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Marcelo Azalim fala sobre criação dos uniformes 03 da temporada 2022/2023

Desenvolvido “em casa”, em homenagem ao estádio de São Januário e às raízes portuguesas do clube, a nova coleção de uniformes do Vasco da Gama para a temporada 2022-2023 já é um sucesso, praticamente unanimidade no quesito beleza. Para Marcelo Azalim, designer responsável pela criação das camisas, o retorno positivo do lançamento e a repercussão internacional são frutos de um projeto “feito à quatro mãos”, em parceria com a fornecedora de material esportivo do clube, a italiana Kappa. 

O conjunto é composto por três versões, sendo duas de goleiro (uma preta, rica em detalhes em dourado e outra vinho escuro com detalhes em verde, parecida com a cor usada pela seleção portuguesa), além da terceira camisa na cor bege — ou melhor, off-white. 

“Desde o início a gente queria que fosse uma uniforme com aspecto sofisticado e ao mesmo tempo retrô, já que estamos tratando de uma peça que remete à tradição do clube. O dourado combina com esses dois detalhes”, conta a PLACAR Marcelo Azalim, designer do Vasco e responsável pela assinatura do uniforme. O projeto demorou seis meses para ser finalizado. 

Com o slogan de lançamento chamado “Eu sou nós e nós somos o Vasco”, a campanha ‘Origens Cruzmaltinas’ revela o orgulho vascaíno ao estádio de São Januário, que completa 95 anos, e as raízes da relação Portugal e Brasil para o clube.

Além do design sofisticado, a peça chama atenção pela riqueza em detalhes, o que remete os uniformes mais como “peças de moda”, um conceito semelhante ao das camisas do Veneza, da Itália, também produzidas pela Kappa. As peças estão disponíveis em lojas oficiais do clube por 300,00 reais.

Liberdade criativa total

Torcedores de outros clubes, acostumados a ver seus times vestindo modelos padronizados, com desenhos semelhantes ao de grandes clubes da Europa, podem se questionar: por que o Vasco tem, ano após ano, modelos tão “exclusivos”? A resposta está na inversão dos processos. Não é o clube que aprova o desenho da marca, mas o contrário.

Desde que era patrocinado pela também italiana Diadora (entre 2018 a 2020), a primeira etapa do processo de criação das camisas e dos produtos oficiais do Vasco começa a ser desenvolvido internamente. Só então, com intermédio do coordenador de licenciamento, Fábio Lima, o desenho é submetido ao aval fabril da Kappa Brasil e Itália. A partir daí, o projeto segue para os ajustes finais entre as partes.

Kappa e Vasco têm uma relação antiga e vitoriosa. A fornecedora italiana vestiu o clube entre 1997 e 2000, período glorioso da história cruz-maltina com os títulos do Campeonato Brasileiro, da Libertadores, da Mercosul, entre outros. Vinte anos depois, em 2020, as partes retornaram a parceria em um momento delicado da história do clube extra e dentro de campo.

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Os uniformes do Vasco para a temporada seguem uma mesma linha criativa, explorando o saudosismo dos torcedores. As camisas principal e reserva, lançadas em março, por exemplo, tiveram a volta da faixa diagonal, um pedido antigo de vascaínos, e já apresentavam detalhes, como os azulejos de São Januário, que foram mais explorados no terceiro uniforme. Marcelo Azalim conta que o pontapé inicial foi justamente ouvir o feedback da torcida e transportá-lo para a criação. 

“Nós temos a capacidade de representar esses detalhes que só o vascaíno conhece nos produtos. Sabemos que o que os torcedores mais têm orgulho, além da história, é São Januário. Nossas raízes fazem parte dessa camisa. É o orgulho vascaíno ali traduzido”. 

O terceiro uniforme é feito com tecido jacquard exclusivo para o clube e revestida predominantemente com elementos que remetem aos azulejos de São Januário. Já o escudo, em 3D, faz homenagem ao brasão da estátua de Vasco da Gama, ao centro da Cruz-Maltina. “O detalhe do escudo também está no estádio e pela primeira vez conseguimos aplicá-lo em um uniforme oficial. O símbolo lembra muito ao que é usado pela seleção de Portugal e era pertinente que houvesse esse link”, explica Azalim.

Outros detalhes da camisa incluem as coordenadas do estádio na parte lateral do short e no braço da camisa de manga longa e o tape interno da gola com padronagem remetendo à união Brasil-Portugal.

“A iconografia de São Januário é imensa. Vários ícones, várias peças visuais e detalhes que você consegue colocar em vários produtos. O Vasco tem um padrão visual muito tradicional e nós conseguimos, aos poucos ao longo dos anos, ir colocando novas figuras e ícones diferentes da história do clube que agradam a torcida. Cada vez mais a torcida entende que não precisa apenas do escudo e da cruz de Malta para identificar que é uma camisa do Vasco, e isso é muito bacana”, completa o designer. 

O lançamento do uniforme ganhou repercussão não apenas no Brasil mas também no exterior. Responsável pela coordenação e planejamento de marketing do clube Vinícius Mussel conta que o resultado superou as expectativas. Lojas da Europa já sinalizaram interesse na compra de estoque. “Nós estamos muito felizes e orgulhosos com o resultado final. Sinceramente a gente não esperava um resultado tão positivo assim.”

Bruno Maia, CEO da startup Feel The Match e especialista em inovação e novas tecnologias do esporte, foi vice-presidente de marketing do Vasco entre 2018 e 2019 e relembra o início deste formato de parceria, ainda na época da Diadora. “Muitas fornecedoras internacionais não trabalham com times criativos locais no Brasil e o trabalho das camisas, invariavelmente, fica sem força de identificação com o torcedor. Logo cedo, vi que o Marcelo Azalim era um talento absurdo e nos dava a condição de questionar a empresa que fornecia material à época”, conta.

“Azalim esteve à frente de uma reformulação completa da identidade visual do clube, de mascote, tipologia, pinturas no estádio, redes sociais. Como ele acompanha a marca em todos esses pontos de contato com o torcedor, no dia a dia, quando chega para fazer os uniformes, ele já está muito pronto. O clube ganha demais com isso”, prossegue Maia. “Isso não desmerece a relação com os fornecedores, que ainda são responsáveis por toda a questão de produção, qualidade de produto, acabamentos, logística e tantas outras etapas.”

Fonte: Placar