Futebol

Ídolos do passado relembram histórias e dão dicas para o Vasco superar momen

Na véspera de um dos jogos mais angustiantes da história do Vasco, o JB promoveu um encontro com quatro ases que brilharam nos tempos em que a cruz de malta costumava brilhar na parte de cima da tabela do Brasileiro. Um quarteto que reúne representantes dos quatro títulos nacionais da Colina. Angustiados com delicada situação do time, que tem a obrigação de vencer o Atlético-PR hoje, às 20h30, em São Januário, o presidente Roberto Dinamite e os ex-jogadores Mauro Galvão, Alexandre Torres e Acácio trocaram idéias e tentaram encontrar soluções para o time evitar a queda nas sete rodadas que faltam.

Em um bate-papo informal na praia da Barra da Tijuca, os ídolos relembraram jogos inesquecíveis, falaram sobe o sofrimento dos últimos meses, mas não perderam a confiança de que o Vasco será mais uma vez o time da virada. Experiência e conhecimento de causa é o que não faltam. Com a credencial de quem conquistou quatro títulos brasileiros, 12 Campeonatos Cariocas, uma Taça Libertadores da América e uma Mercosul, o quarteto mantém o otimismo. Aposta que o clube vai se safar do rebaixamento e irá manter ainda o simbólico segundo lugar no ranking de clubes que mais conquistaram títulos nacionais – quatro, ao lado de Corinthians e Palmeiras, mas sem a mancha dos clubes paulistas, que já visitaram a segunda divisão.

– O Vasco já está começando a reagir. Não adianta desespero, a gente vê jogadores dando declarações depois do jogo que fogem do padrão – critica o eterno capitão Mauro Galvão, campeão brasileiro em 97 e com participação na primeira parte da competição de 2000.

Mauro Galvão se refere aos atacantes Edmundo e Leandro Amaral, que questionaram publicamente o rendimento do grupo no final de alguns jogos.

– O que importa é a cobrança interna, jogar para a torcida não vale – garante Mauro Galvão.

O ex-goleiro Acácio, que jogou por nove anos no clube e foi campeão brasileiro em 89, imagina bem o que os jogadores estão passando. Em 1990, quando defendia a equipe treinada por Zagallo, o Vasco teve uma seqüência negativa de nove jogos sem vencer.

– Na época, não ficamos ameaçados de rebaixamento. Mas foi muito complicado – lembra sem saudade o ex-jogador. – Nesta hora é importante acreditar que é possível. E a demonstração que o Vasco deu contra o Goiás mostra que o time tem condições de sair dessa situação.

Para o ex-zagueiro Alexandre Torres, o problema do Vasco nesta temporada foi psicológico.

– Os jogadores precisam entender a grandeza do clube onde jogam e refletir o momento que estão vivendo. O Vasco tem condições de jogar de igual para igual com qualquer equipe neste Brasileiro – analisou Torres, que foi tricampeão carioca em 92/93/94 e no fim da carreira participou do grupo que foi campeão da Copa João Havelange em 2000.

Feridas profundas

Apesar de tudo, otimismo é o que não falta ao presidente Roberto Dinamite, que pede um novo voto de confiança após a grande exibição contra o Goiás, quando o Vasco venceu por 4 a 2 e voltou a respirar no campeonato. Mas para isso é preciso apagar do coração dos vascaínos o vexame contra o Figueirense, a derrota por 4 a 2, na última vez que o time atuou em São Januário. Em um dos dias mais tristes da trajetória do clube, vários torcedores deixaram o estádio jogando no chão as bandeirinhas que horas antes haviam servido para incentivar a equipe. Quem mais sofreu naquele dia foi o próprio Dinamite. Apesar de ter sido xingado nas cadeiras sociais, o dirigente encarou a fúria da torcida com serenidade. Não se exaltou, não retrucou e só foi traído pelo próprio olhar, fixo e desolado.

– Ninguém saiu mais triste do que eu daquele jogo, mas hoje estou acreditando. O importante é incentivar desde o começo, quando o jogador precisa de confiança - ressaltou o dirigente. – Peço ao torcedor que vá de coração aberto. Vamos enfrentar um adversário difícil, mas podemos vencer com o incentivo da torcida.

E para virar a página de vez e escrever outra à altura dos 110 anos do Vasco, o dirigente tem na ponta da língua a palavra que representa este momento.

– É união. O caminho para conquistar qualquer coisa passa por união, superação. Futebol é conjunto. Mais do que nunca estamos buscando dar tranqüilidade aos jogadores – comenta. – Quem vai tirar o Vasco desta situação são eles dentro do campo.

– Apesar da diferença de idade, alguns de vocês jogaram juntos. Que histórias engraçadas se lembram daquela época?

Acácio – Tive a felicidade de ser parceiro de quarto do Roberto durante cinco anos. Tendo um cara como ele como companheiro de quarto você só tem a ganhar... risos..

Alexandre Torres– Fala a verdade: você chegou no quarto dele e \"caramba, vou ficar com o Roberto!\"... risos

Acácio - No início fiquei preocupado se ele iria me receber bem. Na época, o Roberto já era o maior ídolo do clube. Se ele não quisesse, não ficaria no mesmo quarto que eu. Mas fui bem recebido.

Dinamite - Nunca me coloquei como um ícone, alguém acima de qualquer colega. Sempre fui parceiro. Era o torcedor que me enxergava dessa forma. Na época, o Acácio estava iniciando e dei muitos conselhos. Como ele estava começando, acho que ouviu alguns. Mas ele sempre foi um amigo.

- E como era jogar contra o Roberto Dinamite?

Alexandre Torres – Eu tenho uma boa história jogando contra o Roberto pelo Fluminense. Eu era mais jovem e estava começando nas Laranjeiras. Nas vésperas dos clássicos com o Vasco, o nosso goleiro, que era de Seleção (Paulo Vitor), me dizia para evitar as faltas perto da área. Eu era mais garoto e irreverente e respondia com certa truculência: \"Como é que vou fazer? Vou deixar o cara dominar a bola, partir para cima? Se eu encostar nele, se ele dominar a bola, o juiz já coloca o apito na boca\". Aí, o goleiro retrucava: \"Se vira, você é garoto, tem que dar o seu jeito aí, não pode fazer falta no Roberto que ele vai fazer o gol\". Toda vez que eu enfrentava o Vasco ele vinha com a mesma ladainha. Em 92, que foi o último ano do Roberto no Vasco, jogamos juntos no Brasileiro. Fizemos um bom campeonato, mas na reta final não conseguimos ganhar o título. Mas no Carioca, com o Roberto jogando como titular e liderando, o time foi campeão invicto daquele ano.

Dinamite – Estão me dando muito moral nesse negócio aí...

Alexandre Torres - O Roberto na época batia até escanteio. Foi fantástico. O Bebeto saiu e o Roberto entrou no lugar dele, jogando na mesma posição. Entrou e nem preciso dizer que a partir daí foi a arrancada para o tricampeonato.

Mauro Galvão – Era difícil jogar contra o Roberto. Ele já era um jogador consagrado. A primeira vez que o enfrentei foi na final do Brasileiro de 79. Foi 2 a 0 aqui e 2 a 1 em Porto Alegre. Na época, tinha 17 anos e ajudei o Internacional a ser campeão, o que não foi fácil. O bacana disso tudo é que com o tempo a gente vai se encontrando. Já joguei contra o Acácio, contra o Alexandre Torres. E depois a gente vai parar no mesmo time, isso é muito legal. Com o Roberto foi a mesma coisa, apesar de não termos jogados juntos. Não preciso explicar o quanto o Vasco foi e é importante na minha carreira.

- Até que ponto o Edmundo pode fazer a diferença nos últimos jogos ?

Alexandre Torres – Todo time precisa ter um jogador que seja uma referência. O Vasco tem muitos jogadores jovens que passam a bola para o Edmundo esperando que ele lidere o time. É isso que a torcida espera.

Roberto – O Edmundo é um fora-de-série, mas sozinho não vai resolver. Se todo mundo chegar junto, fica muito mais fácil para ele usar o seu talento e criatividade para fazer os gols.

Acácio– Neste momento que o Vasco atravessa, o time depende de todos, mas muito mais do Edmundo. Se ele colocar isso na cabeça, não tenho dúvidas de que o Vasco vai sair vencedor.

Mauro Galvão– A participação dele é muito importante. Mas o Vasco precisa que todos os jogadores possam jogar todas as partidas no máximo nível que puderem para o time evitar o pior.

Fonte: JB Online