Futebol

Dedé revela que sua carreira poderia ter acabado precocemente

Um dia após ser convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, Dedé fez questão de voltar ao lugar onde tudo começou e agradecer pessoalmente aos que sempre estiveram ao seu lado durante a sua trajetória no futebol. Nascido e criado em Volta Redonda-RJ, o zagueiro do Vasco pegou o carro após o treino da manhã desta terça-feira e foi para sua cidade. A visita não é novidade - sempre que pode, ele volta para passar um tempo com a família -, mas, em uma semana tão especial, foi inevitável lembrar de todos os passos que deu até alcançar o grande sonho.

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E quem acha que ele desde cedo já pensava em ser o melhor zagueiro do Brasil, como canta a torcida vascaína sempre que entra em campo, está enganado. Os primeiros passos de Dedé no futebol, dados em uma quadra de cimento no bairro Parque das Ilhas, foi também com o objetivo de evitar gols. Mas, neste caso, com as mãos. Isso mesmo: Dedé foi goleiro dos oito aos 11 anos. A confiança no próprio taco é tanta que ele acredita ser melhor do que a Muralha da Colina Fernando Prass. Pelo menos nas quadras.

- Em campo eu não sei, mas era um goleiro dos bons mesmo. Comecei lá em função da minha estatura e fui me desenvolvendo. Chegaram a querer me levar para agarrar, mas de uma hora para outra mudei minha cabeça e fui para linha. Joguei um tempo como volante até virar zagueiro com 14 anos - relembrou.

Falando rapidamente, a trajetória até parece simples. Mas tudo na vida de Dedé foi alcançado através de muito esforço e sofrimento. Até despontar no Carioca de 2009 como o terceiro melhor zagueiro da competição vestindo a camisa do Volta Redonda, Dedé suou muito. E perambulou também. Primeiro em escolinhas locais, depois na base do Voltaço. Em seguida, passou alguns meses treinando no Fluminense. Ali parecia que a carreira poderia engrenar. Mas o apego aos familiares, principal característica do zagueiro, falou mais alto. E ele teve de voltar.

- Eu estava com 18 anos e tinha ido bem nos treinamentos. Cheguei a ter oportunidades como titular no Fluminense. Mas sempre que tinha uma chance eu voltava para ficar com minha família aqui em Volta Redonda. E isso começou a me atrapalhar. Foram muitas faltas e atrasos em treinos e essa indisciplina acabou me prejudicando - reconhece.

No retorno ao Volta Redonda, mais duas situações que quase encerraram a carreira de maneira precoce: um teste mal sucedido no Udinese, da Itália, e uma dispensa das categorias de base do próprio Voltaço. Na ocasião, Dedé foi acusado de ter deixado a concentração para ir a uma boate. Ele garantiu ser inocente e voltou ao clube quando ficou provado que não tinha culpa no cartório. Daí para frente os percalços ficaram para trás e hoje em dia ele se orgulha de ser mais um filho da cidade que deu certo.

- Vivi momentos difíceis. Fui crucificado aqui no Volta Redonda. Era novo e achei que tudo estaria acabado. Mas depois tudo se acertou e hoje eu vejo isso como fonte de motivação. E quem sempre esteve ao meu lado foram os meus familiares, minha namorada e meus amigos. Por isso não posso deixar de agradecer, não posso esquecer minhas raízes... A garra da minha mãe foi incrível. Por isso sempre fui apegado e sempre vou ser - afirmou Dedé, que virou fonte de inspiração para os jovens das categorias de base do Volta Redonda que sonham em repetir os seus passos.

- Quando tenho tempo vou lá e procuro ter um contato maior com eles. Converso, passo palavras de incentivo e levo chuteiras também, porque sei das dificuldades. O Felipe Melo, que é meu vizinho, me presenteava com chuteiras e me sinto na obrigação de fazer o mesmo. Saber que sou um espelho me motiva para continuar a crescer e virar um herói de verdade. E meu maior conselho é que eles vivam o dia a dia no clube com intensidade. Sempre. Isso faz a diferença - afirmou.

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Enquanto Dedé relembrava cada passo de sua carreira, sua mãe, dona Maria Helena, escutava atentamente cada palavra. E era nítido em seus olhos a emoção. Afinal de contas, a mãe acabava sofrendo até mais que o filho em cada percalço. E além dos que os citados pelo zagueiro vascaíno, Maria Helena relembrou ainda outra tentativa frustrada de entrar no mundo do futebol: uma viagem que durou três dias apenas até Santo André quando ele tinha 13 anos.

- Um olheiro disse que iria colocá-lo no futebol paulista e levou o Dedé de ônibus. Era uma terça-feira. Na quinta ele me ligou dizendo que queria voltar. Eu não tinha dinheiro, mas fui pedindo emprestado até conseguir comprar uma passagem para buscá-lo lá. Quando ele diz que é apegado a nós da família não está aumentando uma virgula. E eu sempre fiz de tudo para que ele pudesse ter sucesso. E hoje estamos todos muito felizes. Agora é comemorar - afirmou ela, que só se preocupa quando Dedé pega o carro e encara as mais de duas horas de estrada depois dos jogos para passar a noite com a mãe.

Fonte: ge