Futebol

Diretor do futebol feminino sobre salários: "Não atrasou um único minuto"

Sete meses depois da paralisação do futebol devido à pandemia, está chegando a hora de o Vasco reencontrar os gramados. Neste sábado, às 15h, a equipe recebe o Atlético-MG pela segunda rodada do Brasileirão Feminino A-2. Em entrevista ao ge, o diretor Raphael Milenas, deu detalhes da rotina no clube em meio à crise sanitária.

Até o momento, cinco atletas do Vasco testaram positivo para covid-19. O clube não revela nomes, visto que as jogadoras não autorizam e algumas são menores de idade. O Vasco instaurou protocolos de saúde e uma rotina de testes desde o início da pandemia. A partir desta semana, com o retorno da Série A-2, o clube fará também os exames fornecidos pela CBF.

Mesmo com a paralisação do futebol, o clube seguiu rigorosamente em dia com a equipe feminina. Um problema no setor financeiro do Vasco retardou o recebimento do auxílio de R$ 50 mil da CBF, mas a questão foi resolvida. O diretor Raphael Milenas desejou que a quantia fosse maior.

- A ajuda da CBF poderia ter sido um pouco maior, porque nossa briga é sempre para melhorar. Mas sem esse auxílio, a gente não teria conseguido fazer isso. Tudo foi usado para acertar a situação financeira do elenco - disse ao ge.

- Se existe um departamento no Vasco que está rigorosamente em dia é o futebol feminino. O salário delas não atrasou um único minuto.

Advogado por formação, Raphael Milenas é associado ao Vasco desde 2005 e foi eleito conselheiro pela primeira vez em 2014, na gestão Eurico Miranda. Sob o comando de Eurico, Raphael foi diretor do Departamento de Relações Especializadas - que cuida, por exemplo, do Centro de Memória e do museu do clube.

Reeleito conselheiro em 2017, Raphael migrou para o comando do time feminino de futebol em junho de 2019, a partir de um convite do presidente Alexandre Campello.

- Isso é engraçado. Nunca tinha trabalhado com futebol, me formei em Direito. Confesso que aceitei de primeira, sou um curioso de natureza. Mas não aceitei por aceitar. Pesquisei, fiz cursos, me dediquei, participei de várias reuniões metodológicas com o pessoal da base. Antes de aceitar, me capacitei para o desafio - declarou.

De junho de 2019 até hoje, as principais mudanças no Vasco foram estruturais. A comissão técnica, então com seis membros, cresceu para 15 pessoas. O número de atividades por semana duplicou - antes, eram três treinos, e hoje, são quatro dias de treino e dois de academia.

- Quase não tínhamos material. Fui adquirindo material e estrutura para as meninas. Participei diretamente. Com o presidente Alexandre Campello, disse que é necessário que elas tenham um campo exclusivo, que está sendo construído no CT de Caxias. Hoje, elas já têm um ônibus para transporte de São Januário para o CT, uma nutricionista que até então não tínhamos. Foi todo esse choque - revelou Raphael Milenas.

Outros tópicos da entrevista com o diretor Raphael Milenas:

- Patrocínios exclusivos e espaço para o futebol feminino

Eu acho que o futebol feminino precisa do seu espaço. A gente tem que partir por esse caminho: patrocinadores exclusivos, direitos de transmissão exclusivos. Busca por campeonatos junto à CBF. Temos que buscar novos horizontes, horários. É o que eu sempre falo, não podemos querer competir com o masculino, que já é consolidado. Temos que brigar pelo espaço do feminino, e para isso a gente precisa de alternativas. Mas é possível, porque tem gente querendo assistir. Só precisamos de algo atrativo e com horários que não coincidam com o masculino.

- Relacionamento entre os quatro grandes do Rio

Nós, no feminino, temos uma boa conversa com todos os grandes clubes do Rio de Janeiro. Todos os clubes são muito coesos, principalmente a dupla Fluminense e Botafogo, na questão do horário alternativo. Precisamos trazer o futebol feminino para um horário que chame a família, a criançada. Nos finais de semana, de manhã. Pode ser às 11h, ou às 9h, 10h da manhã. Porque aí você acostuma a família, estádio cheio, uma série de coisas nesse sentido.

- Eleição no Vasco e o futuro do futebol feminino

Eu posso falar só por essa gestão. A gente está com um planejamento de, a cada ano, melhorar um pouco mais - seja em estrutura, investimentos… Há um cronograma para isso. O que vai acontecer depois da eleição, não sei. Espero que o presidente Alexandre Campello ganhe e nós possamos continuar o trabalho aqui. Costumo dizer que as meninas do futebol feminino são minhas filhas. Caso ele não tenha êxito na reeleição e outro candidato assuma, me coloco à disposição para fazer a transição no sentido do melhor caminho para o clube. Tenho esse compromisso e se for preciso reconheço firma no cartório, sem problema nenhum (risos). Acho que o importante, nesse sentido, são as atletas e o Vasco.

Fonte: ge