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Nelsinho lembra demissão na base e comenta troca: ‘A fila anda’

Raphael Zarko

Mauro Galvão começou ontem um trabalho que Nelsinho Rosa se orgulhou de fazer no Vasco até ser demitido por Roberto Dinamite, no primeiro ano de gestão do presidente do Vasco. O “Capitão da América”, campeão da Libertadores de 1998, substitui Humberto Rocha, que foi o mensageiro da notícia que ninguém da direção do clube se dispôs a passar para o técnico campeão Brasileiro de 1989 com o Vasco.

- Acho normal que a pessoa que entre no clube queira trabalhar com pessoas de sua confiança. Mas que alguém chegasse para mim e dissesse “Olha, você está ultrapassado, queremos renovação”. Ninguém deu satisfação - lembra Nelsinho, hoje supervisor do Madureira, e que não crê em mágoa antiga do atual presidente.

Antes da demissão, Nelsinho ouviu apenas boatos de mudanças, de que havia novo diretor financeiro e notícias sobre corte de gastos. Do clube, apenas uma recomendação: passar no departamento pessoal e depois ir até a Justiça para receber do Vasco.

- Fui no Sindicato (dos Treinadores), mas não tinha ninguém do Vasco. Aí fui na Justiça. E nunca gostei de ir na Justiça - lembra Nelsinho, que ouviu comentários à época de que a demissão poderia ter ligação com o passado. Além de ter sido contratado pelo ex-presidente Eurico Miranda, em 1992 Roberto foi reserva no seu time.

- Houve comentário (sobre mágoa de Roberto), mas não acredito. Sempre nos tratamos bem, mas meu ataque em 1992 era Bismarck, Bebeto e Edmundo. Como disse, acho natural que as pessoas escolham outras e tragam seus preferidos. Só achei que faltou consideração - define Nelsinho.

Na última passagem pelo Vasco, de 2003 a 2009, Nelsinho fazia papel que vai ser de Galvão e de Clovis, ex-lateral-esquerdo dos anos 1980. Ele avaliava jogadores de todas categorias, além dos trabalhos de treinadores. Para ele, treinar um time é um dom. Nelsinho enumera qualidades: sinceridade, como foi preciso ao barrar Andrade em 1989, no Vasco; honestidade, como em 2000, quando recusou convite da direção do Flamengo para substituir o amigo Carlinhos (“se era auxiliar dele, não fazia sentido continuar”) e competência, em passagens pela seleção brasileira e por grandes times do futebol brasileiro.

Frutos do trabalho

Nelsinho reprova os ensinamentos que muitos professores de escolinhas oferecem aos garotos que começam a jogar bola hoje. Para ele, ao menos é preciso que os treinadores tentem e coibam as jogadas duras e desleais.

- Já vi jogo de infantil com jogadas muito fortes. Também tem aquelas que xingam um garoto de 13, 14 anos. É uma estupidez. Você precisa deixar um menino nessa idade criar seu próprio estilo. Se der muitas funções a ele, não vai dar certo. O primordial no início é você reconhecer o dom - lembra Nelsinho, que no Vasco ajudou na formação de Phillipe Coutinho, Alex Teixeira, Souza e Alan Kardec.

Ainda na época de Nelsinho, ele segurou o destino de outro jogador que hoje faz parte dos profissionais.

- O Marlone é da minha época. Ele teve problema de documentação e queriam que ele fosse embora, mas pedi para que se regularizasse a situação dele porque vi o talento que tinha.

Em 74 anos de vida e mais de 50 de experiência no futebol, Nelsinho não se permite sentir falta do Vasco, embora lembre do clube com saudade.

- Até hoje tenho amigos lá. Era um trabalho que fazia com prazer e sinto que deixei minha missão cumprida. E a vida continua. Foi aqui no Madureira que comecei a jogar, que fui treinador a primeira vez, que coordenei a primeira vez... Foi meu início e deve ser meu fim - diz ele, que sorri ao comentar a troca de comando no Vasco, que soube na terça-feira.

- São coisas da vida, né. Como dizem, a fila anda.

Fonte: Blog Jogo Extra - Extra