Opinião: A prevalência da uniformidade!
Por Marcos Peressoni
Convém não colocar panos quentes, nem minimizar os possíveis efeitos do triunfo do vascaíno Eurico Miranda, eleito para presidir o conselho-sarcófago. Eurico conseguiu uma tribuna a partir da qual vai disseminar com um pouco mais de eficácia as suas idéias sobre o clube. E, até onde se sabe, suas idéias são frontalmente antagônicas as que apregoam os atuais mandatários do clube.
Na superfície, as ondas se agitaram. Certa apreensão percorreu o oceano virtual vascaíno. Muitos vêem essa vitória como um acréscimo de sombra. Não penso assim. Acho que esta apreensão está conectada, primeiro, a uma fantasia algo irreal, na qual o ex-presidente é caricaturado como uma encarnação do mal absoluto; e, segundo, a uma idéia-princípio da ortodoxia vascaína: de que o Vasco só pode funcionar se houver unidade, ou seja, uniformidade de pensamento!
Esse agitar de ondas, essa apreensão superficial nos impede de observar este movimento fundamental: o triunfo do Eurico derrota uma das idéias-princípios da ortodoxia vascaína ou pelo menos dos que o apóiam e dos que o apoiaram no passado qual seja: que o Vasco só funciona se unido; se uma única só voz ressoar na colina silenciando todas as demais... que não há espaço para vozes singulares, polifonia, dissonância de vozes - seriam o mal absoluto no ponto de vista do vascaíno ortodoxo?
O que há de sobrevir no futuro? Se nos aguardam tempestades ou mudanças súbitas e catastróficas no clima da colina, não nos é dado saber. Mas percebe-se que a união, ou seja a uniformidade de pensamento não parece ser o horizonte provável.
Mesmo não coadunando com as idéias e posturas do ex-presidente, penso que se pode saudar seu triunfo por isso: a uniformidade de pensamento um das pedras de toque da longa noite da administração Calçada/Miranda entra em declínio com seu triunfo.
Entra em declínio, portanto, uma visão caduca do funcionamento do Vasco: a de que só podemos fortes se unidos ou seja, se houver prevalência da uniformidade de pensamento! Se houver prevalecência do horror à dissidência e se forem silenciadas as vozes singulares (que não expressam o mesmo que a nossa própria voz)! Surge uma fenda, uma brecha no rochedo da ortodoxia mental vascaína - sendo esta um certo modo \"rígido\" de apreender a realidade -; vislumbra-se uma ocasião para começar a fazer ruir a fortaleza do fundamentalismo vascaíno.
E se for como penso, se eu estiver certo, não deixa de ser irônico: o triunfo do Eurico traz em seu bojo um revês de uma das idéias chaves que permitiram sua ascensão!
- SuperVasco