Futebol

Os descamisados

Líder do Grupo A, melhor campanha da Taça Rio, melhor ataque, melhor defesa, invicto há 14 jogos e com uma sequência de nove vitórias consecutivas. A fase do Vasco, que hoje pega o Bangu, às 16h, em São Januário, não poderia ser melhor. Fora de campo, porém, o orgulho de vestir a camisa oficial cruzmaltina virou raridade. A compra do uniforme deixou de ser prazer para se transformar em uma grande dor de cabeça para consumidores e comerciantes.

É cada vez mais difícil encontrar o artigo, inclusive nas lojas oficiais do Vasco. Os vendedores têm dificuldades para receber os pedidos, isso quando recebem. Alguns denunciam que pagaram por mercadorias que não chegaram. Outros garantem que ganharam de presente duplicatas de valores indevidos por compras que nunca fizeram. No Rio, o problema é tão sério que o empresário Vitório Vidal, que possui franquia da Boutique do Vasco, além da revenda de camisas pelo site oficial, foi obrigado a tomar uma atitude drástica.

– Cancelei todos os meus pedidos de compra da Champs – disse o empresário, referindo-se à atual fornecedora de material esportivo do Vasco, cujo contrato foi assinado em dezembro do ano passado. – Já tive que devolver dinheiro para vários torcedores porque não recebi a mercadoria que comprei. Tive mais de R$ 80 mil em títulos protestados indevidamente e deixei de faturar mais de R$ 300 mil.

Vitório entrou com uma ação cautelar na Justiça na última quinta-feira para cancelar duplicatas emitidas pela Champs por mercadorias que não chegaram a sua loja. Ele também diz sofrer com dez ações no Procon de torcedores que pagaram, mas não conseguiram a camisa.

– Devolvi o dinheiro a quase todos, mas alguns não entenderam que minha empresa não recebeu a mercadoria – diz Vitório.

No interior de São Paulo, o problema com a venda de camisas virou até caso de polícia. A 1º Delegacia de Bragança Paulista investiga uma queixa da empresa Rubinho Esportes contra a Champs, que também é fornecedora do Bragantino, por falsidade ideológica, estelionato e emissão fraudulenta de duplicatas.

– Fizeram uma duplicata de 40 e poucos mil por uma compra que eu não fiz. Quando reclamamos, disseram que tinha sido o erro de um funcionário que teria sido demitido no final do ano passado – revelou um dos sócios da empresa, Marcos César de Andrade, que poucos dias depois teve uma nova surpresa desagradável. – Depois disso, recebemos mais seis títulos com valores médios de R$ 1.400, mesmo depois de o tal funcionário ter sido mandado embora.

Segundo Andrade, que antes de procurar a delegacia tentou um acordo amigável, o seu prejuízo foi de cerca de R$ 57 mil. Indignado, seus advogados prometem pedir indenização por danos morais.

Em Salvador, o empresário Jeferson Nagata também está revoltado com o tratamento que recebeu da patrocinadora do Vitória-BA.

– Estou com vários títulos protestados por pedidos que nunca chegaram e cancelei. Ninguém de boa fé faz o que eles fizeram com a gente. E, quando a gente liga para a fábrica em São Paulo, eles não estão nem aí. É um absurdo.

Tentativa de acordo

Os problemas da Champs não surpreenderam a diretoria. Na última quarta-feira, dirigentes do Vasco estiveram em São Paulo com os diretores da Champs cobrando uma solução para a falta de camisas no mercado.

– Eles nos prometeram que até o final do mês tudo estará regularizado. – relatou o presidente Roberto Dinamite. – Fiquei sabendo de algumas coisas, até mesmo da entrada do Ministério Público. Temos um contrato em vigor e acreditamos que ele será cumprido.

O vice-presidente de futebol do clube, José Hamilton Mandarino, também espera que a empresa cumpra o que prometeu.

– Determinamos prazos para a total regularização da situação. Se isso não for feito, vamos analisar o que pode ser feito.

Fonte: JB Online