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Entrevista com Fernando Horta, candidato à presidência do Vasco

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Transformar uma empresa num “carnaval”, em geral, tem um sentido pejorativo. No entanto, se o empresário Fernando Horta fizer pelo Vasco o mesmo que fez pela Unidos da Tijuca, o torcedor cruzmaltino pode ter certeza: vai dar samba.

Presidente da escola da Zona Norte, Horta será candidato à presidência do Vasco nas eleições deste ano. De charuto em punho, ele nega qualquer semelhança com o ex-presidente Eurico Miranda, ao qual é constantemente associado.

Sócio do clube desde os anos 70, o imigrante português conversou com o JB no barracão da escola. Lá, ele admitiu que vai usar a experiência adquirida no samba, caso chegue ao poder no Vasco, mas não quis exaltar seu trabalho na Tijuca.

– Querem que eu fale que transformei a Tijuca no que ela é hoje, mas não farei isso – disse Horta, que profissionalizou a escola, ex-integrante do Grupo de Acesso e atual campeã do Grupo Especial. – Perguntem sobre isso aos funcionários da agremiação, e não a mim – diz ele.

Como surgiu a ideia de se candidatar à presidência do Vasco?

– Eu não pretendia me candidatar às eleições, até porque achei que a chegada do Roberto Dinamite seria muito boa para o Vasco. O clube nunca teve um presidente com tanto apoio popular e da mídia, mas mesmo assim ele conseguiu colocar a equipe na Série B após assumi-la na 7ª posição do Campeonato Brasileiro, em 2008.

Esta não é a primeira vez que o sr. se candidata à presidência do clube. Como foi a primeira vez?

– Isso foi nos anos 80, quando eu fazia parte de um grupo de oposição. A chapa já estava formada, mas, na última hora, nosso candidato fez um acordo com a situação e desistiu das eleições. Como precisavam de alguém para o lugar dele, pediram que eu concorresse. Eu era muito jovem naquela época, e como o Vasco é um clube de tradição, sabia que minhas chances eram muito pequenas. De lá para cá, nunca mais tive esse desejo.

Na sua opinião, o que faltou ao Roberto Dinamite para mudar a situação do Vasco?

– Faltou tudo. Nestes últimos anos, o Roberto mostrou que não tem competência para administrar nada. Foi um grande jogador e ídolo do Vasco, mais nada. Ele não administrava o próprio contrato. Quando era atleta, quem fazia isso era a Jurema, esposa dele. E todo mundo sabe que, quando a gente tem alguém que não serve para nada na família, a gente manda ele para a política. É o caso do Dinamite. Como deputado, mal posso avaliá-lo, pois não fez nada. Em todos estes anos, a única coisa que fez foi propor uma lei proibindo a venda de balas e paçocas na entrada das escolas públicas.

Muitos associam sua imagem ao ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda. Qual é a sua relação com ele? O sr. não teme ser prejudicado nas eleições pela má reputação dele diante da torcida?

– Sou amigo do Eurico, como sou amigo de qualquer vascaíno. O sangue da Cruz de Malta é sempre melhor. O Eurico deu uns deslizes e cometeu alguns erros durante sua passagem pelo Vasco, mas eu não tenho nada a ver com ele. Eurico é Eurico, eu sou Fernando Horta.

Como o sr. vê a situação do Vasco? O jejum de títulos e a queda para a Série B deixaram o clube “menor”?

– Hoje o Vasco não tem mais atitude alguma. Se continuar nesse ritmo, em breve estaremos ao lado de clubes como Bonsucesso e São Cristóvão. Sem querer desrespeitá-los, mas o Vasco é um clube grande e sempre dividiu com o Flamengo o posto de mais forte do Rio. Hoje, já nos colocam como a quarta força. E essa desculpa de que o Vasco não tem dinheiro, a tal da “herança maldita”, não cola mais. O próprio Dinamite e as pessoas que chegaram ao poder com ele disseram que havia uma fila de patrocinadores só esperando a saída do Eurico Miranda. Onde está a tal fila?

No fim dos anos 90, o Vasco era Campeão Brasileiro e da Libertadores, e era o único carioca com força nacional. Como o sr. explica a queda tão rápida?

– A queda do Vasco tem uma razão bem simples. O clube está cheio de pessoas que não têm o menor comprometimento com a instituição, alguns que estão lá eu nem sei se são vascaínos. Quem realmente frequenta o Vasco sequer sabe quem são aquelas pessoas que estão no poder hoje. Todos sabemos que o presidente de fato do clube é o Mandarino. E quem é esse tal de Mandarino? Frequento o Vasco desde os anos 60, vi jogos na social e na arquibancada, participei das festas e nunca ouvi falar dele. Também falta peito e inovação à diretoria.

Hoje, o Flamengo tem uma dívida muito maior do que a do Vasco, e trouxe Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves. Há quanto tempo o clube já não tem um grande ídolo?

Times de futebol até sobrevivem sem títulos. Sem ídolos, a torcida perde a esperança.

Por falar em contratações, o sr. foi um dos responsáveis pela contratação do Tostão, que chegou ao Vasco em 1972. Qual foi a sua participação no negócio?

– A contratação do Tostão foi a transação mais cara da história do futebol brasileiro, até aquele ano. Não fui apenas eu, mas vários vascaínos ajudaram a alcançar a cota, acho que umas cem pessoas. Na ocasião, penhorei meu salário por 15 meses para garantir uma parcela na contratação do Tostão.

Fonte: Jornal do Brasil