Futebol

Nenê e Carli reassumem protagonismo que havia começado em 2015

Eles foram apresentados praticamente juntos ao futebol carioca. Uma diferença de menos de quatro meses marca as chegadas de Nenê e Carli, em 2015, a Vasco e Botafogo, respectivamente. Desde então, conquistaram admiração, levantaram taças como protagonistas, foram embora, mas retornaram neste ano para ajudar os clubes na Série B. Apesar da idade avançada, os dois andam como moral com o torcedor. É o argentino, no entanto, quem está mais próximo de conseguir o acesso.

Neste domingo, às 16h, em São Januário, Vasco e Botafogo vão se enfrentar pela sexta vez no ano. Será a primeira vez na atual temporada, no entanto, que a dupla estará em campo no clássico. No encontro do primeiro turno, em julho, nenhum dos dois jogou. Nenê ainda não havia sido recontratado, enquanto Carli estava no elenco, mas não vinha sendo utilizado. O time de Enderson Moreira venceu por 2 a 0 na ocasião.

Histórias no clássico, no entanto, não faltam à dupla. Em 2016, com Carli como adversário, Nenê foi campeão carioca com o Vasco, e a final foi justamente diante do Botafogo. O meia foi eleito o melhor jogador da competição.

Dois anos depois, já sem Nenê como adversário, Carli viveu seu maior momento no Botafogo, ao marcar nos acréscimos, contra o Vasco, o gol que igualou o jogo e levou a decisão do Carioca de 2018 para os pênaltis. O Alvinegro levou a melhor, e o argentino acabou sendo o protagonista da conquista.

Depois de 12 anos fora do Brasil, com passagens por Espanha, França, Catar e Inglaterra, Nenê voltava ao Brasil em agosto de 2015 como uma incógnita - Eurico Miranda o anunciou no dia 5 daquele mês. Apesar do sucesso no PSG e de ter sido alvo do interesse de Santos e Flamengo, pouco se lembrava do jogador que surgiu no Paulista de Jundiaí e teve passagens interessantes por Palmeiras e pelo próprio Peixe.

Desafio grande. O Vasco era lanterna do Brasileirão e estava na zona de rebaixamento desde a quarta rodada. A estreia, em 15 de agosto, foi com derrota por 1 a 0 para o Coritiba, o que agravou ainda mais a crise em São Januário e culminou na queda de Celso Roth.

Com Jorginho, novo treinador, no banco e Nenê na condição de principal referência técnica, o Vasco reagiu e quase conseguiu a improvável salvação. Não saiu do Z-4 em nenhum momento, acabou rebaixado, mas o time perdeu apenas seis vezes no returno.

O camisa 10 (hoje 77) fez nove gols, participou de todas as partidas desde a chegada em São Januário e comandou o time em sete vitórias no Brasileiro e outra na Copa do Brasil, que resultou na eliminação do arquirrival Flamengo. O problema do Vasco na Série A de 2015 foi o primeiro turno terrível e o excesso de empates.

Mais protagonismo ainda em 2016 e saída com arranhões no início de 2018

O ano de 2016 confirmou o que Nenê mostrara nos poucos meses da temporada anterior. Foi eleito o craque do Carioca, terminou como vice-artilheiro do time (fez sete gols) e deu oito assistências.

Na Série B, mais destaque ainda: nove assistências e 13 gols, o que o tornou vice-artilheiro da competição, sendo superado apenas pelo centroavante Bill, à época no Ceará.

Em 2017, o número de gols foi reduzido para 13 (dois em amistosos), o nível de atuações também caiu e, alegando cinco meses de salários atrasados, Nenê pediu para deixar São Januário em janeiro de 2018. Num acordo costurado entre Vasco, jogador e São Paulo, a transferência para o Morumbi foi acertada. A saída se deu com arranhões na relação com clube e torcida.

Quarentão, Nenê volta nos braços da torcida e reacende Vasco

Apesar de a saída três anos antes ter sido levemente traumática, o retorno iniciou de maneira triunfal. Voltou com muito apoio da torcida e, aos 40 anos, rapidamente correspondeu.

Estreou bem no empate com o CRB participando do gol de Cano, marcou na rodada seguinte diante do Cruzeiro e voltou às redes contra o Brusque. Deu assistência para Gabriel Pec em noite de grande festa nos 2 a 0 sobre o Goiás e foi de longe o jogador mais gritado pelos vascaínos. No pós-jogo, regeu a galera dançando e cantando "a cada dia te quero mais".

Sua primeira atuação ruim foi contra o Sampaio Corrêa, em que esteve apagado e perdeu pênalti no fim, mas posteriormente voltou a ser decisivo na vitória sobre o líder Coritiba e no empate com o Náutico, em jogo no qual desequilibrou muito.

Tomou cartão amarelo, porém, no Recife e virou desfalque para a partida contra o CSA. O time sentiu muita falta de seu maestro e perdeu por 3 a 1. Na última quinta-feira, não jogou nada contra o Guarani, mas o saldo até então é muito positivo.

Com quatro gols e duas assistências, Nenê deu vida a um time que parecia aceitar passivamente a permanência na Série B. Se o acesso esteve palpável para o Vasco nas últimas rodadas, o torcedor tem de agradecer a Nenê.

Apesar do cenário desolador de hoje, as últimas semanas foram marcadas por festas em aeroportos no Nordeste e no Caldeirão. E Nenê sempre foi o mestre de cerimônia desses raros momentos felizes.

Joel Carli chega ao Botafogo sem badalação

Primeira contratação do Botafogo para a temporada 2016, Joel Carli fechou com o clube após o acesso para a Série A no fim de 2015. O zagueiro, que tinha feito a carreira em clubes poucos badalados do futebol argentino, deixava a terra natal pela primeira vez.

Aos 29 anos, Carli tinha passagens pelo Aldosivi, Deportivo Morón, Gimnasia y Esgrima La Plata e Quilmes, onde ficou por quatro anos até fechar com o Botafogo. Desconhecido pela torcida, o argentino conquistou os alvinegros já em sua primeira temporada no clube.

Após ter passado praticamente toda a primeira fase machucado, Carli se tornou um dos maiores responsáveis pela arrancada do Botafogo no returno do Brasileirão, formando boas duplas tanto com Emerson quanto com Emerson Silva e fazendo da defesa alvinegra uma das melhores do segundo turno. O gringo, inclusive, herdou a faixa de capitão do ídolo Jefferson.

Saída conturbada dois anos depois de ser herói em título

O bom início pelo Botafogo aproximou Carli da torcida alvinegra, mas foi em abril de 2018 que o argentino conquistou melhor status ao ser o herói na conquista do Carioca e ganhar seu primeiro título não só pelo clube carioca, mas em sua carreira como jogador.

O êxito na primeira experiência internacional - amado pela torcida e apelidado de xerife -, só foi completo com a faixa de campeão no peito. O jejum de títulos chegou ao fim aos 31 anos, e com estilo, num momento em que tinha perdido espaço no time. O capitão Carli marcou nada menos que o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, no último lance do jogo.

O gol levou a decisão para os pênaltis e proporcionou a chance de Gatito Fernandez, também estrangeiro, defender duas cobranças e consagrar o Botafogo como campeão carioca de 2018. Primeiro título da carreira logo no Maracanã, palco mais importante do Brasil.

Depois de quatro anos e bons momentos com a camisa alvinegra, Joel Carli perdeu espaço na temporada passada. O clube tentou negociar o zagueiro, mas a solução foi a saída, alegando o alto salário do argentino. Depois de muita conversa, o afastamento aconteceu veio em junho, após 154 jogos e seis gols pelo Botafogo.

Na despedida, o argentino demonstrou mágoa com a decisão. Um mês depois, Carli entrou na Justiça para cobrar salários atrasados e o pagamento referente à extensão de contrato que não foi cumprida.

Retorno como peça-chave na campanha da Série B

O tempo longe do Botafogo não durou nem um ano. Em março de 2021, Carli foi anunciado pelo clube em uma tentativa de reverter a ação milionária na Justiça. Mas a redução considerável de uma dívida de R$ 10 milhões não foi o único motivo que levou ao reencontro. A aposta também foi na experiência e liderança do xerife no caminho árduo de volta à elite do futebol brasileiro.

Depois de alguns meses sem brilho e com lesão no Aldosivi, da Argentina, Carli retornou com a missão de recuperar o condicionamento físico antes de voltar a atuar pelo Botafogo. A melhor forma física veio, mas a reestreia passou a ser adiada pelo então técnico Marcelo Chamusca, que comandou o time na primeira parte da temporada.

O retorno aconteceu de fato com a troca do comanda e a chegada de Enderson Moreira, que recuperou o capitão. A primeira chance veio nos minutos finais da vitória sobre a Ponte Preta, pelo primeiro turno. Duas rodadas depois, Carli foi titular diante do Brasil-RS com o protagonismo que estava acostumado ao marcar o único gol da vitória por 1 a 0. Marcou ainda no empate em 1 a 1 com o Goiás fora de casa.

Ao superar problemas físicos que o afastaram em alguns momentos da temporada, o argentino assumiu de vez a titularidade em momento de ascensão do Botafogo na Série B e foi considerado peça-chave na mudança de postura do time no campeonato. Com Carli em campo, a equipe melhorou os números defensivos que deram tranquilidade para a arrancada e que deixam o Bota a poucos pontos de confirmar o acesso para a Série A.

O plano de explorar a experiência de Carli deu certo. Nas 12 rodadas em que teve o xerife em campo, o Botafogo só levou gols em três delas. São nove vitórias, dois empates e uma derrota nessas partidas. Sem ele, o time jogou 21 vezes, levou gols em 13 partidas e oscilou mais: oito vitórias, seis empates e sete derrotas. Líder do elenco alvinegro, o jogador é visto ainda como um porta-voz do grupo e participa ativamente das decisões fora das quatro linhas.

A volta por cima em 2021 mostra que a história de Joel Carli com o Botafogo está longe de acabar. Ovacionado pelos torcedores nas arquibancadas, o zagueiro não se esconde em campo e está prestes a cumprir mais um ciclo importante com a camisa alvinegra.

Foto: Vitor Silva/Botafogo

Fonte: ge