Isabella, mulher de Romário: "De pênalti não tem tanta graça"
O ditado \"atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher\" nunca esteve tão presente na vida de Romário. Prestes a completar o milésimo gol, o Baixinho vive anos dourados não só nos gramados, mas também fora das quatro linhas. Ao longo de sete anos de convívio, a esposa Isabella Bittencourt, de 28 anos, é a conselheira número 1 do artilheiro. E quem melhor conhece e respeita as manias do craque, além de ser a maior incentivadora do engajamento do jogador em projetos sociais.
Em entrevista exclusiva aos repórteres Fabrício Costa e Thiago Lavinas, do GLOBOESPORTE.COM, Isabella Bittencourt revela o lado humano do Gênio da Grande Área. Não hesita em dizer como quer que seja o gol 1.000. E conta como a vida de Romário mudou depois do nascimento da filha Ivy, portadora da Síndrome de Down.
GLOBOESPORTE.COM : Como o Romário vem se comportando na semana em que pode realizar o sonho do milésimo gol?
Isabella Bittencourt: Ele está mais ansioso do que o normal. Apesar de não demonstrar preocupação, percebi que houve até uma melhora do humor em função deste dia que se aproxima. Está bem feliz e até mais brincalhão às vésperas do grande momento da vida dele. Ele não é bem-humorado normalmente (risos), mas agora está de muito bom humor.
GLOBOESPORTE.COM : Ele sempre acreditou que chegaria ao gol 1.000?
Isabella Bittencourt: Teve uma época que pensava que não dava. Ele teve uma temporada ruim, acho que foi em 2004, quase não fez gol e já estava com uma certa idade. Se fosse naquele ritmo, ficaria difícil. Mas aí no ano seguinte ele começou a fazer gol de novo e tornou o sonho possível.
GLOBOESPORTE.COM : Contra o Flamengo o gol quase saiu no fim da partida. Ele chegou a comentar o lance quando encontrou com você?
Isabella Bittencourt: No clássico contra o Flamengo, ele não fez o milésimo por muito pouco. E foi falando comigo do Maracanã até em casa, perguntando se eu tinha visto... Lamentou o fato de aquela bola no fim do jogo não ter entrado. Falou que foi quase. Ele queria que tivesse saído contra o Flamengo. Mas depois disse que foi até bom. Ficaria mais uma semana com esse suspense.
GLOBOESPORTE.COM : Você gosta de futebol?
Isabella Bittencourt: Eu não entendo quase nada (risos). Não sei nem o que é impedimento. Já tentaram me explicar, mas não consegui entender (risos). Mas acompanho os jogos dele, pela televisão ou no estádio. Até para conversar depois. Acredito que do jogo contra o Botafogo não passa. A fase ruim dele no futebol já acabou. Teve uma época em que os gols estavam demorando a sair. Agora, acontece justamente o contrário. Por isso, a vítima vai ser o Botafogo.
GLOBOESPORTE.COM : Quando vocês se conheceram, você sabia da importância do Romário?
Isabella Bittencourt: Sim, sabia. Não acompanhava, mas sabia por causa da Copa de 1994. Morava na Suíça na época, e os brasileiros se reuniam para ver os jogos da Copa em um telão. Tinha 15 anos na época.
GLOBOESPORTE.COM : A família está preparando alguma surpresa para ele?
Isabella Bittencourt: Ainda não planejamos nada em especial. Quem sabe uma camisa festiva ou uma faixa? Mas, por enquanto, não parei para pensar nisso. É muito difícil fazer algo diferente (risos). Certo é que eu e todos os filhos do Romário estaremos no Maracanã torcendo por ele, como fizemos no domingo passado. E vamos entrar em campo para abraçá-lo quando ele marcar o gol. Depois vamos comemorar em uma boate aqui do Rio. E estou juntando jornais e revistas também para fazer um álbum.
GLOBOESPORTE.COM : Como quer que seja o gol 1.000? O Romário prefere marcar de pênalti, enquanto o Romarinho disse que vai ser de cabeça...
Isabella Bittencourt: Ah, vou discordar do meu marido. De pênalti não tem graça. E, depois, as pessoas vão dizer que o árbitro errou ao marcar a penalidade. Já disse para ele que tem que ser um golaço. Aquele gol que, de tão bonito, não vai sair da cabeça do torcedor: inesquecível pela contagem regressiva e também pela linda jogada.
GLOBOESPORTE.COM : Acha que o Romário pára de jogar depois do milésimo gol?
Isabella Bittencourt: Acho que ele prolonga a carreira até o último jogo da Copa do Brasil, no máximo. Não posso afirmar quando será o fim, mas creio que ele não tem mais paciência para disputar o Campeonato Brasileiro, por exemplo. Metade das partidas é fora do Rio. E isso significa viajar constantemente, viver em hotéis e enfrentar concentração. Ele não tem mais saco para isso.
GLOBOESPORTE.COM : O que pretendem fazer após o Romário se aposentar?
Isabella Bittencourt: A gente precisa viajar um pouco. A seqüência de jogos faz com que nos encontremos em apenas alguns dias da semana e rapidamente. Não dá tempo nem de irmos para Búzios, que é bem perto do Rio. Será bom viajar, mas depois sei que ele vai logo arrumar algo para fazer. O Romário não consegue ficar parado em casa.
GLOBOESPORTE.COM : Como é lidar com o assédio da imprensa de todo o mundo?
Isabella Bittencourt: É muita gente querendo falar com ele. Ultimamente, também tenho que marcar hora para vê-lo (risos). Só o encontro de madrugada. Nunca vi tanto jornalista na minha vida, como no dia em que ele resolveu discursar no Senado Federal. As pessoas procuram o Romário o dia inteiro.
GLOBOESPORTE.COM : O Romário é um marido romântico?
Isabella Bittencourt: Quando ele quer, ele sabe ser muito romântico. Outro dia ele me deu o maior presente. Nada material. Foi ao conceder uma entrevista. Cheguei na hora que ele estava falando de mim e vi que ele estava chorando, emocionado. Meus olhos encheram de lágrimas também. Apesar de não admitir, ele é um pouco ciumento também (risos). Passei por cima de muita coisa para ficar com ele, que é uma pessoa muito ligada à família.
GLOBOESPORTE.COM : Quais os gestos do Baixinho mais chamam a sua atenção?
Isabella Bittencourt: Acho que a vontade do Romário de sempre estar ao lado dos filhos, embora quatro não morem com a gente na Barra da Tijuca. Ele faz questão de reunir toda a família para os eventos que considera imperdíveis. Nem que seja preciso pegar um por um em cada local. Trata todos com igualdade. Procura ser o mais justo possível nas viagens de fim de ano, quando é certa a presença dos seis herdeiros.
GLOBOESPORTE.COM : Ele tem alguma mania?
Isabella Bittencourt: Várias. Ele adora gravar CDs de hip hop, mas como não sabe mexer bem no computador acaba sobrando para mim (risos). Perdi a conta de quantos discos gravei para ele. Deve ter uns 1.000 aqui em casa. Ás vezes, passo a madrugada fazendo isso. Pior é que ele escuta no carro e depois vem pedindo para gravar o mesmo CD, com as mesmas músicas, mas com ordem diferente (risos). Além disso, o Romário tem mania de colecionar tênis. Em Miami, sem exagero, ele comprou mais de 50 pares. Muitos ainda nem foram usados. Também não cansa de chegar com óculos novos em casa. Cada dia aparece com um modelo diferente. Só dorme no completo breu. Nunca de TV ligada. É detalhista em tudo o que faz: não suporta etiquetas nas camisas... Ele também tem a mania de cortar as camisas. Gosta delas curtas na cintura.
GLOBOESPORTE.COM : E o leilão das camisas do Vasco, com a contagem regressiva para o milésimo gol?
Isabella Bittencourt: Nós estamos guardando todos os uniformes. Tudo está no Vasco, mas já resolvemos que vamos usá-los para arrecadar fundos para instituições de caridade. Quero dizer as que realmente precisam, aquelas bem pobres, que não têm patrocínio. De preferência, que tenham a ver com a Síndrome de Down. Enquanto ele não tem tempo de comandar a construção de um centro de equitação terapêutica em Miguel Pereira, pretendemos ajudar as crianças especiais desta forma.
GLOBOESPORTE.COM : O nascimento da Ivy (filha do casal portadora da Síndrome de Down) foi um divisor de águas na vida do Romário?
Isabella Bittencourt: A Ivy mudou bastante a vida dele. O meu marido passou a ter mais os pés no chão. Desceu da nuvem, viu que é uma pessoa normal. Percebeu que até ele, Romário, pode gerar um ser humano excepcional, apesar de ter uma autoconfiança acima da média. Não tenho dúvidas de que o ajudou a encarar a vida de outra forma. Ele curte muito a Ivy, fica sempre colado nela. Ela é o xodó dele. Como esses dois se amam...
GLOBOESPORTE.COM : Qual mensagem gostaria de deixar para o seu marido, Romário?
Isabella Bittencourt: É importante dizer que estou muito orgulhosa de ele ter persistido no sonho de chegar aos 1.000 gols. É algo tão grandioso como o homem que tenho em casa. Isso demonstra que ele se sobressaiu na profissão. Assim como é uma excelente pessoa, com quem quero conviver para o resto da minha vida.
- SuperVasco