melhor na página.

Philippe está morando em um apartamento vizinho ao Estádio San Siro. Vieram do Brasil com ele, a mãe, o pai e a namorada, Ainé, que fará 18 anos mês que vem. Os dois irmãos ficaram no Rio, mas em breve embarcam para a Itália.

O carioca ainda está se adaptando a Milão, mas já percebeu que se trata de uma cidade elegante e tranquila.

Por enquanto, sua preocupação é decorar o apartamento, que está praticamente no osso. Há apenas dois colchões de casal. Também tem pressa em aprender italiano. A fome e a saudade do Brasil ele mata nos restaurantes brasileiros que já descobriu na cidade: — Eu adoro picanha e aqui acha mole. Eu e meu pai comemos sempre. Já vi que comida não será problema. Sinto falta mesmo é dos meus amigos do Vasco e lá do Rocha.

Na seleção, Philippe Coutinho não encontrou o amigo Neymar, seu companheiro de seleção sub-17. Os dois disputaram juntos o Mundial da categoria, ano passado, na Nigéria.

Uma grande decepção.

— Até começamos bem. Ganhamos a primeira, mas perdemos as duas outras e acabamos eliminados na primeira fase — recorda.

Se não encontrou o amigo, Philippe Coutinho teve a oportunidade de conhecer de perto seu ídolo Robinho. Quando o capitão da seleção estourou no futebol, no Brasileiro de 2002, com apenas 18 anos, o ex-jogador do Vasco tinha 10 anos. Ficou maravilhado: — Desde aquela época que Robinho é meu ídolo. Até hoje paro ver seus jogos. Atuar ao lado dele foi mais do que realização de um sonho.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo