Futebol

Pedro Valente fala sobre seu trabalho no Departamento Médico do Vasco

A despeito da influência de muitos fatores ligados ao coletivo, a capacidade de rendimento de uma equipe é indissociável do nível de desempenho individual de seus atletas. Para estarem sempre aptos para a prática esportiva, porém, esses jogadores dependem substancialmente da saúde física. E para isso ser possível, em modalidades com tantos choques e tanta exigência quanto o futebol, é fundamental que exista uma estrutura física adequada.

Em função desse cenário, alguns times brasileiros optaram recentemente por contratar profissionais responsáveis por tudo o que acontece no departamento médico. “Eu sou médico, mas tenho um cargo administrativo aqui no Vasco. Eu faço as contratações de profissionais e gerencio o dia-a-dia do trabalho”, exemplifica Pedro Valente, cirurgião plástico em uma clínica particular e vice-presidente médico da equipe carioca.

A primeira atribuição dos profissionais responsáveis pelo departamento médico é a criação de uma rotina de atendimento. No Vasco, por exemplo, Valente tenta manter ao menos dois profissionais à disposição do clube durante todo o dia: “Essas pessoas fazem relatórios e prontuários para termos uma visão global sobre tudo que está sendo feito com os atletas”.


As lesões no futebol
O futebol é uma modalidade de exigência física extremamente complexa. Por conta disso, apresenta uma série de ameaças distintas ao físico dos praticantes. E esse cenário ainda é agravado pela quantidade de fatores que podem influenciar – clima, contato físico, chuteiras ou gramados, por exemplo. O trabalho dos médicos ligados a esse esporte tem como obstáculo a origem multifatorial dos problemas físicos. Contudo, existe um “padrão” de problemas e soluções para que os atletas não sejam prejudicados por conta de lesões.

Os problemas musculares, por exemplo, respondem por quase 40% das lesões de jogadores de futebol. Além disso, 25% têm origem em algum trauma. Essas são as preocupações mais recorrentes no departamento médico de qualquer equipe. “São as principais ameaças, sempre nos membros inferiores”, confirma Otacílio da Matta, ortopedista do Cruzeiro.

A partir das duas últimas décadas do século XX, o tratamento dessas lesões ganhou precisão e se tornou mais eficiente. Isso reduziu o tempo para a recuperação dos atletas, fazendo com que problemas que antes eram assustadores passassem a ser vistos como corriqueiros na realidade do futebol.

“Temos as lesões de ligamento cruzado anterior do joelho como exemplo. Com as novas técnicas cirúrgicas, esses problemas se tornaram menos graves. Antes, uma lesão desse tipo podia determinar o encerramento precoce da carreira de um jogador. Hoje em dia, em oito meses ele está de volta às atividades normais”, compara Otaviano Júnior, ortopedista do Atlético-MG.

Além do aumento da qualidade no tratamento, houve uma mudança radical na estrutura dos clubes de futebol para a recuperação de atletas. “A relação dos atletas com a medicina é muito próxima. Às vezes, mesmo em dias de folga, jogadores nos ligam para perguntar coisas. Eles são instruídos a não tomar nenhum remédio sem nos consultar”, diz Michel Simoni, coordenador médico do Fluminense.

Em contrapartida, outros fatores complicaram a rotina dos atletas. A evolução da preparação física e as novas concepções táticas no esporte diminuíram o tempo de reação e aumentaram a incidência de choques físicos. Isso representou um novo padrão de desafios para os médicos do esporte.

“Atualmente, a ortopedia é a especialidade mais solicitada no futebol. Trata-se de um esporte de muito contato, que gera lesões e traumas. Por isso, a principal exigência é de um trabalho de ortopedia. Só que um departamento médico precisa ter profissionais de outras áreas, como clínicos e cardiologistas”, pondera Pedro Valente, vice-presidente médico do Vasco.

Fonte: Cidade do Futebol