Pelada de Bastos e Allan arrecadou meia tonelada de alimentos
Os carrões estacionados no terreno de uma antiga lona abandonada em frente ao Piscinão de Ramos contrastavam com a realidade da Comunidade Roquette Pinto. Assim como o sucesso do meia Allan, do Vasco, e a humildade (até com uma certa timidez) estampada no rosto deste jovem ao contemplar a bela quadra de futebol society contruída sobre o campo de terra batida onde, há não muito tempo, arriscava seus primeiros chutes.
\"Quando eu tinha a idade destas crianças, só queria saber de vir para o campo e jogar futebol. Estou feliz por proporcionar a eles conhecer jogadores de verdade e participar desta grande festa. Hoje (ontem) viemos para nos divertir e curtir este momento\", disse, com a dificuldade peculiar de um ídolo cercado por uma centena de fãs.
Que mais tarde se tornou milhar e mais tarde ainda dobrou. Cerca de duas mil pessoas se apertaram na acanhada arquibancada de concreto do complexo esportivo ou se agarraram ao alambrado que cerca o perímetro da quadra para ver de perto o filho que deu certo e não nega sua origem. Em parceria com Felipe Bastos, também do Vasco, Allan promoveu o \"Natal sem Fome\", jogo beneficente que arrecadou mais de meia tonelada de alimentos não-perecíveis, que será distribuída às famílias mais carentes da comunidade.
\"É maravilhoso poder ajudar essa gente que passa fome e, ao mesmo tempo, proporcionar um espetáculo para o pessoal\", exclamou, enquanto cumprimentava os amigos de bola.
E foi realmente uma partida espetacular. Compareceram à festa Diego Souza, do Vasco, Negueba, Diego Maurício e Muralha, do Flamengo, Wellinton Nem, do Fluminense, e Sidney, da base do Botafogo e morador da comunidade, além de Erick Flores e Fabrício, pratas-da-casa rubro-negras. Um companheiro, outros eventualmente adversários, Todos amigos. E cooperando para o bem comum. O time de Felipe Bastos venceu por 9 a 7, frustrando a torcida em massa a favor da equipe de Allan. O placar, no entanto, não passou de um mero detalhe: a vitória foi da esperança, em cada olhar infantil acompanhando o bailar das chuteiras reluzentes de cada ex-garoto-descalço.
\"Homenagear o Fenômeno, Romário, Ronaldinho Gaúcho é mole. Quero ver fazer música para o Allan! Ele é um exemplo para todo mundo aqui\", explicou um compositor local conhecido como \"Brega\", orgulhoso menos pela canção de sua autoria, reproduzida nos auto-falantes do quiosque vizinho à quadra, e muito mais pelo menino que virou campeão.
Os refletores do sucesso são os mesmos que expõem a miséria fora das quatro linhas. São justamente eles, porém, que revelam o bem pelo bem. A pelada? Terminou em batucada na quadra da Escola de Samba Beco do Siri, onde famosos e anônimos se uniram em confraternização. Lá, não havia ricos nem pobres, mas felizes. Uns pelo que já são. Outros pelo que podem ser um dia.
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