Torcida

Opinião: "Um desfile melancólico"

Um desfile melancólico

Wevergton Brito Lima*

Em comentários relativos ao meu último artigo – onde abordei o fenômeno do euriquismo degenerado – alguns leitores falaram mais ou menos o seguinte: “chega desse papo de Eurico x anti-Eurico, o Vasco é maior do que isso!” Taí, concordo. Sempre achei que os novos dirigentes não deveriam se portar como “oposição no poder”. Tinham que olhar para frente. “A preocupação deve ser administrar o Vasco, pois Eurico se transformou em assunto periférico”, era o que eu pensava e continuo com o mesmo pensamento, mas me perdoem se volto ao assunto. É simplesmente irresistível. Por exemplo, como deixar de falar da melancólica “manifestação” do último sábado, dia 09 de maio, antes do jogo Vasco x Brasiliense? Escrevo manifestação entre aspas, pois o que aconteceu foi tão pífio que a palavra “manifestação” é forte demais.

Era um sábado onde se misturavam sentimentos contraditórios. De um lado a tristeza de ver o nosso clube na série B. Do outro lado a alegria eterna de ser Vasco, de estar em São Januário, no solo sagrado que tantas gerações de vascaínos amaram, amam e amarão.

O que predominava, sem dúvida, era o segundo sentimento, e a nação vascaína, sem parar um minuto, proclamava seu amor imortal ao Vasco. Nisso, pouco antes de começar o jogo, aconteceu algo surpreendente. Eu estava na social (do lado esquerdo de quem entra) e de repente a torcida se levanta e começa a vaiar e a gritar vitupérios. Demorei um pouco a entender o que estava acontecendo, mas logo as coisas ficaram claras. Um pequeno grupo de seguidores do ex-presidente Eurico Miranda, vestindo camisetas pretas, caminhava com olhar assustado, protegido por seguranças e PMs, segurando duas faixas enquanto a massa, em uníssono, repudiava a “manifestação”.

Não dava sequer para sentir pena. Parecia um grupo de zumbis em cortejo fúnebre. Ao final da curta caminhada os mortos vivos se encolheram em um cantinho e ali assistiram acabrunhados ao show da massa vascaína. No dia seguinte, em um divertido programa de rádio dedicado ao ex-presidente, reclamaram que as vaias foram “orquestradas” e protestaram: “onde está a democracia?” É isso mesmo caros leitores, são seguidores de Eurico Miranda que clamam por democracia!

Onde estavam esses “democratas” quando o ex-presidente mandava proibir a entrada de sócios com camisetas com os simples dizeres: “Movimento Unido Vascaíno?” Hoje eles, que estão na oposição, já entraram na social até com camisetas ofendendo o atual presidente Roberto Dinamite. Porque não protestavam, esses novos democratas, quando Eurico expulsava sócios críticos a sua (dele) gestão? Aliás, não tenho a mínima dúvida que estes “democratas” seriam os primeiros a justificar o espancamento e a expulsão das sociais de qualquer um que tivesse a ousadia de levar faixas contra o ex-presidente durante seu reinado. É, portanto, com muita hipocrisia que esses “democratas”, quase chorando, exigem democracia. Na verdade, esses fantasmas, esses espíritos desencarnados, já morreram e não sabem. Ao afirmarem que a reação à “manifestação” foi orquestrada mostram que não são desse mundo, não fazem mais parte do nosso plano carnal e, portanto não conseguem sequer enxergar o enorme, o grandioso, o monumental desgaste político do ex-presidente e de seus asseclas diante da torcida e dos sócios. O que me preocupa não é a oposição, pelo contrário. Acredito que em uma instituição da grandeza do Vasco existir oposição não só é natural como saudável. O que me preocupa é que justamente hoje não existe mais oposição. Existem almas penadas que gravitam em torno do Vasco, incomodando os vascaínos com seus uivos e lamentações mas sem nenhuma proposta concreta, sem discurso coerente, sem líderes atuantes (aliás, onde estavam os zumbis chefes que não apareceram na “manifestação”?). Para terminar, gostaria de saber que democracia a mais eles querem? Eles se manifestaram. Quem não concordava com a “manifestação”, se manifestou também. Tudo sem violência e sem caça às bruxas. Ora, na verdade fica claro que quem não aceita a democracia são eles que, se têm o direito de sair das tumbas, não podem nos impedir de reclamar do mau cheiro!



SAUDADES DO SEU ANTÔNIO

Muitos vascaínos, freqüentadores de São Januário, hão de se lembrar de Antônio dos Santos Costa, mais conhecido nas arquibancadas e sociais como “seu Antônio da Pequenos”. Quem participava das caravanas de antigamente vai lembrar do seu Antônio, sempre no ônibus número 1 da Pequenos, sempre nos primeiros bancos. Os mais antigos ainda se recordam que durante muitos anos a faixa da “Pequenos Vascaínos” tinha escrito nas extremidades o nome da loja do seu Antônio: “Radiadores Novo Horizonte”. Antônio Costa veio de Portugal muito novo. No Brasil se dedicou a três paixões: o trabalho, a família e o Vasco. A paixão pelo Vasco era tanta que às vezes superava mesmo o temperamento pacífico e ordeiro do seu Antônio. Foi esse o caso quando a família dele assistiu atônita, no “Globo Esporte”, ao chefe da família, já de cabelos brancos, trocando bambuadas nas arquibancadas do Olímpico, no tempo em que as torcidas do Vasco e do Grêmio ainda não eram amigas. Em 1999, com a volta do Romário para o Vasco, seu Antônio, que ficara com ódio do baixinho por este ter declarado amor a um certo clube da Gávea, jurou que só voltaria aos estádios quando Romário saísse do Vasco. Vocês não imaginam o quanto isso custou de sacrifício ao veterano vascaíno que, no entanto, com a teimosia dos velhos patrícios, manteve a promessa. Por coincidência, a partir daí a saúde de seu Antônio começou a declinar, e no último dia 29 de abril, seu Antônio faleceu, aos 82 anos. Deixa viúva, três filhas e um filho, todos vascaínos e um deles, Silvio Roberto Abib Costa, ex-conselheiro do Vasco. Deixa também 4 netos e 3 bisnetos, maravilhosamente vascaínos, desses vascaínos da nova geração, lúcidos e apaixonados. No jogo de sábado, Vasco x Brasiliense, dizem que o placar fez uma homenagem ao seu Antônio. Infelizmente eu não vi. Tentei, junto aos meus amigos na diretoria, que fosse feito também um minuto de silêncio. Não foi possível. É pena. Seu Antônio merecia. Foram vascaínos como ele que construíram a grandeza do Vasco. Fica aqui, no entanto, minha pequena homenagem ao seu Antônio que, como bom semeador, semeou em terra fértil o amor ao Club de Regatas Vasco da Gama.


*Jornalista, 43 anos, sócio do Vasco

Fonte: SUPERVASCO.COM