Dirigente do Atlético-PR critica o Vasco e outros clubes
O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia, usou o canal oficial do clube no YouTube para traçar um panorama do futebol brasileiro e criticou duramente o que chamou de "cartel" dos 12 clubes considerados como os maiores do Brasil, que incluiu os quatro principais times de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), os quatro principais do Rio (Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo), a dupla Gre-Nal, além de Atlético-MG e Cruzeiro.
Em pouco mais de uma hora de declarações, Petraglia atirou contra a gestão do Vasco, a divisão das cotas de TV e, mesmo reconhecendo a história do Botafogo, resumiu sua insatisfação com um desprezo da mídia ao clube paranaense como "ultrapassado".
"No Brasil, a imprensa, a mídia, considera 12 clubes. Nós não temos um passado de Nilton Santos, de Didi, de Garrincha. Num estado que não tem tradição desportiva, não só no futebol. Não sendo maior, temos que procurar ser o melhor", disse Petraglia, desenhando um cenário: "Nós não entendemos e não nos conformamos em ganharmos menos que aqueles clubes que nós superamos, ultrapassamos. Pegar um Botafogo: ele tem história para contar, mas não tem presente. Então ficam pagando para eles pelo passado. E quem começou agora? Morre pária? É contra esse cartel (que Petraglia luta)".
Ele seguiu: "Pegue os cariocas. Como estão os quatro? Menos o Flamengo, que está aí num projeto de reestruturação, pagando o passado. Mas não tem estádio, não tem centro de treinamento para o profissional. Então os outros três, sem demérito nenhum, instituições centenárias que ajudaram o futebol brasileiro, mas numa análise atual, o Vasco: São Januário acabou. Politica, econômica, financeira e patrimonialmente (destruído)".
Cartola alerta Palmeiras: "nova Unimed"
O dirigente atleticano também falou do futebol de São Paulo: "Corinthians com problemas seríssimos. O Santos é um clube do interior, com todo respeito ao grande Pelé, e hoje o Santos é muito mais o Santos do Pelé, do que o Pelé do Santos. São Paulo, perdeu o trem bala da Copa do Mundo e perdeu-se. Tem o Morumbi, que precisa ser reformado. Tem um CT muito bom, mas é separado. O Palmeiras é uma grande instituição também, tenho grandes amigos lá, vem numa recuperação grande, mas me parece uma Unimed no Fluminense. De repente foi embora, por que não lhe convinha mais a parceria, e aí?".
Petraglia vê a Arena da Baixada como o grande trunfo para o clube romper o circuito do chamado G12, especialmente pelo fato de o clube não ter nenhuma construtora envolvida na obra. "É o único clube que não tem empreiteiro. Falam que o Atlético deve, 200, 300, 400 milhões; mais cedo ou mais tarde todo mundo vai ficar sabendo qual é o saldo devedor. Temos propriedades para pagar com sobras isso. Alguns (clubes) fizeram, mas estão dependentes por décadas dos seus parceiros. Caso do Palmeiras com a WTorre, do Grêmio com a OAS, do Internacional com a Andrade Guitierrez, do Corinthians com a Odebrecht. Nós não temos. Tivemos o apoio e a compreensão, foi um trabalho recíproco, nós ajudamos a comunidade, a cidade e o Estado, a vir a Copa do Mundo, e eles nos ajudaram a construir o estádio. Foi um ganha-ganha. E não teve, nem poderia ter, Lava Jato na nossa vida".
Para Petraglia, o Atlético já poderia ter coroado sua gestão com um título internacional, caso pudesse ter jogado a final da Libertadores contra o São Paulo, em 2005, em casa. "Aquele sistema que trabalhou muito contra nós em 2004, 2005, quando não fomos bicampeões, quando não nos deixaram jogar aqui na Libertadores... hoje esse povo está morto... de vergonha, né, por que alguns já morreram e devem estar lá no inferno, pagando seus pecados, e outros foram presos e não podem sair do Brasil", disse, sem citar nomes.
O cartola reconheceu, entretanto, que o desempenho do futebol está abaixo do discurso de modernidade. "Quando se fala hoje em Atlético Paranaense, o que é que vem na cabeça das pessoas? Não é o time de futebol; é modernidade. É capacidade, gestão. Por isso estamos numa fase de reestruturação do clube, inclusive em seus estatutos, visando buscar um parceiro. A revisão da Ernst & Young está buscando mudar também todos os conceitos no futebol. O Atlético não está no mesmo nível, no futebol, do seu patrimônio. Nós não somos o maior e mais rico clube das Américas no futebol. Somos em patrimônio."
Petraglia não prometeu títulos, mas garantiu que o Atlético será visto nos próximos anos como um candidato às principais taças no Brasil, com uma metáfora: "Meu pai ouvia na passagem do ano a corrida de São Silvestre; nós estamos na reta da Paulista. O resto já foi. Já subimos a Consolação, a Brigadeiro Luiz Antônio... aquelas subidas, já passou. O sprint é agora". O cartola, que assumiu as rédeas do clube em 1995, não colocou prazo para deixar o comando: "Esse projeto, ele não termina nunca. Ele vai se modificando".