Futebol

Olho tático: os problemas precoces do Vasco 2011 e suas soluções

Os desfalques e os menos de quinze dias de trabalho servem como justificativas aceitáveis para qualquer deslize num início de temporada. Além disso, o Estadual não tem o peso de outros tempos, ficando posicionado no calendário como uma espécie de extensão do período de preparação.

Ainda assim, o vascaíno tem motivos para se preocupar com o que viu em São Januário na derrota por 1 a 0 para o Resende na estreia do campeonato carioca, resultado que encerrou com uma invencibilidade de sete meses em seus domínios. Principalmente porque o time de PC Gusmão, mesmo na atuação de razoável a boa no triunfo sobre o Cerro Porteño também pela vantagem mínima no sábado, apresentou problemas táticos de difícil solução pelas características de titulares incontestáveis.

A começar por Fágner e Ramon, que são laterais ofensivos, trabalham bem com a bola, procurando as ultrapassagens em velocidade. Mas defensivamente são frágeis, instintivamente saindo à caça dos laterais/alas do adversário na intermediária e não guardando o posicionamento mais próximo dos zagueiros de área numa linha de quatro defensores. Os dois também encontram sérias dificuldades em fazer a cobertura da zaga por dentro, até porque a estatura não ajuda.

No meio-campo, Carlos Alberto está de volta. Em condições normais, PC o escalaria à frente de três volantes num 4-3-1-2 que varia para o 3-4-1-2 com o recuo de um deles para a defesa. Foi assim que o treinador trabalhou no Ceará e no próprio Vasco em 2010, exatamente para liberar os laterais como alas e o meia de ligação para encostar na dupla de ataque.

Mas o time cruzmaltino também tem Felipe. Líder, habilidoso, passe diferente, história no clube…mas marca pouco, ou quase nada. Mesmo com formação de lateral. PC vem tentando encaixá-lo como um meia mais recuado, quase um volante, pela direita.

Como Felipe não tem mais velocidade para buscar a linha de fundo, a ideia é que ele use seu pé canhoto para driblar cortando para dentro e concluir ou servir os atacantes. Tudo isso sem disputar espaços com Carlos Alberto e também Éder Luís, que ao invés de se movimentar pelos flancos para que Marcel se fixasse na área, ficou mais preso do lado esquerdo e tornou as ações ofensivas previsíveis.

Tudo isso acaba estourando nos volantes Allan e Rômulo. O primeiro, mais plantado à frente da zaga, várias vezes precisou fazer a cobertura por um dos lados como um terceiro zagueiro. E o outro, que teoricamente ocuparia o lado esquerdo do losango no meio-campo, teve que recuar pelo centro para que a entrada da área não ficasse abandonada.

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A estrutura inicial do Vasco: 4-3-1-2 com Felipe pela direita e Carlos Alberto na ligação. Laterais saem demais e sobrecarregam volantes e zagueiros.


O sacrifício cobrou o seu preço e, com o cansaço e as chances desperdiçadas, vieram as punições para os jogadores com menos “grife” entre os titulares: Allan saiu para a entrada de Misael, com o Vasco passando a atuar num 4-3-3, e Rômulo foi sistematicamente vaiado pela lentidão na saída de bola de um time desesperado atrás do gol salvador que não veio.

E no contragolpe dos visitantes que já vinha sendo ensaiado ao longo do segundo tempo, o cruzamento da direita encontrou Alexandro livre, entre Cesinha e Douglas, na frente de Fernando Prass. Fágner estava na intermediária. Como um ala, não lateral.

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O 4-3-3 do segundo tempo que abriu ainda mais o time de PC Gusmão e facilitou os contragolpes do Resende.


É óbvio que com as estreias oficiais de Anderson Martins e Eduardo Costa e, principalmente, o retorno de Dedé, melhor zagueiro do último Brasileirão, a tendência é que o desempenho defensivo, ao menos no confronto direto, melhore consideravelmente. Os progressos na preparação física e no conjunto também devem tornar o time da Colina menos vulnerável.

A questão é minimizar o aparente “descasamento” das características de laterais e meiocampistas que tornam a equipe frágil sem a bola e, até agora, sem volume de jogo e contundência ofensiva que justifiquem a manutenção da estrutura tática e do plano de jogo.

Uma alternativa seria deslocar Carlos Alberto para o ataque no lugar de Marcel. A equipe novamente ficaria sem uma referência na frente, mas teria o talento do capitão ainda mais perto da zona de decisão. Além disso, Felipe poderia voltar a jogar na ligação e a entrada de mais um volante liberaria os laterais, reequilibrando o time.

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Uma alternativa com time completo: 4-3-1-2 que alterna para o 3-4-1-2 com o recuo de um volante, liberando os laterais e Felipe para articular as jogadas procurando Éder Luís e Carlos Alberto na frente.


Vale um teste. Ou todos os possíveis num momento propício às experiências, mesmo com a pressão da sofrida e impaciente massa cruzmaltina.

A hora é agora, para mudar e reagir.

Fonte: Blog Olho Tático- ge