Futebol

MP pede investigação da Receita Federal sobre venda de Paulo Miranda (foto)

Cerca de US$ 4 milhões do valor da transação foram para paraísos fiscais

A Procuradoria da República no Rio de Janeiro pediu, ontem, à Superintendência da Receita Federal no estado a abertura de ação fiscal para investigar a venda do jogador Paulo Miranda, em junho de 2001, do Vasco para o Bordeaux, da França. Outra representação vai acionar a Receita Federal em Porto Alegre, cidade onde vive atualmente o empresário responsável pela transação, o franco-argelino Logbi Franck Henouda.

Reportagem do GLOBO mostrou que o Bordeaux pagou US$ 5,94 milhões por Paulo Miranda. No entanto, só US$ 2 milhões chegaram ao clube brasileiro. O jogador ficou com US$ 640 mil, enquanto os US$ 3,94 milhões restantes passaram por bancos da Suíça, dos Estados Unidos e do Uruguai, sem jamais terem sido registrados no Banco Central do Brasil ou na Receita Federal.

Pedido foi feito com base em ação contra Eurico
O pedido de abertura de ação penal, feito pelo MP, é sustentado por um processo em andamento na 4aVara de Justiça Federal, no Rio, no qual o presidente do Vasco, Eurico Miranda, e o ex-presidente Antônio Soares Calçada respondem por sonegação de contribuições previdenciárias.

Eles alegaram que o clube não tinha condições financeiras para honrar as dívidas.

Para o MP, a venda de Paulo Miranda contraria a tese de defesa, pois ocorreu na mesma época da sonegação. Se os fiscais da Receita constatarem a transação, o trabalho reforçará as provas de acusação e poderá fundamentar outra denúncia contra Eurico.

As suspeitas de evasão de divisas e sonegação ocorrem na semana em que o casal Franck Henouda e Gislaine lançam uma revista de alto luxo em Porto Alegre, a “Haute Gamme”, dirigida a um público que consome produtos classe A na capital gaúcha. A loja de Gislaine, a La Maison (que ocupa o andar térreo da casa onde fica a empresa de Henouda, a IFC), faz parte do comitê de luxo, formado por 12 empresas gaúchas.

Embora Henouda garante que ganhou apenas US$ 500 mil na venda de Paulo Miranda, documentos comprovam que ele gastou mais do que o valor na compra de imóveis meses depois da transação.



De acordo com escritura lavrada no 19oOfício de Notas, de 10 de outubro de 2001, seis integrantes da família Kraus cedem os direitos hereditários sobre o apartamento 1.301 na Rua Prudente de Morais, 1.620, com três vagas de garagem, por R$ 1,2 milhão, para a Dirgold International, a empresa de Logbi Henouda e sua mulher, Gislaine Alves de Abreu, na Rua Missiones 1.486, em Montevidéu, no Uruguai.

A Dirgold ofereceu pelo imóvel US$ 621 mil (na época, R$ 1,7 milhão) pelo imóvel, metade como sinal e a outra, após a liberação de alvará judicial, de acordo com outro documento, de setembro de 2001.

Outro documento, uma procuração em que a Dirgold é representada pela avó de Gislaine, Lúcia Maria Alves Paim Glitz, o casal compra um imóvel da Rua Santa Rita 20, em Santa Terezinha, Vacaria, terra da família de Gislaine, a 240 quilômetros de Porto Alegre.

Ouvido pelo GLOBO na semana passada, o empresário acusa o ex-sócio Flávio Almeida, com quem está rompido, de falsificar os documentos que sustentam a denúncia, para prejudicá-lo. A briga aconteceu em 2003, na venda do atacante Luiz Cláudio, do Vasco, para o Boavista (Portugal): — Flávio tentou receber sozinho metade do valor da transação (US$ 500 mil). Quando descobri, disse a ele que não o queria mais na sociedade.

Fonte: O Globo