Paradesporto: Conheça a história de Camille Rodrigues, atleta vascaína
Os primeiros meses de pandemia não foram fáceis para Camille Rodrigues. Trancada em casa, a nadadora paralímpica desenvolveu uma incontrolável compulsão alimentar. Ganhando peso sem perceber, a fluminense de Santo Antônio de Pádua só se deu conta da drástica mudança corporal ao ver-se no vídeo de uma reportagem para o programa Criança Esperança da TV Globo em meados de 2021. Pesando mais de 100kg e com dificuldades para emagrecer, Camille não encontrou outro caminho a não ser fazer uma cirurgia bariátrica, mesmo sabendo das consequências que poderiam surgir para a sua carreira.
Operada em dezembro de 2021, a nadadora teve uma recuperação incrível e, em três meses, já estava de volta às competições. Melhor ainda. Com 43kg a menos na balança, Camille retomou os velhos tempos do início da carreira, obtendo o índice para o Mundial Paralímpico de Manchester, na Inglaterra, que começa na próxima segunda. Aos 31 anos, a atleta do Vasco espera desfrutar do momento para atingir o seu próximo objetivo: a classificação para as Paralimpíadas de Paris 2024.
- Um pouquinho depois do Parapan de Lima 2019 eu comecei com esses comportamentos de compulsão alimentar, de comer em excesso. Eu chegava a passar mal com essa atitude. A pandemia só piorou isso, porque a gente ficou preso dentro de casa. Foram uns cinco meses sem conseguir entrar na água, porque a gente não conseguia sair. Eu sempre estive muito em forma e com a pandemia eu fui engordando aos poucos, então eu não fui percebendo, né? - disse Camille.
Nadadora da classe S9, Camille Rodrigues - que tem a perna direita amputada desde os dois anos devido a uma malformação congênita - havia participado do Mundial de Natação Paralímpica apenas uma vez. Foi há exatos 10 anos, em Montreal, no Canadá, que ela fez a sua estreia na competição. Dois anos depois, a atleta do Vasco viveu o auge quando conquistou três ouros e um bronze no Parapan de Toronto.
Apesar de ter disputado as Paralimpíadas do Rio 2016, Camille não voltou a conseguir índice para os Mundiais seguintes nem para o Parapan de Lima 2019. A queda de desempenho, aliada ao problema de sobrepeso, fizeram a nadadora iniciar a transição de carreira ao matricular-se na faculdade de nutrição. A ideia dela era aposentar-se das piscinas em breve. Até que a cirurgia mudou os seus planos.
- Então assim, foi uma coisa muito rápida, que a gente não esperava e a gente também não tinha parâmetro, porque não existiam casos registrados antes de mim. Eu acho que eu fui a primeira atleta profissional a me submeter a uma bariátrica. Tudo ainda é muito novo para mim, mas graças a Deus está dando tudo certo. A cirurgia mudou os meus planos, porque eu cursei nutrição e já estava iniciando a transição de carreira - comentou a nadadora.
Apesar do pouco respaldo científico sobre os efeitos da bariátrica no esporte de alto rendimento, Camille teve total apoio da sua treinadora, Lívia Prates. Coordenadora do núcleo de esportes paralímpicos do Vasco, Lívia confessa que ficou um pouco receosa quando a atleta lhe disse que queria fazer a redução de estômago.
- Quando ela trouxe a ideia, isso me trouxe um impacto. Eu confesso que, na verdade, eu já tinha também pensado nisso. A gente sempre fala que a gente discute muito as coisas, mas quando ela dá a palavra final, a gente está sempre junto - ressaltou.
Camille vai competir em quatro provas no Mundial de Manchester 2023: 50m livre, 100m livre, 400m livre e revezamento misto 400m. Em setembro de 2022, ela conseguiu o melhor tempo da sua vida nos 100m livre, o que só aumenta a confiança para a competição na Inglaterra.
- Hoje eu me sinto Camille Rodrigues. A gente brinca que a Camille Rodrigues ressurgiu depois de tanto tempo escondida. Mas pra mim está sendo desafiador. Eu acho que está sendo uma fase de resiliência, de conhecer de novo a Camille, de conhecer de novo como que eu sou dentro da água, superando limites. Por tudo isso, está sendo muito legal assim esse esse momento - comentou a nadadora.
Atleta já participou de clipe e ensaios
Vaidosa, extrovertida e apaixonada por dança, Camille soma 783 seguidores em redes sociais sociais, juntando as suas duas principais redes (Tik Tok e Instagram). Tal perfil levou a atleta a participar de ensios fotográficos e desfiles de moda inclusiva no início da carreira. Tempos depois, Camille foi convidada para atuar num clipe do cantor Lucas Lucco. Ela também dançou num clipe da cantora Anitta e ainda foi uma das integrantes da abertura do Fantástico gravada em 2018.
- O que eu posso dizer é que uma das minhas metas de vida é tirar os deficientes de casa. A gente está crescendo. Hoje a gente tem Fernando Fernandes, Paola Antonini... São muitas pessoas que servem de referência para outras pessoas. Quando fiquei deficiente aos dois anos eu não tive referência. Eu não tinha internet que me ajudasse a ver outras pessoas fazendo coisas que eu não sabia que um deficiente era capaz de fazer. Quando estou ali dançando eu represento milhões - disse Camille na ocasião.
Apesar da paixão pela dança e pelo mundo artístico, Camille nunca deixou a natação, seu esporte desde a infância. A fluminense começou a nadar para melhorar sua saúde. Muito rápida nas piscinas, ela impressionou seus primeiros professores, que sugeriram que fosse para o alto rendimento.
Em 2011, aos 19 anos, a nadadora já estava competindo nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, quando ganhou a prata nos 100 e 400 livre e nos 100m costas, além do bronze nos 50m livre.
- A natação é tudo para mim. Desde que eu nasci a minha vida é dentro da piscina. Foi graças a ela que eu consegui tudo o que conquistei. Quero competir bem nesse Mundial e ganhar medalhas no Parapan de Santiago, porque esse ressurgimento da Camille me fez reascender as esperanças para nadar nas Paralimpíadas de Paris 2024 - finalizou.
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