Futebol

Opinião: "Garçom, a saideira"

Escrever é doloroso. Não lembro quem disse isso, mas tenho que concordar. Apesar de muitas vezes o texto sair, simplesmente sair, até se descobrir a ideia central é um longo processo cerebral. Tá, muitas vezes uma ideia pinta graças a um fato inusitado, tipo “vou falar sobre isso” e aí prefiro acreditar na tese do genial Bernard Shaw, que dizia que escrever ou é fácil ou impossível. O fato é que esta coluna que você tem agora diante dos seus olhos está sendo bem difícil, pelo menos para mim: é a última. Não a última da minha vida.

Ainda não ganhei na Mega Sena o que, quando acontecer, me fará jogar tudo para o alto e ir morar numa praia no interior da Bahia ou, por que não, numa ilha paradisíaca tal qual Marlon Brando? É minha ultima nesta fase de O GLOBO.

Foi um prazer dividir minhas opiniões e ideias com tantos leitores durante mais de meio ano, toda terça feira. Taí. Nem toda terça, como deveria ter sido, porque durante umas duas eu dei o cano e o Toninho (nosso editor) teve que se virar para colocar alguma coisa neste espaço. Aí que mora o perrengue: a minha vida tá corrida demais e o começo das filmagens do meu novo longa, em duas semanas, vai tomar a maioria das horas do meu dia. Eu não teria como manter o compromisso e sou do tipo caxias, que tem o péssimo hábito de honrá-los. Ao contrario do que disse uma vez Eurico Miranda, não acredito que um contrato seja “apenas um pedaço de papel”.

Nestes meses passei por uma Copa do Mundo. Pode ter honra maior do que escrever sobre futebol num jornal deste porte durante o mais importante torneio do popular e violento esporte bretão? Falei do Vasco, meu time assumido desde o primeiro texto, mas talvez não tanto quanto gostaria. Vai ver ele não me deu tantos motivos assim.

O fato de não acompanhar jogo a jogo o Campeonato Brasileiro se juntou à minha opção de não comentar os jogos como se fosse um colunista profissional, um jornalista esportivo, coisa que sempre soube não ser o meu objetivo maior. Enchi linguiça, mexi no baú, trouxe lembranças, como minha primeira ida ao Mário Filho, os tempos das transmissões via Rádio AM e o reencontro com Bujica, anos depois dele ter “caçado os marajás” da Selevasco de 89. Lembrei de Petróleo, esquecido centroavante do Botafogo.

Falei da descoberta da paixão futebolística pelo meu filho. Até em polêmica eu entrei. Não com a torcida rubro negra, como achei que pudesse acontecer em função da minha opção clubística, mas, pasmem, com a torcida azul do Goytacaz, coisa que foi logo esclarecida.

Termino por aqui este meu compromisso com O GLOBO, que para mim sempre teve muito mais cara de hobby do que de trabalho. Mas deixo as portas abertas e o acordo com meus “chefes” de que, caso ocorra alguma inspiração e eu tenha tempo de juntá-la à transpiração, volto, mesmo que esporadicamente. Ou seja, você pode um dia abrir o jornal e me ler por aqui.

Saio com três cariocas entre os 10 mais bem colocados do Campeonato Brasileiro, dois entre os três primeiros, coisa rara. E com o Flamengo (ano passado o melhor do Estado) lutando para não entrar na zona de rebaixamento. Entrei tendo o mau humor e a pseudo-coerência de Dunga comandando uma derrotada Seleção e saio tendo a elegância e a real coerência de Mano Meneses, com a esperança de um renovado e vitorioso escrete canarinho.

E, como passei pela Copa, me despeço com uma preocupação: como será que o Polvo Paul tem sobrevivido ao anonimato depois da fama? Será que ele se afundou nas drogas? Em breve no SuperPop.

Fiquem bem. Até já. Que pode até ser semana que vem. Vai que…

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Coluna de Bruno Mazzeo - O Globo