Falecimento de Eurico abre lacuna no jogo político do Vasco
Eurico Miranda foi tão poderoso no xadrez do Vasco que na única vez que ficou perto de levar o xeque-mate, articulou com Alexandre Campello a manobra política que impediu Julio Brant de ser eleito presidente do clube. Rei no tabuleiro vascaíno por 30 anos, foi peça derrubada somente pelo único adversário invencível que enfrentou. Depois de sua morte, nesta terça-feira, todo seu capital político ficou órfão de liderança. Não faltam candidatos para substituí-lo.
Se em São Januário ele foi rei, o príncipe nega interesse em herdar o trono. Eurico Brandão, filho de Eurico Miranda mais ativo na política vascaína e vice de futebol na última gestão do pai, afirmou no velório que dificilmente assumirá cargo no clube. Segundo ele, o desgaste é muito grande, não compensa.
- É complicado avaliar hoje. É muito difícil pensar em seguir fazendo alguma coisa no Vasco. O desgaste é muito grande, as pessoas têm dificuldade para entender as coisas. Você conviver com a incompetência é difícil. Em um campeonato de 20 clubes, só um vence e os outros são tachados de incompetentes. Hoje, é difícil. No futuro, não sabemos, no futebol tudo muda muito rápido.
Euriquinho pode mudar de ideia se o principal grupo político de apoio a Eurico se mobilizar em torno de seu nome. O Casaca, no fim do mês passado, deixou claro que será oposição a Alexandre Campello na próxima eleição e sinalizou duas hipóteses: lançar um candidato próprio ou apoiar um membro da diretoria na última gestão de Eurico. Seria a chance de Euriquinho, mas outro nome neste cenário aparece com mais força - o de Luis Manuel Fernandes.
Ex-presidente do Conselho Deliberativo, foi um fiel escudeiro de Eurico Miranda na última gestão, apesar dos perfis aparentemente opostos. Diferentemente de Eurico, o professor universitário é conhecido pelo estilo mais conciliador e político - ele foi secretário-executivo do Ministério do Esporte e nome importante na organização da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
A coesão do Casaca será posta à prova com a perda de sua principal referência, mas pode ser que o grupo siga unido e, com isso, forte nas votações vascaínas. Por outro lado, há quem aposte que ocorrerá uma fragmentação em um centro onde Eurico Miranda possuía grande influência - o Conselho de Beneméritos, do qual era presidente. Sua capacidade de mobilização ficou evidente na eleição que consagrou Alexandre Campello - o ex-dirigente acionou pessoalmente o máximo dos 150 beneméritos do clube para que confirmassem a derrota de Brant. Silvio Godói, ex-vice-presidente do Vasco com Eurico, herdará a presidência do Conselho de Beneméritos e tentará manter o legado.
Depois da morte de Eurico, não faltarão interessados em assumir o posto do dirigente como farol na política do clube. Fernando Horta, por exemplo, que rompeu com Eurico em 2017 quando o então presidente não cumpriu a promessa de apoiá-lo numa sucessão, afirmou que tentará, ao lado de outros conselheiros, proteger Alexandre Campello de possíveis investidas de afastamento. Ao citar José Luiz Moreira e Antônio Peralta, se juntou ao grupo "Vasco Independente".
- Eurico tinha muita influência, tanto que mostrou isso nas últimas eleições. Se o Campello venceu, foi tudo com o dedo do Eurico, pelo seu contato com os beneméritos, dentro do Conselho Deliberativo. Ele fazia com que o Campello tivesse tranquilidade e nós vamos juntar forças para que isso continue acontecendo. O presidente tem de cumprir o mandato, está fazendo um bom trabalho.
É numa descentralização dos grupos depois da morte de Eurico Miranda que Alexandre Campello aposta para buscar uma reeleição em 2020, algo que trata com cada vez mais confiança nos bastidores de São Januário. Sem grandes expectativas de ter o apoio do Casaca e repudiado por dois fortes grupos de oposição - Identidade Vasco e Sempre Vasco -, ele perdeu a proteção de Eurico, mas vê outro grupo sinalizar sustentação. É graças ao somatório dessas manifestações menores que ele espera seguir na presidência.
- Não é o momento de falarmos disso - respondeu, ao ser questionado como ficaria a política vascaína sem Eurico Miranda.
Outra liderança que sonha em herdar apoio com a morte do ex-dirigente é Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo do clube. Ele é visto como um nome que possui características que eram encontradas em Eurico - o profundo conhecimento do estatuto do clube e a capacidade de articulação junto aos sócios mais antigos. Apesar de serem adversários político, os dois sempre tiveram relação cordial.
Fonte: Agência O Globo