O dilema de "ser" vascaíno
O futebol é mesmo imprevisível, capaz de gerar situações inesperadas. Quem seria capaz de imaginar flamenguistas e tricolores torcendo juntos por uma vitória do arqui-rival Vasco? Quando o time de São Januário entrar em campo hoje à noite para enfrentar o Cabofriense a inédita situação irá materializar-se. A torcida do clube da Colina estará reforçada por uma estranha massa, ora rubro-negra, ora verde, grená e branca. Gente aflita, não apenas pela vergonhosa necessidade de querer o triunfo do inimigo, mas pela própria condição dos clubes queridos.
- É muito estranho isso. Mas temos que torcer, não é? Não tem outro jeito. Tomara que funcione. Mas triste mesmo é ver o time jogar mal como vem fazendo, isso sim é medonho. Apesar disso, seria bastante divertido ver o Vasco colocar o Flamengo na final vencendo o Cabofriense e depois perdendo para a gente no domingo. Uma festa completa. Pior é torcer para eles ganharem amanhã e depois vê-los classificados com uma vitória em cima da gente - imagina Anderson Silva Barros, gerente do bar Plebeu, no Humaitá, famoso por juntar torcedores que acompanham jogos de futebol na TV.
Hoje, rubro-negros, tricolores e vascaínos estarão lá, unidos na corrente pela vitória do time de São Januário. Mas há ressalvas também.
- Pior é torcer para eles ganharem amanhã e depois vê-los classificados com uma vitória em cima da gente. Nenhum flamenguista quer isso. Mas amanhã temos que torcer pelo Vasco, nem empate adianta para nós - lamenta Anderson.
Pouco confortáveis com a inusitada situação, flamenguistas e tricolores recorrem a figuras de linguagem. Nada de ver o Vasco vencer. É melhor o eufemismo: o que todos querem é assistir à derrota do Cabofriense, assinala o discurso uníssono dos torcedores ouvidos pelo JB.
- Gosto de torcer é pelo Fluminense. De que adianta o Vasco ganhar e nós perdermos para o Volta Redonda? O time está muito mal - reclama o designer Ricardo Luna de Oliveira.
Para o time da Gávea, uma vitória dos comandados de Renato Gaúcho é a única maneira de o time depender apenas de si para se classificar para as semifinais da Taça Rio. Para o Fluminense, o triunfo de Romário e companhia é um sopro de esperança na difícil luta pela vaga que recolocaria o clube na luta pelo bicampeonato.
- Vamos torcer, claro, mas sem nenhum entusiasmo. Quero ver se o Vasco vai ajudar o Flamengo. Acho difícil - duvida o advogado rubro-negro Marcio Martins.
Os mais racionais assumem a pouco animada torcida, mas há os ortodoxos também, que não admitem desejar uma vitória do Vasco.
- Isso vai de encontro aos meus princípios. Não torço pelo Vasco nunca, nem nesta situação - admite o segurança Sebastião Veras.
Do outro lado, vascaínos desdenham do reforço extra.
- Não acredito nesse negócio de flamenguista torcer para o Vasco. Deve até dar azar. Não quero, não - rebate o porteiro Expedito Lima.
Para o assistente de administração Paulo Sérgio Pinto, o que importa é o fim das brigas entre as torcidas.
- Temos que torcer é pela paz no futebol, pela volta das famílias aos estádios. Flamenguistas e tricolores torcendo para nós? Quem sabe não é um indício de novos tempos? - pergunta o otimista vascaíno. Que seja mesmo.