Futebol

Passagem de Talles pelo Vasco é marcada por altos e baixos

Antes idolatrado pela habilidade, maior joia vascaína pós-Coutinho deixa o clube rumo ao NY City no momento em que torcida começava a perder paciência com ele. 

Nas redes sociais a notícia da iminente venda de Talles Magno para o Grupo City, de uma forma geral, foi celebrada pelos vascaínos. Obviamente a questão financeira pesou. Com uma dívida de mais de R$ 800 milhões, a negociação, que pode superar R$ 60 milhões caso algumas metas sejam cumpridas, traz oxigênio para o clube cumprir compromissos e até investir no time nos próximos meses. Mas certamente também haveria lamentação de torcedores caso o momento do atacante fosse outro.

Reflexo de uma relação curta, intensa, com altos e baixos e que caminha para um final feliz para as duas partes, mas deixa a sensação de que poderia ter sido melhor. Pela forma que surgiu, a expectativa era que Talles e Vasco conquistassem mais dentro de campo e lucrassem ainda mais na despedida. Imaginava-se receber mais até do que na venda de Paulinho (20 milhões de euros, cerca de R$ 85 milhões em 2018). Não foi bem assim.

Ele vai assinar contrato por cinco temporadas com o Grupo City, que tem vários clubes no mundo, entre eles o Manchester City. Os valores e a forma de pagamento ainda não foram revelados, mas a negociação total, com bônus por cumprimento de metas, pode chegar a US$ 12 milhões (cerca de R$ 63 milhões na cotação atual).

Os dois lados da moeda

Um ano, 11 meses e duas semanas. Ou, simplesmente, 715 dias. Foi esse o período de Talles como profissional do Vasco, desde a estreia em 2019 até segunda-feira, dia em que a negociação com Grupo City veio à tona. Período relativamente curto, mas suficiente para o jovem atacante viver de tudo um pouco em São Januário.

Talles despontou há menos de dois anos no profissional do Vasco. Aos 16, foi pinçado por Vanderlei Luxemburgo e encantou pela habilidade e objetividade logo em seus primeiros dribles na equipe.

A estreia, em 2 de junho de 2019, foi com derrota por 1 a 0 para o Botafogo no Nilton Santos. Mas houve motivo para celebrar. Na ocasião, ele superou Philippe Coutinho e se tornou o jogador mais jovem a atuar pelo clube no Século XXI com a camisa do Vasco, com 16 anos, 11 meses e 27 dias. Hoje o posto pertence a Andrey, do time sub-20.

A marca é emblemática e ilustra a trajetória de Talles na Colina. Ao mesmo tempo que seu talento é inquestionável, ficou claro, com passar do tempo, que ele pulou etapas. O jovem praticamente não jogou na categoria sub-20, despontou como sensação no profissional aos 16 anos e rapidamente virou a esperança do clube em conseguir uma venda robusta. Em pouco tempo, no entanto, sofreu três lesões importantes, teve seu nome constantemente especulado em grandes clubes europeus, caiu de rendimento, esteve no rebaixamento e conviveu com críticas pelo desempenho em campo e fora dele. Tudo isso aos 18 anos.

Início mágico

Apesar da derrota na estreia contra o Botafogo, Talles Magno caiu rapidamente nas graças do torcedor e logo foi apelidado de Talles Mágico. Seu primeiro gol saiu no dia 25 de agosto de 2019, quando teve atuação de gala na vitória sobre o São Paulo por 2 a 0, em São Januário. Em 13 de outubro, deu uma lambreta incrível em Gabriel Dias, do Fortaleza, e provocou a expulsão do adversário. Após a vitória sobre a equipe cearense por 1 a 0, deixou o gramado ovacionado pela torcida antes de se apresentar à seleção sub-17 para o Mundial da categoria.

Principal jogador da seleção no Mundial, disputado no Brasil, Talles chegou a fazer dois gols na competição, mas machucou a coxa direita nas oitavas de final e não participou da parte final da campanha que acabou com título brasileiro. Em alta, no fim de 2019 ele renovou seu contrato com o Vasco até o dezembro de 2022.

Lesões, queda de rendimento e proposta recusada

No início de 2020, o Vasco depositava toda sua esperança em Talles. Tanto no lado esportivo quando em uma venda para a Europa. Em maio, o então presidente Alexandre Campello recusou uma oferta do do Krasnodar, da Rússia. O negócio poderia variar entre 10 e 12 milhões de euros (R$ 64 milhões e R$ 77 milhões na cotação da época). A expectativa era que valores maiores chegariam, o que acabou não acontecendo. Curiosamente, a oferta russa é semelhante aos valores acordados com o Grupo City, embora detalhes do acerto ainda não tenham sido revelados.

A pandemia esfriou o mercado em 2020, mas a ausência de novas propostas também se deu pelo desempenho de Talles em campo. Em nenhum momento desde o ano passado ele conseguiu ser o protagonista que o Vasco esperava, sofreu duas novas lesões (uma no pé, em fevereiro de 2020, e outra no joelho, início do Carioca de 2021) e perdeu o encanto para parte da torcida. Hoje, recuperando-se de uma artroscopia, dificilmente voltaria como titular no time de Marcelo Cabo.

Talles deixa o Vasco com 69 jogos e cinco gols.

Fonte: Globo Esporte