Gênio forte: as marcas de Dagoberto
Baixinho, marrento e com a 11 nas costas, o Vasco talvez nunca mais vá ver nada igual. Mas um perfil de Dagoberto, ao mesmo tempo que passa longe do que no futebol convencionou-se chamar de "bad boy", também tem lá seus capítulos complicados e controversos ao longo de uma vitoriosa carreira. Dagoberto Pelentier, aniversariante do dia, completa 32 anos neste domingo, com direito a “parabéns” no Maracanã no clássico contra o Flamengo - que tanto consagrou Romário - pelo Campeonato Carioca.
Entre gols, atuações de destaque e algumas confusões, Dagoberto, ou Dagol, como é conhecido, fez seu nome no futebol brasileiro. Os cinco títulos brasileiros (um com o Atlético-PR, dois pelo São Paulo e mais dois no Cruzeiro) lhe colocam ao lado de nomes consagrados como Ademir da Guia, Andrade, César Lemos, Coutinho, Dorval, Dudu, Emerson Leão, Mengálvio e Zinho. Falta um para o reforço cruz-maltino alcançar os recordistas Lima, Pepe e Pelé, donos de seis taças.
As atuações do garoto que tem nome de rei da monarquia europeia - a mãe de Dagoberto, Adelires, é francesa - começaram a chamar a atenção no Paraná Soccer Technical Center (PSTC), de Londrina, clube que revelou Kleberson, Jadson, Fernadinho, Rafinha, entre outros. O atacante não tinha completado 15 anos quando deixou a cidade de Dois Vizinhos para morar no alojamento do PSTC. O irmão mais velho, Douglas, jogava nos juniores do time. A personalidade forte, que mais tarde lhe criou alguns atritos - o mais recente com o técnico Marcelo Oliveira, do Cruzeiro -, vinha alinhada à sua disciplina em jogos, treinos e no dia a dia no clube londrinense.
- Ele sempre teve como fator decisivo a personalidade. Desde garoto. Ele se impunha em campo. E era o mais novo do nosso alojamento, pois no nosso time infantil a maioria dos garotos eram da cidade de Londrina mesmo. E o artilheiro do time era um dos meninos daqui. Aí brinquei falando isso para ele. Dagoberto respondeu: "esse aí só faz gol em time baba. Quero ver na hora que chegar a semifinal e final. Quem vai decidir sou eu.” E dito e feito - lembra o presidente do PSTC, Mário Sigueo Iramina.
''Zangado'', mas gente boa
Casado com Thaysa, fisioterapeuta que conheceu durante tratamento de recuperação da cirurgia no joelho em 2004, ainda no Atlético-PR, o camisa 11 do Vasco usa chuteiras com o nome dos filhos - Thayna, de sete anos, e Mateus, quatro - e não foge ao perfil dos atletas religiosos. Nos momentos de lazer, é definido como um ''cara família''. Além de ser bom jogador de tênis. O jeito mais calado e introvertido algumas vezes lhe rendeu antipatia de companheiros, que confundem com certo ar de arrogância.
- Ele era um cara meio esquisito. Entrava no vestiário, não dava nem bom dia - relatou um atleta dos seus tempos de São Paulo.
O ex-jogador Washington, o Coração Valente, conhece bem o jeitão diferente de Dagoberto. Jogaram juntos tanto no São Paulo, em 2009 e 2010, quanto no Atlético-PR, entre 2003 e 2004. Mais experiente, foi ele quem indicou um dos primeiros grupos de empresários que cuidou da carreira do atacante: a Massa Sports, composta na época por Gabriel Massa, filho do apresentador Ratinho, e os irmãos Marquinhos e Naor Malaquias. E lembra bem do jeito diferente do amigo. No Morumbi, deram a Dagoberto o apelido de ''zangado''.
- Dagoberto é um pouco introvertido, fica mais na dele. Às vezes, esse jeito passava a impressão no início de que ele não era tão bom de grupo, marrento e tal. Alguns confundiam as coisas e isso provocava conflitos. Mas, aos poucos, todos iam conhecendo o Dagoberto, ele mesmo se abria mais e mostrava a pessoa bacana que é. É um jeitão particular dele mesmo. Não é muito de fazer piadas. A gente pegava muito no pé dele no São Paulo. Apelidava de marrentinho, de zangado (risos). Ele levava numa boa. Já jogamos muito tênis juntos - relembra.
Prata nos jogos Pan-Americanos de 2003 e destaque no título do Torneio de Toulon do ano seguinte com direito a gol na final, Dagoberto viveu a melhor fase da carreira justamente no Tricolor Paulista. O atacante Aloísio Chulapa recorda com carinho dessa época. Para ele, o melhor parceiro de ataque que já teve.
- É um cara mais na dele, muito concentrado e é uma pessoa maravilhosa. Além de ser um grande jogador, é um amigo que tive dentro e fora de campo. Torço muito pelo sucesso dele no Vasco - diz Aloísio, que foi revelado pelo Flamengo e passou pelo Vasco em 2009.
A descrição é compartilhada pelo ex-companheiro de Internacional e atual capitão do Vasco, Guiñazu. O argentino define o atacante como um “cara do bem”.
- Ele sempre foi muito tranquilo, na dele. Faz brincadeiras, dá suas risadas, mas é muito centrado. Do tipo de jogador que dá uma tranquilidade a mais para o grupo.
Determinado a esquecer a última temporada, quando jogou bem menos e conviveu com lesões, Dagoberto chegou ao Vasco fazendo trabalho especial de prevenção física e também pediu para a sua assessoria de imprensa evitar entrevistas e qualquer coisa que o retirasse do foco principal: jogar bola. Apesar do bicampeonato brasileiro pelo Cruzeiro, o último ano não foi dos mais felizes. No início da última temporada, ele minimizou rusgas com o técnico do Cruzeiro e alfinetou a imprensa ao dizer que não havia discutido com o treinador, como se dizia na mídia.
- Quem sabe não estão vendendo muita notícia…
Mas não era bem assim, como ficou claro na coletiva de imprensa na chegada a São Januário. Dagoberto não se referiu ao treinador em momento algum e pediu para que as perguntas sobre seu baixo aproveitamento fossem feitas para Oliveira.
Tranquilo na maior parte das vezes, o jogador chama a atenção pela espontaneidade em alguns momentos. Característica que acabou lhe rendendo a fama de polêmico por vezes. No São Paulo, em 2011, fez uma análise do time após sofrer goleada para o Corinthians e disse que a derrota por goleada - 5 a 0 para o Timão - colocava a equipe de volta à realidade depois de uma sequência de bons resultados. Líder do elenco, o goleiro Rogério Ceni discordou publicamente de Dagoberto. Pouco depois, o atacante mostrou irritação e reagiu contra a interpretação das suas palavras na imprensa.
- Se eu peidar aqui, é polêmico - afirmou, politicamente incorreto, o atual jogador do Vasco.
Encantado com o Rio e sem pensar em aposentadoria
Estrela do Atlético-PR no início da carreira, revelou recentemente que tem vontade de finalmente jogar fora do Brasil. Em mais de 10 anos de carreira, o Vasco é apenas o quinto clube como profissional de Dagoberto. E não foi por falta de propostas. Quando estava em litígio com o Furacão - a diretoria atleticana e seus antigos representantes não entravam em acordo para a renovação e o caso foi parar na Justiça, após acusações de ameaças e desentendimentos públicos -, recusou proposta do Hamburgo da Alemanha. Acabou indo para o São Paulo em 2007 e ainda passou por Internacional e Cruzeiro antes de chegar a São Januário.
No fim do Brasileiro do ano passado, Dagol pretendia sair do Brasil, mas decidiu permanecer para seu novo desafio no futebol nacional. Tirar o Vasco de um jejum de 11 anos sem título estadual motiva o atacante.
- Era uma vontade nossa (sair do Brasil após o Cruzeiro), um projeto naquele momento. Dagoberto nunca jogou no exterior apesar de várias propostas. Mas acabou não dando certo. Acho que, para sair do Brasil, tem que ser algo muito especial. Dagoberto se surpreendeu muito com o Rio. A primeira impressão dele com a cidade foi muito positiva. Se sentiu acolhido pelo Vasco - garante o atual empresário, Camargo Júnior.
Aos 32 anos, ele não pensa em aposentadoria. Encantado com a Cidade Maravilhosa, quer conquistar cada vez mais o carinho dos torcedores cruz-maltinos. Para mostrar que o ''zangado'' gosta mesmo é de fazer gols e aumentar a galeria de troféus.
- Ele sempre se cuidou a vida inteira para chegar aos 32, 35 anos jogando da mesma forma. O Guiñazu tem 36 e corre mais do que todo mundo. A palavra aposentadoria não passa pela cabeça dele. Seu objetivo é se preparar cada vez mais para poder seguir em alto nível - encerrou o agente.
Fonte: ge
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