Futebol

Opinião: "Vasco para voltar a ser Vasco"

Há algo estranho no ar de São Januário. Como disse Roberto Assaf na Visão de Jogo publicada neste L!, sexta-feira, as estrelas não brilham, os reforços não somam, a base não ajuda, a diretoria não contrata craques e a comissão técnica acabou perdida no meio do turbilhão. Tudo isso é verdade, concordo. Mas convenhamos, essa coleção de fatores até poderia explicar sucessivas derrotas se os adversários fossem o Flamengo, o Fluminense ou o Botafogo, os grandes de São Paulo ou de Minas. Perder três jogos seguidos para Boavista, Resende e Nova Iguaçu, não dá. Nada disso, nem tudo isso junto, explica a má fase. Não estamos falando de um tropeço, mas de uma derrocada.

Não sou daqueles que acreditam na teoria da conspiração. Não acho que um time se organize para deliberadamente entregar um jogo para derrubar o técnico. E foi o que mais se ouviu nas rodas de torcedores no Engenhão, depois do fiasco de quinta-feira.Tem vascaíno com absoluta certeza disso. Cá para nós, precisaria que alguém tivesse muita liderança no grupo para puxar um papo assim, muita confiança no poder de persuadir todo o elenco, seja por bem ou por mal. Pela omissão ou a cumplicidade. Não daria certo.

Agora, uma outra coisa, tão imoral quanto, é a ação individual de uns e outros. Dentro do campo e nos bastidores. É irritante, e imagino o que não passava pela cabeça de PC Gusmão, ver figuras chave rendendo muito menos do que poderiam. Atacante entrando em campo de chinelinho, meia que só toca de um lado para o outro, zagueiro que assiste ao adversário invadir a área e deixa passar. Não dá para acusar ninguém de ter feito isso, para crer que tenha jogador fazendo a aposta no quanto pior melhor. Eu não ousaria fazê-lo.

Para usar um jargão jurídico, todo mundo é inocente até prova em contrário. Felipe e Carlos Alberto, por exemplo, os dois mais visados pela fúria da torcida e a mão forte da diretoria de Dinamite, estão longe de estar em forma, têm o início da temporada com calor anormal e já não são assim tão garotos. Ao contrário, às vezes parecem próximos de se transformar em ex-atletas em atividade. E isso compromete o desempenho de ambos.

Por outro lado, também é fato que a relação dos dois com PC já vinha azedada faz tempo. Era uma convivência, digamos, tolerada. Como igualmente é público e notório que fugir de polêmica e confusões nunca foi o forte dessa dupla. Tanto quanto talento, jamais faltou turbulência na carreira de Felipe e Carlos Alberto, em boa parte dos clubes por onde andaram. O clássico com o Flamengo, hoje, poderá ajudar a compreender o que se passa na Colina. A reforçar ou não a tese da premeditação.

Sem PC de um lado – Gaúcho é uma figura bem quista pelos jogadores – e Felipe e Carlos Alberto do outro, os ânimos devem serenar. E o Vasco, ou volta a jogar como Vasco, com todas as deficiências que o time realmente tem, ou deixa claro que a crise não é de convivência. Mas só de talentos. Apenas de falta de talentos.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)

Fonte: Jornal Lance