Futebol

Paulo Autuori sai do Vasco e ambos os lados não cumprem promessas

Em 23 de março, o Vasco parecia emergir com força de sua mais recente crise. Praticamente eliminado da Taça Rio após derrotas para Volta Redonda e Nova Iguaçu, o clube demitira o treinador Gaúcho, mas apresentava, em seu lugar, o premiadíssimo Paulo Autuori. E logo em sua chegada, o técnico campeão brasileiro com o Botafogo conquistou a todos.

Assumindo o coração cruz-maltino, Autuori falou de sua relação de infância com São Januário, criticou o conformismo e as táticas defensivas implantadas no futebol brasileiro e anunciou que termos como \"arrumar a casinha\" e \"encaixar a marcação\" estavam proibidos dali em diante no Gigante da Colina.

Além disso, o técnico comparou sua chegada à escolha de Pep Guardiola pelo Bayern de Munique. Para ele, uma opção em favor da tradição em vez de clubes que oferecessem salários mais vantajosos e estruturas mais qualificadas. Contudo, desde o início, Paulo, como anunciou que gostaria de ser chamado pelos jogadores, também deixou claro que a diretoria tinha por obrigação acertar os salários em atraso e buscar melhorias para o clube, então completamente engessado financeiramente por seguidas penhoras.

Exatos 108 dias depois da alvissareira apresentação, o resultado é completamente negativo. Demitido através de nota oficial no site do Cruz-maltino e sem aparecer em São Januário após o retorno da delegação, vinda de Caxias do Sul, para o Rio de Janeiro, Paulo Autuori encerra sua passagem com uma certeza: nenhum dos combinados foi cumprido. Por ambas as partes.

Da diretoria, os esforços não trouxeram frutos até o momento. Depois de negociar o zagueiro Dedé com o Cruzeiro para acertar dois meses de salários com jogadores e funcionários, o clube procurou a Fazenda Nacional para renegociar sua milionária dívida e obter as Certidões Negativas de Débito (CNDs). Com isso, a diretoria planejava anunciar novos patrocinadores para o clube, especialmente a Caixa Econômica Federal, empresa estatal que só pode injetar dinheiro caso o Vasco disponha da documentação.

Após rumores dando conta de acertos sempre para a semana seguinte, o clube segue sem os documentos e, com as receitas minguando a cada dia, vem passando por grandes apertos para quitar seus débitos. Primeiro, o salário de abril (pago no fim de junho) criou grande problema no elenco, quando uma questão bancária impediu que seis jogadores recebessem junto com o restante do grupo. Insatisfeitos, os atletas suspenderam um treinamento há duas semanas da reestreia do time. Na sequência, a diretoria prometeu deixar todos os vencimentos em dia até o princípio de julho. Sem condições de quitar os débitos, a diretoria viu o treinador deixar o clube.

Lado menos falado da história, Paulo Autuori também não foi capaz de cumprir suas promessas. Já em sua tão prolixa apresentação, o técnico garantiu que contratações seriam feitas para reforçar o Vasco, mas que era sua obrigação dar ao grupo de jogadores da Colina Histórica um padrão de jogo correto, visando apenas o encaixe das novas peças no decorrer do trabalho. Passados três meses, o Vasco que entrou para enfrentar o Internacional no último domingo teve atuação distante de qualquer padrão.

Já reforçado por nomes como Rafael Vaz, Edmílson e André, o Cruz-maltino sucumbiu ao talento do setor ofensivo do Colorado e os 10ºC de Caxias do Sul e foi impiedosamente derrotado por 5 a 3. No total, foram apenas quatro vitórias em 11 jogos, perfazendo aproveitamento de 42%, inferior ao do antecessor Gaúcho, muito menos baladado quanto foi efetivado como técnico da equipe no final de 2012.

Mais do que os fracos números, o estilo de jogo do Cruz-maltino nas partidas deixou a desejar em relação às palavras de Autuori. Em vez de privilegiar esquemas mais ofensivos, o treinador adotou postura bastante cautelosa em diversas ocasiões. Especialmente, o Campeonato Brasileiro algumas pílulas de um técnico preocupado em \"arrumar a casinha\". Após superar a Portuguesa na estreia da competição com os meias Alisson e Dakson em campo, o Vasco encarou São Paulo e Vitória fora de casa com meio-de-campo formado por três volantes. Resultado: duas derrotas, a primeira delas por acachapantes 5 a 1.

Autor de muitas frases polêmicas no período em que esteve no Vasco, Paulo Autuori pronunciou-se como técnico do Vasco pela última vez no desembarque da delegação cruz-maltina no aeroporto do Galeão e, além de revelar desconforto no clube, projetou o futuro do Gigante da Colina.

\"O Vasco é muito grande, tem uma história linda, uma torcida fantástica, mas tem que ser confrontado com a realidade. Esse clube transcende o futebol, as pessoas, situação, oposição. O Vasco hoje precisa de todos para tirá-lo dessa imobilização.\" Todos, menos um.

Fonte: Yahoo Esporte Interativo