Futebol

Fernando Mattar crê que alto número de contundidos não tem a ver com pré-tem

Os inúmeros desfalques dos clubes do Rio no Brasileirão, causados por contusões, fizeram os treinadores quebrarem a cabeça para resolver uma equação em que faltaram variáveis. Mas a lista é tão extensa que a matemática se transformou em português, preenchendo quase o alfabeto inteiro com nomes de jogadores que frenquentaram o departamento médico de São Januário, General Severiano, Laranjeiras e Gávea.

— Pelo volume de jogos, o índice de lesão é de uma certa maneira pequeno. Como este ano a coisa aconteceu muito nos times do Rio talvez tenhamos uma sensação maior — opina o médico José Luiz Runco, do Flamengo e da seleção.

Os motivos para o drama vão muito além do calendário apertado pela Copa do Mundo. A questão abrange desde o mercado do futebol nacional, que traz jogadores em fim de temporada do exterior, até o comportamento dos atletas. A Copa de 2014 acaba influenciando com o fechamento do Maracanã.

— Este ano teve lesão muscular, de trauma, foi muito atípico. Com a diminuição do calendário os campos também ficam muito ruins. Só tem o Engenhão pra três clubes. O gramado não aguenta, fica cheio de buraco. Nunca vi tanta cirurgia no Fluminense — destaca o coordenador médico do clube, Douglas Santos.

Reincidentes

O Botafogo se destacou pelas contusões mais graves, como o rompimento do ligamento cruzado do joelho esquerdo do meia Maicosuel e do zagueiro Fábio Ferreira. Vasco e Fluminense tiveram em comum o fato de ter que tratar atletas reincidentes. Os exemplos que mais chamaram atenção são Carlos Alberto e Fred. O capitão cruzmaltino teve uma lesão muscular na coxa direita duas vezes. Já o atacante tricolor repetiu o problema na panturrilha, no mesmo jogo em que voltava da lesão que o deixou parado 71 dias.

— Já foram mais de cem lesões e ainda não acabou. Os atletas que estão voltando estão se lesionando também. A recuperação está mais lenta para não acontecer de novo. Infelizmente houve um superávit — analisou o médico do Vasco, Fernando Mattar, utilizando um termo da economia para explicar o crescimento das lesões em relação a outros anos.

Médico do Flu critica campo do Engenhão

O gramado do Engenhão fez três vítimas, segundo o médico Douglas Santos, no último clássico entre Fluminense e Botafogo. Emerson, que vai ficar parado por um mês, além de Gum e Diguinho, torceram o tornozelo. Os dois últimos não são motivo de preocupação, mas as condições do campo, sim.

— O preparo do jogador brasileiro está direcionado para esse desgaste. A preparação física evoluiu muito e o futebol passou a ter muito contato. Mas por motivos como esse (gramado ruim) a tendência é que as lesões aumentem, sim — lamenta Douglas Santos.

Para agravar, o médico do Vasco, Fernando Mattar, fez uma consideração importante. Segundo ele, em clássicos aumenta o número de atletas contundidos:

— São pelo menos dois por jogo. Com isso tem que retardar um pouco a recuperação em virtude do grande desgaste. É um desequilíbrio da programação. Assim, o trabalho fica mais demorado. Uma lesão que era para ficar dez dias passa para 25 dias parado.

Apesar de as lesões musculares baterem recorde, as que mais preocupam são as torções e fraturas. Tudo por conta da evolução do futebol, que cria jogadores mais fortes e um estilo de jogo “pegado”, com choques e contato mais constantes.

— Há mais explosão e o campo fica pequeno. O jogador pega na bola e tem dois na frente. Toda hora muda de direção, isso propicia os traumas. Não é agressão do futebol, é o estilo de jogo — explica Runco, que reconhece a necessidade de um comportamento adequado dos jogadores: — O jogador tem que se cuidar. É preciso repouso por causa da carga de jogos.

Quem é mais prejudicado? \"Brasileiros\" ou \"estrangeiros\"?

Para o médico José Luiz Runco, uma boa solução para os clubes é trazer jogadores com alguma pré-temporada realizada, para evitar lesões. O que dificilmente aconteceria no caso de contratos com atletas vindos do exterior.

Dentro dessa tese está Deco, meia do Fluminense. O jogador de 31 anos veio do Chelsea com status de craque e não aguentou o ritmo do futebol brasileiro. Contra o Prudente, sofreu estiramento na coxa direita. E ao voltar duas rodadas depois diante do Cruzeiro, a mesma lesão na outra coxa. Mas, na visão de Fernando Mattar, são os jogadores “brasileiros” que sofrem.

— Não tem nada a ver com pré-temporada. O que pegou foi a lesão muscular. O tempo de recuperação passou a dobrar — disse o médico, dando exemplo de atleta “estrangeiro” que não se encaixa na regra.

— O Felipe não era exigido no futebol árabe e se recuperou de lesão em só 11 dias. E não voltou a sentir.

Fonte: Blog Jogo Extra - Extra